segunda-feira, 25 de março de 2013

Lamentável insensibilidade

Na contramão dos lastimáveis acontecimentos, em que o Estado mostra, mais uma vez, verdadeira negligência, ao permitir que acidentes da natureza se transformem em tragédia, a presidente da República vai participar hoje à tarde, juntamente com o governador do Rio de Janeiro, de missa em Petrópolis (RJ), em memória das vítimas das chuvas na região serrana daquele estado. Há muito a ser lamentada, em razão das mortes absurdas e irreparáveis de 33 pessoas, que foram incapazes de resistir à tragédia causada pelo temporal que arrasou a cidade de Petrópolis, deixando rastro marcante de destruição de vidas, bens materiais, desabrigados e insegurança quanto ao futuro das pessoas afetadas pelo desastre da natureza, agravada pela incompetência e falta de sensibilidade das autoridades públicas, que nada fizeram para evitar mais esse trágico acontecimento, embora elas fossem alertadas e eram sabedoras sobre os riscos de deslizamentos de encostas, conforme estudo específico, elaborado com a finalidade de serem evitadas novas perdas de vidas e de prejuízos à população, tendo em vista os fatos terríveis ocorridos em 2011, quando foram contabilizadas mais de 900 mortes na região. O estudo foi levantado durante quatro anos, de 2007 a 2010, ocasião em que geólogos e engenheiros percorreram a região e analisaram o terreno, sob os aspectos de inclinação, altitude e áreas por onde a água da chuva escoa, tendo concluído pela elaboração de mapas dos riscos, mostrando as áreas de muito alto risco e a urgente necessidade da remoção das pessoas do local, dando a entender que, a qualquer momento, nova tragédia poderia acontecer. Não obstante, como nada foi providenciado, a não ser a perda de quatro anos de trabalho e do dinheiro dos bestas dos contribuintes, que foi jogado pelas enxurradas das chuvas, a anunciada tragédia aconteceu, evidentemente por falta de seriedade e de responsabilidade das autoridades, que ainda têm a cara-de-pau de comparecer à cerimônia de missa em memória das vítimas, quando deveriam estar nos seus palácios, trabalhando e lamentando a sua culpa pela inépcia, omissão e leniência com as perdas de preciosas vidas, que poderiam ter sido evitadas se fossem levadas a sério as medidas preconizadas para as áreas de risco. O mais grave é que a presidente e demais autoridades irresponsáveis ainda têm a indecência de, após a missa, participar de uma reunião na Prefeitura de Petrópolis, certamente para chorar o leite derramado, porque a tragédia é irreparável. Diante da gravidade dos fatos, são risíveis as medidas efetivamente implantadas nas áreas de risco, consistentes na instalação de alarmes sonoros, as chamadas sirenes, que têm por finalidade alertar a população sobre iminente risco de desabamentos, que, às vezes, chegam antes que as pessoas saiam às ruas. Parece até piada, em se tratando da preservação de vidas humanas, quando, no caso, se exige que as pessoas sejam retiradas impiedosamente das áreas de risco, mediante o poder de polícia de competência do Estado, para aqueles que se mostrarem resistentes às medidas drásticas de evacuação da área. A sociedade anseia por que seja aprovada legislação realista e eficiente, capaz de enquadra no crime de responsabilidade os governantes e as autoridades públicas incompetentes, hipócritas e insensíveis às tragédias nacionais, de modo que eles possam perder seus cargos imediatamente e ficar inelegíveis para cargos públicos em definitivo, como forma de alertar os homens públicos para a necessidade de cumprir as funções públicas com dignidade e respeito às vidas humanas e ao patrimônio da nacionalidade. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 25 de março de 2013

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