A Câmara de
Vereadores de Arcoverde, no Sertão pernambucano, decidiu conceder a Medalha de
Honra ao Mérito Cardeal Arcoverde, a mais alta comenda entregue pelo
legislativo às personalidades que prestaram bons serviços ao município, à mais
famosa prostituta da cidade. Como não poderia ser diferente, o fato vem causando
enorme reboliço e muita polêmica, além de gerar os mais variados comentários
entre moradores da localidade. A vereadora autora do projeto deixa clara a
admiração pela homenageada, ao justificar a medida: “É uma mãe de família, que veio de Custódia e começou a trabalhar cedo,
lavando prato nas casas noturnas, para sobreviver. Ela trabalhou a vida inteira
para dar vida digna aos filhos”. Causa espécie que os políticos brasileiros
ocupem seu precioso tempo cuidando de futilidade, quando, no interior do país,
há tanta questão que clama por urgente resolução, mas nem sempre ela é merecedora
da devida atenção, por ficarem em planos secundários, em virtude da discussão
de matérias como a concessão de medalha cujo mérito suscita fundados questionamentos.
No Brasil, há verdadeiro desperdício de esforços humanos e recursos públicos
para a produção de coisa alguma, que não levam a absolutamente nada nem
beneficia a sociedade. O caso da concessão da Medalha de Honra ao Mérito
Cardeal Arcoverde será indiscutivelmente grande desprestígio ao religioso que
teria sido homenageado com o seu nome para dignificar e reconhecer a prestação de
bons, honrados e exemplares serviços ao município, como forma de agradecimento
e de inventivo às pessoas pela prática de atividades dignas. No caso em
comento, não parece que haja compatibilidade da intenção da iniciativa com o
mérito das atividades desenvolvidas pela cidadã prestigiada. Ela deve possuir
os méritos de mãe zelosa, trabalhadora e respeitosa, mas a sua profissão jamais
poderia ser exaltada como sendo motivo de serviços relevantes, a ponto de
merecer o devido reconhecimento da Câmara de Vereadores, notadamente por confundir
o que poderia ser apenas mera homenagem em prestimoso inventivo à iniciação da
atividade nada dignificante da prostituição. Aliás, o instituto dessas
medalhas, na prática, vem servindo, na quase totalidade, para o absurdo de a
sua concessão recair nunca pelo mérito em si, mas exclusivamente pelo fato de o
destinatário ter vínculo com os governos ou exercer influência familiar ou de amizade,
sem que o mérito em si seja sequer avaliado, com relação aos pressupostos
necessários e legais para a sua concessão. A pobreza cultural do povo
brasileiro se evidencia sempre que atitude pouco dignificante, a exemplo de
concessão medalhas inúteis, sobressai sobre prioridades que poderiam ser
discutidas e aprovadas, para beneficio da sociedade. Sem querer adentrar no mérito da iniciativa, mas a concessão de medalha
pelo reconhecimento de atividade pouco enobrecedora deixa transparecer que os
parlamentares desconhecem suas precípuas funções de trabalhar para o
engrandecimento da sociedade. Essa medida bem demonstra que a autora da comenda
poderia ter se preocupado menos em fazer média na função de cargo público
eletivo, mas em apresentar proposta de cunho cultural e incentivador aos bons
costumes, como, por exemplo, homenagear professores e outros ilustres
profissionais que contribuíram positivamente para a construção intelectual e
moral dos munícipes. Urge que os políticos se conscientizem sobre a sua
verdadeira função nas atividades para as quais tenham sido eleitos, tendo o
cuidado de zelar pela dignificação dos seus atos, que não podem desviar da
linha da estrita defesa dos interesses públicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 06 de maio de 2013
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