sexta-feira, 10 de maio de 2013

Os presentes da vergonha

 
O governo americano divulgou lista de presentes recebidos, no ano de 2011, pelo seu presidente de governos estrangeiros. Entre eles, o segundo agrado diplomático mais precioso e generoso é oriundo do Brasil, representado por uma fotografia de artista brasileiro, intitulada "Marat (Sebastião)", com avaliação de US$ 40 mil (R$ 80 mil). O "mimo" foi entregue ao mandatário americano pelo governador do Rio de Janeiro. Em conformidade com a legislação daquele país, a obra será doada para um museu, onde ficará exposta. Segundo o cerimonial americano, a justificativa para o recebimento dos presentes prende-se ao fato de que a recusa "causaria constrangimento ao doador e ao governo". A lista de presentes é enorme, figurando canetas, esculturas, tapetes, louças, joias, roupas, livros, flâmulas, agasalhos esportivos, entre tantas lembranças entregues ao presidente e à sua família, que, na forma das normas americanas, são destinadas às finalidades previstas na tradição republicana do seu uso impessoal. Como não poderiam ser diferentes, nos países civilizados, os presentes recebidos por seus mandatários são considerados como se eles fossem destinados não à pessoa do presidente, mas sim ao Estado por ele representado. No país tupiniquim, a mentalidade do homem público funciona de maneira antagônica à do Tim Sam, uma vez que o político brasileiro entende que o Estado é ele próprio ou ainda que o Estado pertence-lhe de direito. Essa cultura mesquinha e nefasta foi plenamente confirmada na última passagem de comando do país, quando o presidente da República substituído teria levado no seu inusitado comboio de mudança alguns caminhões baús-transportadores, entre três a oito, inclusive um veículo com dispositivo de refrigeração. Os especialistas garantem que todos os presentes recebidos pelo ex-presidente, muitos valiosíssimos e raros, foram embarcados para a sua nova residência, que não foi capaz de acomodar todo material, tamanha a sua absurda quantidade, inclusive bebidas e utensílios de uso exclusivo do Palácio da Alvorada, como talheres e prataria finos. Nessa mudança, insere-se o escandaloso surrupio de importante crucifixo que ficava pendurado na parede do gabinete presidencial, anteriormente à assunção do cargo pelo presidente substituído. Trata-se de lamentável e indigna cultura dos políticos brasileiros, que não têm nenhum escrúpulo na execução dos recursos públicos, na qual já se tornou praxe a desleixada e propositada inobservância dos princípios fundamentais da administração pública, bem assim da indispensável prestação de contas de seus atos, diferentemente do que acontece nos países desenvolvidos, a exemplo do que fizeram os Estados Unidos da América, ao mostrar, de maneira transparente e absolutamente democrática, a relação dos presentes recebidos pelo seu presidente. Também é digno de modelo para os demais países o fato de que os presidentes das nações desenvolvidas conservarem o mesmo patrimônio antes, durante e depois do seu mandato, ao contrário do que ocorre no país tupiniquim, onde há suspeita de que o último mandatário teria enriquecido juntamente com membros da sua família. A sociedade repudia as práticas inescrupulosas e nada republicanas dos homens públicos brasileiros, que, menosprezando os inarredáveis princípios da probidade, do decoro, da ética e da moral, se beneficiam impunes dos dinheiros e do patrimônio públicos, como, segundo a imprensa, no episódio da clamorosa “limpeza” do Palácio da Alvorada, ocorrida por ocasião da mudança dos últimos ocupantes. Acorda, Brasil! 

 

 

 

 
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 09 de maio de 2013

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