domingo, 15 de dezembro de 2013

À espera da dignidade política

Circula na internet importante reportagem versando sobre a situação funcional de juízes e políticos da Suécia, que é considerado um dos países de menor índice de corrupção do mundo, onde os aludidos servidores públicos têm, pasmem, o mesmo tratamento dispensado aos cidadãos comuns. O vídeo mostra um magistrado da Suprema Corte daquele país indo para o trabalho pedalando uma bicicleta. Nesse país, os juízes e os políticos não têm imunidade nem foro privilegiado. No caso dos juízes, eles não contam com secretária particular, auxílio, ajuda, gratificação, mordomia, regalia ou qualquer benefício nem vantagem senão os seus vencimentos, que variam entre R$ 12 mil a R$ 25 mil, que são considerados satisfatórios e suficientes para o custeio deles e o da sua família, quanto às necessidades de moradia, transporte, alimentação, educação, despesas médicas, lazer, atividades culturais etc. Os juízes e os políticos suecos são proibidos de receber presentes e cortesias e suas atividades são completamente transparentes e acessíveis pela sociedade, não havendo nada que impeça o conhecimento do que é feito no serviço público. Não há a menor dúvida de que os servidores públicos suecos, no caso de juízes e políticos, integram sistema civilizado, racional, transparente e eficiente que revela a sua compatibilidade com o nível de desenvolvimento cultural do seu povo, inspirado naturalmente nas conquistas e nos avanços da humanidade, hauridos nos salutares princípios de modernidade que devem se inserir necessariamente na administração pública dos países de primeiro mundo. No país tupiniquim, se depender exclusivamente da consciência dos homens públicos, nunca que ser mudado o status quo dos privilégios, das regalias, das mordomias, dos auxílios, das ajudas, das verbas de gabinete e de representação, das benesses governamentais e demais vantagens vergonhosas e injustificáveis, porque essa cristalina iniquidade se encontra arraigada e consolidada na mentalidade pouco evoluída dos homens públicos tupiniquins. Aliás, essa dicotomia entre a realidade socioeconômica e a suntuosa e perversa situação remuneratória dos políticos brasileiros somente é comparável ao que ocorre nas republiquetas, onde os homens públicos são verdadeiros aproveitadores dos recursos públicos e tratam o Estado como sendo da sua propriedade, com direito a se beneficiar dele o máximo possível, para satisfazer seus interesses. Induvidosamente, compete ao povo promover a indispensável reformulação da estrutura da administração púbica, com inspiração nos países desenvolvidos, a exemplo da culturalmente evoluída Suécia, de modo que sejam extirpados do serviço público os mecanismos contrários ao interesse da sociedade, notadamente as espúrias, inescrupulosas e indecorosas vantagens que privilegiam apenas alguns, sem a menor razoabilidade, em completa contraposição com a realidade do país, bastante sufocado diante do gigantismo do poder das classes dominantes, que têm enorme dificuldade de sensibilização e conscientização sobre a necessidade de reformulação e modernização desses ultrajantes métodos de exploração da sociedade, que se acomoda e permite que o país ainda seja administrado de forma ineficiente e sem a devida transparência, no sentido de não haver justificativa para os absurdos e inconvincentes privilégios no serviço público. Com certeza, o Brasil nunca vai se tornar um país desenvolvido culturalmente como a Suécia, porque seu povo não tem dignidade para exigir que a classe política dominante deixe de aproveitar o máximo das benesses do poder e dos recursos públicos, para se conscientizar sobre a necessidade de o patrimônio público ser respeitado e zelado, por depender dela a iniciativa de defender o interesse público. Urge que o povo se conscientize quanto à necessidade da real valorização das causas nacionais, de modo que a classe política seja inoculada com a sensibilidade de justiça, capaz de entender que a sua precípua e importante função é de representar com dignidade o povo, sem qualquer direito aos privilégios, às mordomias, às regalias e às vergonhosas benesses injustificáveis e incompatíveis com a maioria da população, que ainda vive no mundo real de completa miséria, enquanto o erário sustenta a vaidade de inescrupulosos homens públicos, que não abrem mão das vantagens e dos benefícios proporcionados de forma indevida e extravagante pelo Estado. O Brasil precisa, com urgência, de homens públicos com dignidade suficiente para perceber a realidade do país, captar as carências da população, entender que a finalidade de representar o povo não concede direito de ser diferente dele e que não deve ter o direito senão da remuneração suficiente para a sua manutenção e a da sua família, uma vez que o serviço público, mantido pela sociedade, deve ser preservado, zelado e bem administrado, haja vista que a política é o instrumento por meio do qual o homem público deve prestar serviços públicos, na forma escolhida como representante da sociedade, que tem o dever cívico de exigir que as funções político-administrativas sejam exercidas com dignidade e nobreza, principalmente por serem emanadas do povo, para representá-lo em forma de trabalho em prol e em benefício dele, com embargo de outros interesses. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 14 de dezembro de 2013

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