quinta-feira, 16 de maio de 2013

A verdade incomoda?

Por solicitação da Procuradoria da República no Distrito Federal, enfim, a Polícia Federal vai instaurar inquérito criminal para apurar um dos fatos constantes do depoimento do operador do mensalão, no qual ele acusa o ex-presidente da República petista de ter conhecimento e de se beneficiar desse escandaloso esquema de corrupção. A investigação terá por mira o suposto repasse de US$ 7 milhões de uma fornecedora da Portugal Telecom, em Macau (China), para o Partido dos Trabalhadores, por meio de contas no exterior. Embora essa empresa não tenha sido investigada no processo do mensalão, as viagens e os encontros entre alguns dos condenados na ação pertinente e executivos da empresa à época do questionado esquema foram objeto de prova para o julgamento do Supremo Tribunal Federal. Em que pese o operador do mensalão ter acusado a participação do ex-presidente, a Procuradoria da República do DF não declinou o nome do investigado neste novo inquérito, que não tem vínculo formal ao processo do mensalão, ainda em julgamento no Supremo, no qual já foram condenados 25 participantes do esquema de compra de votos no Congresso, logo no início do governo petista. Inobstante, não há dúvida de que, desta vez, o principal investigado será mesmo o ex-presidente, que, segundo o operador do mensalão, ele teria participado de reunião com os ex-ministros da Casa Civil e da Fazenda e o então presidente da Portugal Telecom, no Palácio do Planalto, para tratar do citado repasse. Ato contínuo, o acusado classificou as declarações como mentirosas. O presidente do PT disse que "Nós já nos posicionamos. É mais uma das muitas invencionices que se cria tentando atingir o presidente Lula, cujo único crime, entre aspas, foi melhorar a vida de milhões de brasileiros. Não há nenhuma necessidade de a gente soltar nota de solidariedade até porque não acho que ele esteja agravado e nem investigado pessoalmente". É engraçado como os petistas classificam de invenção qualquer acusação que envolva o nome do “todo-poderoso”, como se ele estivesse acima do bem do mal ou fosse um semideus imaculado, que sequer possa ser investigado. No Estado Democrático de Direito, as investigações são formas legítimas e capazes de esclarecer a verdade real dos fatos, de modo que o seu resultado possa apontar culpa ou inculpabilidade dos envolvidos nas denúncias. A resistência às apurações só contribui para dificultar os esclarecimentos sobre os fatos e mostrar o nível cultural dos homens públicos brasileiros, que demonstram perseguição quando se pretende apenas apurar a verdade sobre os fatos questionados. A eterna blindagem ao ex-presidente expõe a incoerência de quem defendia e pregava ética, moralidade e respeito aos bons costumes na política, princípios estes que foram jogados para o alto tão logo a sua assunção ao poder, com a revelação do assombroso mensalão. É plenamente irracional e injustificável a tentativa de preservação da imagem do ex-presidente, sob o argumento de que o seu legado para o país deve ser motivo de aplausos, como se isso tivesse o condão de torná-lo literalmente inimputável. Como se autoridade pública ganhasse imunidade sobre seus atos e não tivesse a obrigatoriedade constitucional e legal de prestar contas à sociedade sobre eles. Urge que, para a reafirmação e o fortalecimento da democracia brasileira, o ex-presidente da República petista seja investigado não somente acerca do questionado repasse de US$ 7 milhões ao seu partido, mas sobre todos os fatos suspeitos de irregularidades ocorridos no seu governo, como forma de mostrar o seu envolvimento ou não nas indecentes desonestidades com recursos públicos. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 15 de maio de 2013

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