Segundo a
coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, as Forças Armadas vêm desafiando
as investigações sobre crimes cometidos por agentes públicos, no período do
regime militar. Ela insinua que o acesso aos arquivos deverá ser conseguido por
novos "caminhos", uma vez que "Tentamos todas as formas de solicitação institucional", inclusive
"Procuramos o ministro da Defesa e
temos recebido sempre a informação de que os arquivos foram queimados. Mas
estamos procurando outros caminhos.". Membros incumbidos da
investigação de crimes do Estado foram impedidos pelas Forças Armadas de entrar
nas dependências do CISA, CIEX e Cenimar, respectivamente centros de
inteligência da Aeronáutica, Exército e Marinha, responsáveis pela organização
das operações de repressão às organizações terroristas. O certo é que,
decorrido um ano de funcionamento, a comissão não obteve êxito quanto ao acesso
a valiosos arquivos sobre os fatos ocorridos no período em apreço. Já houve
tentativas de diferentes maneiras no sentido de convencer os comandos militares
ao cumprimento da determinação legal, com a disponibilização dos aludidos
documentos. O ministro da Defesa chegou a garantir que as Forças Armadas iam liberá-los,
uma vez que "A lei diz que nós temos
todo o dever de cooperar. Em termos gerais, tudo estará aberto". A
coordenadora da comissão acena para o esgotamento das possibilidades das
estratégias previstas na lei para ter acesso às salas dos centros de
inteligência, apenas recorrerá a pedido legal de busca e apreensão, em último
recurso, tendo em vista que, na forma da Lei nº 12.528, que criou a comissão, é
"dever dos servidores e dos
militares colaborar com a comissão", sob pena de ter que recorrer ao
Judiciário o direito de acesso às informações guardadas pelos militares. O
desafio de vencer a resistência dos militares, que evitam a liberação de seus
documentos, não é o principal problema para a comissão, porquanto há
necessidade da análise de bastantes documentos produzidos por aproximadamente noventa
instituições brasileiras e estrangeiras. Não há a menor dúvida de que o clima
de notória animosidade alimentado com o advento da Comissão da Meia Verdade
dificulta sobremaneira qualquer forma de entendimento para o acesso aos
arquivos militares, se é que ainda tenha sequer resquício de cinzas de mera
papeleta da época. O mais crédulo brasileiro não deve ter esperança de que os
militares, competentes e sagazes como sempre foram, seriam tão ingênuos a ponto
de guardar e preservar preciosos e importantes documentos para saciar a avidez
da desforra, facilitando o robustecimento e a fundamentação do relatório da
comissão da inverdade, que será supercarregado de incriminações essencialmente
contra as atuações dos militares. Seria verdadeiro contrassenso os militares
contribuírem com comissão integrada de sanguessugas que têm a incumbência de
buscar provas substanciais e irrefutáveis para mostrar, de forma cabal e a
qualquer custo, a culpabilidade dos militares pelos crimes ocorridos nos anos
de chumbo. Seria tolice, para não dizer burrice dos militares, entregar a
documentação totalmente organizada e selecionada, contando os detalhes dos
acontecimentos. É evidente que, não fosse a situação de revanchismo, impregnada
nas investigações dos fatos, com nítido rompimento da ordem natural da
democracia, em menosprezo à prevalência do respeito recíproco aos direitos e às
obrigações das partes envolvidas, talvez não houvesse esse confronto mais do
que normal, em que os militares, com total naturalidade, sentem-se desobrigados
de fornecer munições aos declarados inimigos. O desvelar da verdade implica
respeito aos princípios humanitários da democracia, em harmonia com a
imprescindível transparência dos objetivos em benefício da sociedade em geral,
com embargo dos sentimentos censuráveis e abomináveis da parcialidade e da
vingança, uma vez que o sentimento de despique objetiva apenas recobrar posição
perdida e jamais a reconstituição da pureza da história. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 17 de maio de 2013
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