Por
solicitação da Procuradoria da República no Distrito Federal, enfim, a Polícia
Federal vai instaurar inquérito criminal para apurar um dos fatos constantes do
depoimento do operador do mensalão, no qual ele acusa o ex-presidente da
República petista de ter conhecimento e de se beneficiar desse escandaloso esquema
de corrupção. A investigação terá por mira o suposto repasse de US$ 7 milhões
de uma fornecedora da Portugal Telecom, em Macau (China), para o Partido dos
Trabalhadores, por meio de contas no exterior. Embora essa empresa não tenha
sido investigada no processo do mensalão, as viagens e os encontros entre
alguns dos condenados na ação pertinente e executivos da empresa à época do questionado
esquema foram objeto de prova para o julgamento do Supremo Tribunal Federal. Em
que pese o operador do mensalão ter acusado a participação do ex-presidente, a
Procuradoria da República do DF não declinou o nome do investigado neste novo
inquérito, que não tem vínculo formal ao processo do mensalão, ainda em julgamento
no Supremo, no qual já foram condenados 25 participantes do esquema de compra
de votos no Congresso, logo no início do governo petista. Inobstante, não há
dúvida de que, desta vez, o principal investigado será mesmo o ex-presidente,
que, segundo o operador do mensalão, ele teria participado de reunião com os
ex-ministros da Casa Civil e da Fazenda e o então presidente da Portugal
Telecom, no Palácio do Planalto, para tratar do citado repasse. Ato contínuo, o
acusado classificou as declarações como mentirosas. O presidente do PT disse
que "Nós já nos posicionamos. É mais
uma das muitas invencionices que se cria tentando atingir o presidente Lula,
cujo único crime, entre aspas, foi melhorar a vida de milhões de brasileiros.
Não há nenhuma necessidade de a gente soltar nota de solidariedade até porque
não acho que ele esteja agravado e nem investigado pessoalmente". É
engraçado como os petistas classificam de invenção qualquer acusação que
envolva o nome do “todo-poderoso”, como se ele estivesse acima do bem do mal ou
fosse um semideus imaculado, que sequer possa ser investigado. No Estado
Democrático de Direito, as investigações são formas legítimas e capazes de
esclarecer a verdade real dos fatos, de modo que o seu resultado possa apontar
culpa ou inculpabilidade dos envolvidos nas denúncias. A resistência às
apurações só contribui para dificultar os esclarecimentos sobre os fatos e
mostrar o nível cultural dos homens públicos brasileiros, que demonstram
perseguição quando se pretende apenas apurar a verdade sobre os fatos
questionados.
A eterna blindagem ao ex-presidente expõe a incoerência de quem defendia e pregava
ética, moralidade e respeito aos bons costumes na política, princípios estes
que foram jogados para o alto tão logo a sua assunção ao poder, com a revelação
do assombroso mensalão. É
plenamente irracional e injustificável a tentativa de preservação da imagem do
ex-presidente, sob o argumento de que o seu legado para o país deve ser motivo
de aplausos, como se isso tivesse o condão de torná-lo literalmente
inimputável. Como se autoridade pública ganhasse imunidade sobre seus atos e
não tivesse a obrigatoriedade constitucional e legal de prestar contas à
sociedade sobre eles. Urge
que, para a reafirmação e o fortalecimento da democracia brasileira, o
ex-presidente da República petista seja investigado não somente acerca do
questionado repasse de US$ 7 milhões ao seu partido, mas sobre todos os fatos
suspeitos de irregularidades ocorridos no seu governo, como forma de mostrar o seu envolvimento ou
não nas indecentes desonestidades com recursos públicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de maio de 2013
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