A diretoria da
Portuguesa, inspirada em ideia de torcedores, lançada nas redes sociais,
pretende usar, na Série B do Campeonato Brasileiro de 2014, um uniforme igual
ao do Fluminense, como forma de protesto pelo seu rebaixamento decretado pelo Superior
Tribunal de Justiça Desportiva, tendo ainda o fato de que os dois clubes vestem
cores parecidas: branco, verde e vermelho - no caso do Fluminense, grená. Na
verdade, seria uma maneira de provocação ao clube carioca, em razão de que a
Lusa perdeu quatro pontos, em virtude de ter escalado, na última rodada do
Brasileirão, jogador suspenso, cuja irregularidade implicou na sua queda para a
segunda divisão do futebol e na salvação do Fluminense da fragorosa degola da
Série A. O diretor da Lusa disse: “Nós
vimos a ideia na internet e passamos a discutir na diretoria. Eu acho que, se
ficarmos realmente na Série B, usar a camisa do Fluminense seria uma grande
forma de protesto contra um clube que sempre dá um jeito de escapar do
rebaixamento pelo tapetão. Se usarmos a camisa, o Fluminense estaria no
lugar que merece e onde a Lusa não deveria estar, pois conquistou dentro de
campo o direito de ficar na Série A”. A Portuguesa não pode se deixar ser
envolvida pelo momento emocional e de tensão pelo qual o clube foi obrigado a
enfrentar, depois do lamentável incidente de percurso. Essa iniciativa de
ironia contribui negativamente para estigmatizar ainda mais o episódio que deve
ser tratado como página virada, caso não seja possível reverter a realidade que
se apresenta, pois os fatos não deixam dúvida de que o jogador não tinha
condições legais de jogo e a consequência foi a perda dos pontos exatamente
suficientes para decretar o rebaixamento do clube. Trata-se, ao que tudo
indica, de fato consumado e que a lição deve ser aprendida, para que algo
similar nunca mais volte a acontecer, principalmente com a Lusa, que tem sido
vítima constante de enormes dificuldades, sendo sempre obrigada a enfrentá-las
nos campeonatos que participa. Constituem tolice e irracionalidade essa absurda
ideia de vestir a camisa do Fluminense, somente pelo fato de ele ter sido o
clube que conseguiu escapar da queda, em virtude do erro crasso protagonizado
pelo time paulista. Não há a menor dúvida de que a punição à Lusa, pela
participação de seu jogador em importante partida, quando ele não tinha
condições legais para jogar, como no caso em discussão, é por demais
desproporcional e exagerada, embora a pena aplicada esteja prevista no
regulamento que era do conhecimento dos clubes e com o qual todos estavam de
pleno acordo com seus termos, tanto que a regra nunca foi questionada antes
dessa absurda pena. Na verdade, o clube não deveria ser penalizado com rigor,
mas situações futuras devem ser objeto de nova regulamentação, com medidas mais
racionais a serem observadas na nova edição do Campeonato Brasileiro. Seria
mais justo que o jogador fosse penalizado com multa pecuniária ou até mesmo com
nova suspensão, caso ficasse comprovado prejuízo ao resultado do certame. A Lusa precisa se conscientizar, com
urgência, de que a situação deve ser analisada à luz da realidade dos fatos, caso
seu jogador realmente tenha participado da partida sem que estivesse em
condições legais de jogo, posto que ele, estando suspenso, em razão de punição aplicada
por infringência de norma regulamentar, há configuração de irregularidade. O
certo é que não competiria a nenhum outro clube verificar se o jogador estava
em situação regular ou não, mas sim à diretoria ou à comissão técnica do clube
paulista. É sem razão que a Lusa tente incriminar a Confederação Brasileira de Futebol,
o tribunal desportivo ou o time carioca premiado, porque eles não tiveram participação
no erro havido. A tentativa de mostrar insatisfação contra o fluminense não tem
o mínimo de razão, porque o time carioca não contribuiu para tamanha negligência
da Lusa, que não teve o cuidado de verificar a real situação de regularidade
referente ao jogador pivô desse imbróglio, cuja falha grave deve ser atribuída
exclusivamente ao pessoal da cúpula da Portuguesa. Acontece que, por mera coincidência,
com a punição e o rebaixamento da Lusa, o Fluminense se beneficiou da situação,
que poderia ter acontecido em favorecimento de qualquer outro time, que nem por
isso também mereceria ser execrado, tendo em vista que o deslize, o erro
crasso, foi protagonizado, de forma infantil e amadora, pela Portuguesa. O
clube paulista deve ter a grandeza e a dignidade de assumir sua inadmissível
falha, sem protesto, rancor, provocação ou ironia, considerando a total isenção
dos demais clubes na decretação do seu rebaixamento, que até pode ser
considerado injusto, pelas circunstâncias, mas não se pode atribuir culpa senão
à própria Portuguesa.
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 23 de dezembro de 2013
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