quinta-feira, 28 de março de 2013

Burrice é eufemismo

Importante colaborador do governo, que preside, como voluntário, a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade da Presidência da República, órgão consultivo do Palácio do Planalto, declarou, em entrevista ao UOL e à Folha, que o Brasil precisa "trabalhar com meia dúzia de ministérios ou coisa desse tipo" e não com as 39 existentes na administração pública. Ele afirmou que teria dado um "toque" na presidente sobre a necessidade de promover redução da quantidade de ministérios, mas, por questões políticas, o seu aconselhamento não foi levado em consideração, permanecendo a inadmissível estrutura na Esplanada. Na sua avaliação, "tudo tem o seu limite. Quando a burrice, ou a loucura, ou a irresponsabilidade vai muito longe, de repente, sai um saneamento, está certo? Então, eu diria assim, que nós, provavelmente, estamos no limite desse período". Ele também disse que somente quatro ou cinco instituições públicas brasileiras têm "estrutura de meritocracia e profissionalismo" que funcionam, a exemplo do Banco do Brasil, Banco Central, Itamaraty, Exército e BNDES. Com base em experiência empresarial, ele declarou que "dentro da estrutura brasileira, o conceito de política atrapalha bastante a gestão" e a solução para essa grave questão deve ser procurada nas realidades existentes no país. Ele entende que a gestão pública brasileira já avançou um pouco quanto à eficiência, mas o país somente terá planejamento competitivo, de forma ampla, no prazo superior a dez anos. Embora as lições de especialistas sejam contrárias ao inchamento da máquina pública, por enxergar que o complexo ministerial induz necessariamente à ineficiência e ao descontrole das políticas públicas, resultando dispersão de comando e de objetividade do Estado, que não consegue cumprir com exatidão a sua missão constitucional, haja vista que a estrutura da Esplanada está preparada exclusivamente para o atendimento de fins políticos, oportunizando a expansão da máquina pública, com a criação de ministérios para agradar aliados e assegurar seu apoio na coalizão de governo, como instrumento claro e indecente de mecanismo de troca, em pagamento da confiança política, visando tão somente à perpetuação no poder, em detrimento da eficiência administrativa e da preservação dos princípios da ética e moralidade que são exigidos dos homens públicos, na condução dos negócios de interesse da sociedade. Até então, sempre foi normal o governo ser tachado de incompetente e de burro pela sociedade que paga os pesados tributos, ante a evidente demonstração de incapacidade para tratar os assuntos de Estado com a indispensável eficiência, mas não deixa de ser surpreendente e até auspicioso que integrante do próprio governo, de alta relevância em termos de assessoramento e de qualificação técnico-especializada, venha considerar burrice a criação de ministério, por vislumbrar a falta de preocupação com a objetividade e economicidade das ações do Estado. Na realidade, nos últimos tempos, o uso da máquina pública tem servido para assegurar a consolidação de alianças espúrias do governo com os partidos de sustentação da sua base política, sem o mínimo de pudor quanto à eficiência, aos fins do Estado e à decência que tem que ser demonstrada na gestão dos recursos públicos, ficando patenteada a mera vocação de negociata, visando à satisfação de interesses pessoas e partidários, em flagrante prejuízo ideológico político de ser conduzida a coisa pública em estrita observância aos princípios da ética, probidade, legalidade, economicidade, eficiência, eficácia, transparência etc. A sociedade tem o dever cívico de repudiar, de forma enérgica, as burrices dos governantes, sob pena de contribuir positivamente, ante a sua leniência, com os abusos e as infringências aos princípios essenciais da administração pública, para o crescente subdesenvolvimento da nação. Acorda, Brasil! 
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 27 de março de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário