Em momento de extrema
irritação, o ex-presidente da República e atual senador por Alagoas,
exercendo a presidência da Comissão de Serviços de Infraestrutura, rasgou, em
plena sessão do colegiado, documento enviado pelo Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes – Dnit, que continha informações sobre a situação
das obras em rodovias federais. Na sua avaliação, os dados constantes do
documento não eram fidedignos, posto que ele tinha recebido informações de
senadores assegurando que estão paralisadas as obras na rodovia BR-364, em
Rondônia. Esse fato contrariava as descrições do relatório daquele órgão, que
dava conta do início delas na última semana de abril. Ele disse que “A Comissão de Serviços de Infraestrutura do
Senado, os integrantes desta comissão, nós não podemos aceitar informações
falseadas. Nós temos é que rasgar isso aqui”. Completando a estupidez, o
senador ordenou que o documento rasgado fosse encaminhado ao diretor do Dnit,
nestes termos: “Por favor, coloque isso
num envelope e encaminhe para o diretor do Dnit. Essa comissão não aceita mais
essas mentiras que são colocadas nesse papel”. Em seguida, o senador,
acreditando que as informações podem não ser do conhecimento do diretor desse
órgão, afirmou: “Isso é algo que tem que
dar um murro na mesa e fazer voar, reformar tudo ali. Esse Dnit tem que
funcionar”, ao se referir à prestação de contas, classificada por ele como
“inaceitável”. Enquanto o senador curtia a sua indignação, o Dnit assegurava que
“o relatório da Autarquia encaminhado segunda-feira
(6) ao Senado traduz a realidade do momento em que as informações foram
levantadas, no último final de semana (no dia 5). De acordo com o órgão, os
dados constantes do relatório foram fornecidos de forma "isenta" por
servidores do Dnit.”. Caso as informações constantes do relatório estraçalhado
correspondam à realidade dos fatos, o senador teria agido de forma extremamente
precipitada e indelicada, contrariando o salutar princípio da cautela,
normalmente recomendado em casos que tais, o qual, por segurança e por não se
expor ao ridículo, poderia ter sido observado como meio correto e apropriado
para se poder firmar convicção sobre matéria de tamanha importância para o
país. Não obstante, o destempero do
senador alagoano mostra com absoluta clareza o nível cultural dos políticos
brasileiros, que preferem expor compostura deselegante, com a finalidade de
mostrar autoridade, ao se deparar com situação que parece ser a normalidade
desse governo, uma vez que tem sido comum a falta de realização de obras públicas
ou, quando são iniciadas, muitas das quais apenas começam e logo são
interrompidas, causando sérios prejuízos aos cofres públicos, a exemplo das
clamorosas e chocantes obras da transposição do Rio São Francisco, que talvez somente
o santo que dá nome ao rio sabe quando um dia ela será concluída. O senador, se
coerente for, tem que se preparar para se especializar no rasgamento de montanhas
de relatórios do governo, porque o país inteiro é verdadeiro canteiro de obras
paralisadas, em demonstração de mau gerenciamento dos recursos públicos. Urge
que os homens públicos se conscientizem sobre a grandeza do exercício das suas
nobres funções, que devem ser desempenadas com equilíbrio e racionalidade, de
maneira que suas decisões possam refletir resultados capazes de contribuir para
o crescimento da sociedade e do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 09 de maio de 2013
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