Na contramão dos lastimáveis acontecimentos,
em que o Estado mostra, mais uma vez, verdadeira negligência, ao permitir que
acidentes da natureza se transformem em tragédia, a presidente da República vai
participar hoje à tarde, juntamente com o governador do Rio de Janeiro, de
missa em Petrópolis (RJ), em memória das vítimas das chuvas na região serrana
daquele estado. Há muito a ser lamentada, em razão das mortes absurdas e
irreparáveis de 33 pessoas, que foram incapazes de resistir à tragédia causada
pelo temporal que arrasou a cidade de Petrópolis, deixando rastro marcante de
destruição de vidas, bens materiais, desabrigados e insegurança quanto ao
futuro das pessoas afetadas pelo desastre da natureza, agravada pela incompetência
e falta de sensibilidade das autoridades públicas, que nada fizeram para evitar
mais esse trágico acontecimento, embora elas fossem alertadas e eram sabedoras sobre
os riscos de deslizamentos de encostas, conforme estudo específico, elaborado
com a finalidade de serem evitadas novas perdas de vidas e de prejuízos à
população, tendo em vista os fatos terríveis ocorridos em 2011, quando foram contabilizadas
mais de 900 mortes na região. O estudo foi levantado durante quatro anos, de
2007 a 2010, ocasião em que geólogos e engenheiros percorreram a região e
analisaram o terreno, sob os aspectos de inclinação, altitude e áreas por onde
a água da chuva escoa, tendo concluído pela elaboração de mapas dos riscos,
mostrando as áreas de muito alto risco e a urgente necessidade da remoção das
pessoas do local, dando a entender que, a qualquer momento, nova tragédia poderia
acontecer. Não obstante, como nada foi providenciado, a não ser a perda de
quatro anos de trabalho e do dinheiro dos bestas dos contribuintes, que foi
jogado pelas enxurradas das chuvas, a anunciada tragédia aconteceu,
evidentemente por falta de seriedade e de responsabilidade das autoridades, que
ainda têm a cara-de-pau de comparecer à cerimônia de missa em memória das
vítimas, quando deveriam estar nos seus palácios, trabalhando e lamentando a
sua culpa pela inépcia, omissão e leniência com as perdas de preciosas vidas,
que poderiam ter sido evitadas se fossem levadas a sério as medidas
preconizadas para as áreas de risco. O mais grave é que a presidente e demais
autoridades irresponsáveis ainda têm a indecência de, após a missa, participar
de uma reunião na Prefeitura de Petrópolis, certamente para chorar o leite
derramado, porque a tragédia é irreparável. Diante da gravidade dos fatos, são
risíveis as medidas efetivamente implantadas nas áreas de risco, consistentes
na instalação de alarmes sonoros, as chamadas sirenes, que têm por finalidade
alertar a população sobre iminente risco de desabamentos, que, às vezes, chegam
antes que as pessoas saiam às ruas. Parece até piada, em se tratando da
preservação de vidas humanas, quando, no caso, se exige que as pessoas sejam
retiradas impiedosamente das áreas de risco, mediante o poder de polícia de
competência do Estado, para aqueles que se mostrarem resistentes às medidas
drásticas de evacuação da área. A sociedade anseia por que seja aprovada legislação
realista e eficiente, capaz de enquadra no crime de responsabilidade os
governantes e as autoridades públicas incompetentes, hipócritas e insensíveis
às tragédias nacionais, de modo que eles possam perder seus cargos imediatamente
e ficar inelegíveis para cargos públicos em definitivo, como forma de alertar
os homens públicos para a necessidade de cumprir as funções públicas com
dignidade e respeito às vidas humanas e ao patrimônio da nacionalidade. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 25 de março de 2013
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