domingo, 19 de maio de 2013

Genuína hipocrisia

Em entrevista para ser inserida no livro "10 Anos de Governo Pós-Neoliberal no Brasil - Lula e Dilma", que será lançado brevemente, o petista ex-presidente da República disse que "O PT precisa voltar a acreditar em valores que a gente acreditava e que foram banalizados por conta da disputa eleitoral" e que precisa "provar que é possível fazer política com seriedade", após refletir acerca das mudanças que o partido passou no citado período. A sua sinceridade é tanta ao confessar, embora sem mencionar o escândalo do mensalão - que fez estremecer seu primeiro mandato -, que seu partido fez alianças para governar, mas cometeu "os mesmos desvios que criticava" no passado. E acrescentou: "Você pode fazer o jogo político, aliança política, coalizão política, mas não precisa estabelecer uma relação promíscua para fazer política", "O PT precisa voltar urgentemente a ter isso como tarefa dele." e "Às vezes tenho a impressão de que partido político é um negócio, quando, na verdade, deveria ser um item extremamente importante para a sociedade". Ele disse que, sem mudanças, a política ficará "mais pervertida que em qualquer outro momento". Embora o Supremo Tribunal Federal tenha concluído que o escândalo do mensalão funcionou como verdadeiro esquema de compra de apoio político do governo, que distribuiu generosamente verbas públicas para partidos que aderiram às políticas inescrupulosas petistas, o ex-presidente nega que tenha havido essa indecente compra da consciência de congressistas, mas reconhece que o mensalão tinha a finalidade de operar o esquema de caixa dois para financiar dívidas contraídas pelo PT e pelos partidos aliados nas eleições de 2002, como se isso não fosse prática repugnada pela legislação pátria, ou seja, como se houvesse amparo legal para o desvio de conduta e a ilegitimidade de procedimentos. O “todo-poderoso” petista reconhece boa parte da maldade disseminada na política do país por seu partido, que contribuiu de forma efetiva para desmoralizar os princípios ideológicos da ética e da moralidade, com seu posicionamento insano e avassalador na busca do poder, a começar pelas posições contrárias às matérias fundamentais ao desenvolvimento do país, a exemplo do Plano Real, da Lei de Responsabilidade Fiscal; pelas alianças espúrias com os piores políticos que eram criticados e censurados por suas safadezas na política; pelo loteamento do Estado entre os partidos da coalizão; pela leniência com a corrupção e a impunidade; pela ojeriza às reformas estruturais do Estado, permitindo que o país fique estagnado no imobilismo econômico, prejudicando a modernização da indústria e a competitividade dos produtos nacionais; pelo inchamento da máquina pública, que tem a finalidade de servir de cabide de empregos; pelo desprezo às prioridades das políticas públicas, contribuindo para que o país figure entre as piores nações mundiais, em termos de qualidade de vida; pelo sucateamento da malha viária, onde as estradas não merecem adequada manutenção; entre tantas mazelas, como a insegurança pública, que progrediram no governo petista, por não terem sido tomadas as providências para combatê-las com a indispensável competência. O ex-presidente teve coragem para incursionar sobre sua experiência política, chegando a abordar a fundo procedimentos corretos que deveriam ter sido colocados em execução na administração pública, de tal modo que reconhece com clareza que seu partido vem administrando o país de maneira espúria, com a utilização de métodos contrários aos princípios éticos e morais, que não deveriam ser cultuados na política limpa e democrática. Agora, não deixa de ser estranho contrassenso falar-se em readquiri o que nunca teve, no caso, valor ético. A sociedade anseia por que a pretensão do “semideus” de se recuperar os valores perdidos pelo PT não passe de mais uma hipócrita jogada política, com o objetivo de continuar enganando a ingênua índole do povo brasileiro. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 18 de maio de 2013

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