domingo, 24 de março de 2013

O DNA da maldade

O ex-primeiro-ministro italiano, que acaba de obter expressiva votação no último pleito eleitoral, foi alvo de calorosa manifestação de desaprovação da sua pessoa na política, tendo sido apupado com vaias e assobios, quando entrava no Senado italiano, onde estava indo para participar da eleição do presidente daquela Casa Legislativa. Ele, que está para ser julgado por fraude fiscal e escândalo sexual, revidou o grupo de populares com xingamento em voz alta, enquanto se dirigia ao Parlamento, dizendo que "Vocês deveriam ter vergonha. Vocês são pobres, tolos e estúpidos". Na realidade, os manifestantes apenas e tão somente gritaram "Buffone! Buffone!", significando palhaço, em italiano. Em bom português, esse termo significa literal e exatamente o que expressiva composição dos homens públicos é capaz de representar quando eles estão no exercício de cargos públicos eleitorais, pelo menos é que se verifica na Itália e em especial no Brasil. No caso do país tupiniquim, o clássico exemplo foi evidenciado recentemente na eleição dos presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, quando os dois congressistas não tiveram a dignidade de abdicar de suas candidaturas, mesmo diante da pressão popular, inconformada em razão das graves denúncias de irregularidades cometidas nos cargos de congressistas, consistindo em desvios de recursos públicos, falsidade ideológica, enriquecimento ilícito e outros crimes que, num país com o mínimo de dignidade política, impediriam in limine as candidaturas de pessoas consideradas desqualificadas, com base nos seus passados de improbidade e de desonestidade, em flagrante ferimento aos princípios da administração pública, com destaque para o requisito da honestidade e da moralidade, que são indispensáveis quando se trata da ocupação de cargos públicos. A rigor, os políticos enquadrados como palhaços, por terem se envolvido em corrupção, como são os casos dos atuais presidentes das Casas do Parlamento brasileiro, por estarem com denúncias em tramitação no Poder Judiciário, não têm o direito de representar nem mesmo eles próprios, porque decaíram dos patamares da decência e do decoro, que seriam o mínimo de sustentação, em termos éticos, para mantê-los na vida pública, com a credibilidade que se espera dos representantes do povo. Contrariando os preceitos ínsitos inspiradores de verdadeiros homens públicos, os eleitores italianos e brasileiros são iguais em pensamento e atitude, no plano político, por evidenciarem que eles têm o mesmo DNA, quanto à forma inescrupulosa de escolher seus representantes, que normalmente não são levados em conta os instintos de responsabilidade e de caráter, a exemplo de muitos políticos desses países, que, apesar de se envolverem em casos de corrupção, conseguem se eleger e continuar na vida pública, como se o normal fosse ser desonesto. Os eleitores brasileiros já demonstraram preferência por eleger homens públicos comprometidos com algo estranho à honestidade, à moralidade e ao decoro, que são atributos maléficos capazes de comprometer a seriedade do sistema político e a credibilidade de toda classe política. Infelizmente, os reiterados escândalos protagonizados pelos homens públicos italianos e brasileiros são ineficazes para evidenciar que, na política, ser digno moralmente é proceder com retidão nos seus atos como cidadão e observar fielmente os princípios éticos. A sociedade tem o dever cívico e patriótico de repudiar os homens públicos que ignoram os preceitos da ética e da moralidade na política. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 23 de março de 2013

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