Até parece caso
surrealista, mas é pura verdade o que acaba de acontecer no país tupiniquim. O
assassino de três pessoas na Serra, Grande Vitória, se apresentou à polícia,
mas, pasmem, foi liberado logo em seguida. Segundo o delegado de Crimes
Contra a Vida do município, o jovem de 23 anos confessou o crime
espontaneamente, tendo sido liberado por não haver mais flagrante nem mandado
de prisão contra ele. Como se isso ainda não bastasse para mostrar a situação
peripatética, o rapaz se valeu do benefício da soltura por ser réu primário e
ter emprego e residência fixos. O delegado esclareceu que a liberação do criminoso
deve-se à "falha na legislação penal".
Ele disse ainda que a legislação permite que o suspeito, em casos que tais,
seja liberado: "Quando a pessoa se
apresenta, confessa espontaneamente o crime, tem emprego fixo e residência
fixa, em tese entende-se que ele tem interesse em colaborar com o processo e
que não haveria um risco para a sociedade no caso desse elemento ficar na rua.
Isso eu entendo que é uma falha legislativa grave, principalmente em
decorrência do crime que foi praticado". O delegado concluiu, dizendo que
a lei é fraca e contribui para a impunidade: "Quanto à parte da polícia, nós fizemos tudo o que estava ao nosso
alcance. Contra a legislação, fica difícil a gente brigar. Eu entendo que lei
fraca, bandido forte. A sensação que fica pra gente é muito ruim, porque foram
três vidas tiradas por uma motivação banal e, em decorrência de uma legislação
fraca, nós somos obrigados a ver esse elemento sair pela porta da frente da
delegacia". Não há dúvida de que a legislação penal faltou pouco para
corresponder ao grau máximo de ineficácia, inutilidade, se tivesse decretado,
para manter a coerência com a sua fraqueza, prescindíveis as delegacias,
porquanto, na prática, elas não cumprem a sua primordial função de manter sob
suas dependências as pessoas contrárias aos princípios de civilidade. O Brasil
caminha, em termos de legislação penal, na contramão das conquistas da
humanidade, permanecendo na época remota da civilização, ainda na era
paleolítica. O certo é que esse episódio evidencia a absoluta impotência da sociedade,
pela falta de proteção contra a criminalidade, que conta com o manto da
impunidade. Os fatos delituosos do dia a dia mostram que o Brasil, com o
emaranhado de leis penais que mais confundem do que elucidam, já se tornou terra
de bandidos, que têm respaldo legal para a prática dos piores crimes e podem ficar
soltos para cometer novas barbaridades. Não
existem verbete nem expressão capazes de qualificar o tamanho da indignação diante
do conhecimento de fato tão aviltante e degradante para a humanidade como esse aqui
focalizado, por mostrar que, em pleno século XXI, apesar de o mundo já ter passado
por enormes e benfazejos avanços e conquistas, em benefício da modernidade com
os conhecimentos científicos e tecnológicos, a legislação penal brasileira
permanece ainda na idade da pedra lascada, totalmente incapaz de assegurar que
autor de tríplice homicídio, mesmo se entregando à autoridade policial e confessando
a sua culpa, fique trancafiado, não obstante a sua altíssima periculosidade. Ao
contrário, o assassino é liberado em nome de vergonhosa legislação considerada
fraca para a sociedade, porém forte para beneficiar e amparar a liberdade de
bandido. Na moral, esse estado de coisas demonstra real fraqueza e completa
demência de quem é regiamente remunerado para atualizar as leis, adequando-as à
realidade da humanidade, mas, infelizmente, o que se constatam são completa degeneração
e irresponsabilidade das autoridades públicas, que não têm dignidade para
assumir publicamente a sua injustificável culpa por permitir que o país deixe
de prender assassino de alta periculosidade, por falta de lei que o ampare. Culpa
maior deve ser imputada ao povo, que também é mais ou igualmente irresponsável
por elegê-las e colocá-las no poder, para representar inutilmente a sociedade. Com
absoluta certeza, nenhuma republiqueta de quinta categoria aceita legislação
penal tão inútil, decepcionante e ultrajante como o Código Penal brasileiro,
que, se não existisse, por certo, o sistema penal funcionária com eficiência. Não
pode haver atitude mais ultrajante, compassiva e deprimente do que a falta de ação
das autoridades que têm a competência para atualizar a legislação penal, porquanto
a omissão permite vergonhosa e desqualificável impunidade. Os governantes e os
políticos, diante desse fato desrespeitoso à dignidade humana, teriam, no mínimo,
que ser responsabilizados pela sua omissão funcional e leniência com a mais vil
criminalidade que grassa o país. Na verdade, a maior gravidade dessa ignominiosa
situação é se verificar que ninguém grita contra o caos, que já atingiu o fundo
do poço das relações sociais. Urge que as autoridades públicas, com um mínimo
de dignidade cívica e patriótica, aproveitem essa aberrante lição de extrema
ineficiência e ineficácia da legislação penal para aprovar Código Penal de
verdade e decente, a exemplo do que existe nos países civilizados e desenvolvidos,
de modo que os criminosos sejam punidos com dureza e de forma exemplar, como
forma de se evitar matança indiscriminada e banalizada de preciosas vidas
humanas e de se impedir que situação vexatória e humilhante como essa aqui
comentada volte a envergonhar e ultrajar a dignidade do povo brasileiro.
Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de maio de 2013
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