terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Cadê dignidade no futebol?


A diretoria da Portuguesa, inspirada em ideia de torcedores, lançada nas redes sociais, pretende usar, na Série B do Campeonato Brasileiro de 2014, um uniforme igual ao do Fluminense, como forma de protesto pelo seu rebaixamento decretado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva, tendo ainda o fato de que os dois clubes vestem cores parecidas: branco, verde e vermelho - no caso do Fluminense, grená. Na verdade, seria uma maneira de provocação ao clube carioca, em razão de que a Lusa perdeu quatro pontos, em virtude de ter escalado, na última rodada do Brasileirão, jogador suspenso, cuja irregularidade implicou na sua queda para a segunda divisão do futebol e na salvação do Fluminense da fragorosa degola da Série A. O diretor da Lusa disse: “Nós vimos a ideia na internet e passamos a discutir na diretoria. Eu acho que, se ficarmos realmente na Série B, usar a camisa do Fluminense seria uma grande forma de protesto contra um clube que sempre dá um jeito de escapar do rebaixamento pelo tapetão. Se usarmos a camisa, o Fluminense estaria no lugar que merece e onde a Lusa não deveria estar, pois conquistou dentro de campo o direito de ficar na Série A”. A Portuguesa não pode se deixar ser envolvida pelo momento emocional e de tensão pelo qual o clube foi obrigado a enfrentar, depois do lamentável incidente de percurso. Essa iniciativa de ironia contribui negativamente para estigmatizar ainda mais o episódio que deve ser tratado como página virada, caso não seja possível reverter a realidade que se apresenta, pois os fatos não deixam dúvida de que o jogador não tinha condições legais de jogo e a consequência foi a perda dos pontos exatamente suficientes para decretar o rebaixamento do clube. Trata-se, ao que tudo indica, de fato consumado e que a lição deve ser aprendida, para que algo similar nunca mais volte a acontecer, principalmente com a Lusa, que tem sido vítima constante de enormes dificuldades, sendo sempre obrigada a enfrentá-las nos campeonatos que participa. Constituem tolice e irracionalidade essa absurda ideia de vestir a camisa do Fluminense, somente pelo fato de ele ter sido o clube que conseguiu escapar da queda, em virtude do erro crasso protagonizado pelo time paulista. Não há a menor dúvida de que a punição à Lusa, pela participação de seu jogador em importante partida, quando ele não tinha condições legais para jogar, como no caso em discussão, é por demais desproporcional e exagerada, embora a pena aplicada esteja prevista no regulamento que era do conhecimento dos clubes e com o qual todos estavam de pleno acordo com seus termos, tanto que a regra nunca foi questionada antes dessa absurda pena. Na verdade, o clube não deveria ser penalizado com rigor, mas situações futuras devem ser objeto de nova regulamentação, com medidas mais racionais a serem observadas na nova edição do Campeonato Brasileiro. Seria mais justo que o jogador fosse penalizado com multa pecuniária ou até mesmo com nova suspensão, caso ficasse comprovado prejuízo ao resultado do certame.  A Lusa precisa se conscientizar, com urgência, de que a situação deve ser analisada à luz da realidade dos fatos, caso seu jogador realmente tenha participado da partida sem que estivesse em condições legais de jogo, posto que ele, estando suspenso, em razão de punição aplicada por infringência de norma regulamentar, há configuração de irregularidade. O certo é que não competiria a nenhum outro clube verificar se o jogador estava em situação regular ou não, mas sim à diretoria ou à comissão técnica do clube paulista. É sem razão que a Lusa tente incriminar a Confederação Brasileira de Futebol, o tribunal desportivo ou o time carioca premiado, porque eles não tiveram participação no erro havido. A tentativa de mostrar insatisfação contra o fluminense não tem o mínimo de razão, porque o time carioca não contribuiu para tamanha negligência da Lusa, que não teve o cuidado de verificar a real situação de regularidade referente ao jogador pivô desse imbróglio, cuja falha grave deve ser atribuída exclusivamente ao pessoal da cúpula da Portuguesa. Acontece que, por mera coincidência, com a punição e o rebaixamento da Lusa, o Fluminense se beneficiou da situação, que poderia ter acontecido em favorecimento de qualquer outro time, que nem por isso também mereceria ser execrado, tendo em vista que o deslize, o erro crasso, foi protagonizado, de forma infantil e amadora, pela Portuguesa. O clube paulista deve ter a grandeza e a dignidade de assumir sua inadmissível falha, sem protesto, rancor, provocação ou ironia, considerando a total isenção dos demais clubes na decretação do seu rebaixamento, que até pode ser considerado injusto, pelas circunstâncias, mas não se pode atribuir culpa senão à própria Portuguesa.

 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

 
Brasília, em 23 de dezembro de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário