sexta-feira, 22 de março de 2013

Custo alto da insensibilidade

Em consequência de tragédias naturais, com a corroboração das notórias insensibilidades e irresponsabilidades dos homens públicos, o Brasil assiste desesperado e desolado o anúncio das lamentáveis perdas de vidas humanas, que já ultrapassam de trinta brasileiros atingidos pelos estragos das chuvas em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, e sucumbidos pela fúria do imponderável. O desastre que assola essa região também conseguiu desalojar e desabrigar de suas residências centenas de famílias, que são acomodadas emergencialmente em condições precárias; ferir gravemente várias pessoas de todas as idades; e causar enormes prejuízos aos patrimônios das pessoas e do Estado. O quadro é preocupante, pelo transtorno e pela desorganização causados às pessoas, que são impotentes para solucionar problema de extrema complexidade, decorrente de causas advindas da mãe natureza, tão castigada pelo homem e pelo descaso das autoridades públicas. Não é novidade para ninguém que a região afetada apresenta riscos de desastres, com dimensões catastróficas, mas as medidas preventivas, principalmente com a retirada compulsória ou não das pessoas das localidades perigosas não foram adotadas, deixando que a vulnerabilidade decidisse pela vida de pessoas indefesas, sem que ninguém tivesse a iniciativa de evitar mais essa tragédia. As autoridades se apressaram em se eximir de culpa, preferindo adotar a simplista prática de imputá-la às pessoas, como se estas tivessem poder sobre a incompetência daquelas, que são cômodas em tachar a teimosia das pessoas como fator impeditivo das medidas saneadoras da sua alçada. O governo federal saiu em sua defesa, ao alegar que a sua parte foi cumprida integralmente, com a liberação dos recursos destinados à execução de obras preventivas. Nesse caso, se a verba foi realmente repassada e não aplicada, compete, por via de consequência, a apuração de responsabilidades, com vistas à identificação das pessoas envolvidas, ao ressarcimento dos valores embolsados e não aplicados ao erário e principalmente à criminalização sobre as perdas das preciosíssimas vidas de pessoas. Entretanto, mais uma vez, houve-se das autoridades apenas lamentos vazios e sem manifestação sobre as medidas duras e efetivas que a tragédia exige. Compete ao Ministério Público Federal adotar as medidas da sua alçada, no sentido de apurar os fatos e apontar responsabilidades, objetivando a punição dos culpados, como forma pedagógica e preventiva para se evitar casos futuros semelhantes. Até quando vai perdurar essa patente falta de autoridade e de competência dos governantes, que não conseguem justificar a sua culpa pelas lamentáveis e irreparáveis perdas de preciosas vidas, quando a prevenção teria evitado enorme sofrimento, com menor custo? O mais grave dessa evidente falta de capacidade preventiva é que, como as tragédias ocorrem há bastante tempo, de forma recorrente, com o mesmo resultado de martírio para pessoas e impunidade para os culpados, desta vez, por certo, nada diferente acontecerá, porque ninguém será punido e os desastres vão continuar normalmente. Num país com o mínimo de seriedade, descaso com a população castigada implica a responsabilização dos envolvidos, desde as autoridades da Presidência da República até as das prefeituras, inclusive com a decretação da perda de seus cargos. À toda evidência, as tragédias naturais são inevitáveis, mas é imperdoável a tolerância com o descaso, a incompetência e a omissão, porquanto a retirada das pessoas das áreas de risco é absolutamente possível, desde que haja vontade política para fazê-la. A sociedade tem que se conscientizar com urgência de que a incompetência dos governantes tem limite e a preservação das vidas das pessoas exige investimentos e cuidados especiais sobre quaisquer projetos políticos. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 21 de março de 2013

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