Em clima de beija-mão
da presidente da República, foi empossado o ministro da Secretaria da Micro e
Pequena Empresa, que disse na ocasião: “Eu
não sirvo a dois senhores, eu sirvo a uma causa que os dois senhores concordam”,
ao se referir ao governador tucano do seu Estado e à presidente petista, tudo
isso em resposta às intensas críticas acerca da sua intenção de acumular os
cargos de vice-governador de São Paulo e de ministro. Estava presente no ato de
posse o presidente do PSD, partido ao qual o ministro pertence, apesar de ter
declarado que não se trata de indicação do partido, mas isso implica implícita
participação dessa agremiação no governo. O novo ministro garantiu que não
renunciará ao mandato de vice-governador de São Paulo, ao assegurar que “um vice não se licencia”, tendo anunciado
que somente deixará o cargo por decisão judicial, uma vez que “Um vice já é licenciado porque ele é stand
by. O que ocorre é exatamente o fato de que o vice é eleito e, sendo eleito,
renúncia é um fato muito grave”. Sobre esse episódio, ele afirmou que pretende
aguardar o posicionamento da Comissão de Ética Pública da Presidência, que já
se manifestou que irá investigar e se pronunciar sobre a legitimidade da
acumulação dos cargos em comento. Diante das especulações sobre a possibilidade
de o PSD passar a integrar a base do governo, o ministro saiu-se pela tangente,
como fazem os políticos matreiros para não entregarem o ouro, ao afirmar “O PSD tem uma grande tendência a apoiar a
reeleição da presidente Dilma sem que isso signifique troca de cargos. A minha
indicação ficou muito clara, é pela história, pela biografia e afinidade com a
afinidade e o tema”. Embora ele negue que não existiu negociata,
compreendendo a vergonhosa e indigna entrega do ministério ao seu partido em
troca do apoio político à base de sustentação do governo, ninguém de sã
consciência neste país, diante da sebosa politicagem com a finalidade de
prolongar a permanência no poder, acredita que o órgão, que foi criado com exclusividade
para atrair PSD, com mala e cuia, para junto do Planalto, seja depois de tudo
concretizado ficar a apenas nas boas intenções. Os fatos, por certo, cuidarão
de revelar a sua verdadeira finalidade da entrega do novo ministério a um
partido político, que não deverá se desvirtuar do já tradicional indecente jeitinho
do toma lá, dá cá, potencializado pelo governo. Em que pese o cargo de vice-governador
ter vínculo com o resultado de eleição, diferente de cargo de nomeação e que as
Cartas Magnas Federal e do Estado de São Paulo não proíbam expressamente, a
despeito de a Resolução nº 8/2003, aprovada pela aludida comissão, dizer que se
configura conflito de interesses o exercício de atividade que “viole o princípio da integral dedicação pelo
ocupante de cargo em comissão ou função de confiança, que exige a precedência
das atribuições do cargo ou função pública sobre quaisquer outras atividades”,
o ministro estaria agindo com dignidade e transparência se abdicasse do cargo
para o qual foi eleito, tendo em conta que suas atividades políticas foram totalmente
desvinculadas daquele cargo. Não há dúvida de que a pretensão de se manter no
cargo original evidencia agarro aos vícios destrutivos da democracia, dignos da
ambição da pobreza intelectual dos políticos retrógrados e interesseiros.
Embora possa parecer gesto de respeito, o inusitado e subserviente beijo na mão da presidente da República, isso
pode suscitar a intenção da natural necessidade de agradecimento pela possibilidade
de o ministro passar a ter plenas condições para empregar seus correligionários,
com ampla vantagem da liberdade e do privilégio de ocupar com primazia um
ministério novo inteiro. Urge que os homens públicos tenham a lucidez e visão
transparente de enxergar os reais objetivos preconizados para o exercício das
funções políticas senão em função dos interesses da nacionalidade, abdicando da
intransigente defesa das causas pessoais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 09 de maio de 2013
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