quinta-feira, 9 de maio de 2013

Necessidade de dignidade na política

Em clima de beija-mão da presidente da República, foi empossado o ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, que disse na ocasião: “Eu não sirvo a dois senhores, eu sirvo a uma causa que os dois senhores concordam”, ao se referir ao governador tucano do seu Estado e à presidente petista, tudo isso em resposta às intensas críticas acerca da sua intenção de acumular os cargos de vice-governador de São Paulo e de ministro. Estava presente no ato de posse o presidente do PSD, partido ao qual o ministro pertence, apesar de ter declarado que não se trata de indicação do partido, mas isso implica implícita participação dessa agremiação no governo. O novo ministro garantiu que não renunciará ao mandato de vice-governador de São Paulo, ao assegurar que “um vice não se licencia”, tendo anunciado que somente deixará o cargo por decisão judicial, uma vez que “Um vice já é licenciado porque ele é stand by. O que ocorre é exatamente o fato de que o vice é eleito e, sendo eleito, renúncia é um fato muito grave”. Sobre esse episódio, ele afirmou que pretende aguardar o posicionamento da Comissão de Ética Pública da Presidência, que já se manifestou que irá investigar e se pronunciar sobre a legitimidade da acumulação dos cargos em comento. Diante das especulações sobre a possibilidade de o PSD passar a integrar a base do governo, o ministro saiu-se pela tangente, como fazem os políticos matreiros para não entregarem o ouro, ao afirmar “O PSD tem uma grande tendência a apoiar a reeleição da presidente Dilma sem que isso signifique troca de cargos. A minha indicação ficou muito clara, é pela história, pela biografia e afinidade com a afinidade e o tema”. Embora ele negue que não existiu negociata, compreendendo a vergonhosa e indigna entrega do ministério ao seu partido em troca do apoio político à base de sustentação do governo, ninguém de sã consciência neste país, diante da sebosa politicagem com a finalidade de prolongar a permanência no poder, acredita que o órgão, que foi criado com exclusividade para atrair PSD, com mala e cuia, para junto do Planalto, seja depois de tudo concretizado ficar a apenas nas boas intenções. Os fatos, por certo, cuidarão de revelar a sua verdadeira finalidade da entrega do novo ministério a um partido político, que não deverá se desvirtuar do já tradicional indecente jeitinho do toma lá, dá cá, potencializado pelo governo. Em que pese o cargo de vice-governador ter vínculo com o resultado de eleição, diferente de cargo de nomeação e que as Cartas Magnas Federal e do Estado de São Paulo não proíbam expressamente, a despeito de a Resolução nº 8/2003, aprovada pela aludida comissão, dizer que se configura conflito de interesses o exercício de atividade que “viole o princípio da integral dedicação pelo ocupante de cargo em comissão ou função de confiança, que exige a precedência das atribuições do cargo ou função pública sobre quaisquer outras atividades”, o ministro estaria agindo com dignidade e transparência se abdicasse do cargo para o qual foi eleito, tendo em conta que suas atividades políticas foram totalmente desvinculadas daquele cargo. Não há dúvida de que a pretensão de se manter no cargo original evidencia agarro aos vícios destrutivos da democracia, dignos da ambição da pobreza intelectual dos políticos retrógrados e interesseiros. Embora possa parecer gesto de respeito, o inusitado e subserviente beijo na mão da presidente da República, isso pode suscitar a intenção da natural necessidade de agradecimento pela possibilidade de o ministro passar a ter plenas condições para empregar seus correligionários, com ampla vantagem da liberdade e do privilégio de ocupar com primazia um ministério novo inteiro. Urge que os homens públicos tenham a lucidez e visão transparente de enxergar os reais objetivos preconizados para o exercício das funções políticas senão em função dos interesses da nacionalidade, abdicando da intransigente defesa das causas pessoais. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 09 de maio de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário