segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O inexistente legado

Em entrevista concedida a importante site, o presidente da Companhia Vale do Rio Doce afirmou que a presidente da República deixará marcante legado na área da saúde e na infraestrutura. Na opinião dele, o “Grande legado na área da saúde e iniciando um grande e vigoroso programa de infraestrutura”. Ao fazer essa afirmação, o ilustre dirigente demonstra que vive em país diferente e desconhece suas reais precariedades e mazelas, que martirizam a população mais carente do interior do país. Não deixa de ser curioso que as áreas por ele ressaltadas passarem por terríveis dificuldades e envolverem as carências básicas que exigem urgentes medidas saneadoras, sem que sejam adotadas as necessárias prioridades. Ante a importância da saúde pública e da infraestrutura para a sociedade, o que tem sido feito até agora é insignificante e insuficiente para satisfazer plenamente, pelo menos, o mínimo das necessidades do povo. Não há dúvida de que, em termos de publicidade, as ações públicas têm sido simplesmente enganosas, porque a realidade é bem diferente dos fatos propalados pela propaganda de cunho eleitoral. É fato que as pessoas que são atendidas, quando adoecem, nos hospitais de referência, a exemplo no Sírio-Libanês, desconhecem a lástima e os horrores do atendimento feito nos hospitais e unidades médicas do Sistema Único de Saúde, que se encontra em eterna decadência e sem perspectivas de melhoras, à vista do comodismo que impera nele e à falta de aperfeiçoamento e de modernização da sua estrutura, notoriamente arcaica e ineficiente. O legado negativo da presidente da República vem sendo mostrado, com bastante ênfase, por alguns programas da Rede Globo de Televisão, a exemplo do Fantástico, que tem feito importantes reportagens, expondo as vísceras imundas e podres da saúde prestada no país pela rede alimentada financeiramente pelo Sistema Único de Saúde, que repassa toneladas de verbas para as prefeituras e órgãos públicos, que contratam a prestação de serviços junto a cooperativas de fachada, que apenas fazem atendimento precário e prejudicial à população, justamente por se aproveitarem da falta de fiscalização por parte dos órgãos federais, responsáveis pela liberação dos recursos, mas incompetentes e sem condições de controlar a efetividade dos serviços prestados. Em pior situação se encontram os hospitais públicos, abarrotados de doentes pelos corredores, pelo chão, totalmente entulhados de mortos-vivos, sem condições de prestar minimamente a assistência de competência do Estado. O fantástico mostrou o retrato fiel da precariedade do sistema de saúde pública do país, em verdadeiro estado de falência e de irresponsabilidade das autoridades que têm a atribuição constitucional de zelar pelo que de mais importante o ser humano tem, que é a vida. O governo, depois das manifestações dos protestos das ruas, reclamando do desgoverno e da falta de políticas públicas de qualidade, resolveu importar milhares de médicos, num arroubo de dar inveja aos melhores estadistas mundiais, porém, não teve capacidade de preparar a infraestrutura para viabilizar as mínimas condições para o atendimento digno ao povo, porque somente a presença dos profissionais não significa absolutamente nada se não houver adequada estrutura para propiciar os exames necessários ao diagnóstico e ao tratamento dos pacientes. Em última análise, o governo, mais uma vez, fez tudo apressadamente, sem os indispensáveis suportes para o atendimento com qualidade e eficiência, demonstrando apenas que os recursos públicos são aplicados sem a menor efetividade e economicidade, haja vista a impossibilidade de resolver o grave problema da saúde pública, que não merece tanta negligência, à vista de os resultados alcançados não condizerem com a expressiva aplicação de recursos públicos, que poderiam ser despendidos em condições normais de planejamento estratégico para as situações emergentes e localizadas, dando-se prioridades aos casos de maior gravidade, de modo que a implantação do pleno atendimento à saúde pública poderia ser concretizada em obediência aos princípios da racionalidade, prioridade e economicidade, que prezam pela busca da eficiência e da eficácia, notadamente em se tratando de questões que envolvem vidas humanas, que não se harmonizam com remediações, despreparos e desorganizações, posto que o resultado das medidas efetivadas sirva apenas de mero paliativo, totalmente prejudicial ao interesse da sociedade, que não aguenta mais continuar nesse eterno sofrimento, diante das improvisações e das medidas empíricas, de pouca efetividade. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 22 de dezembro de 2013

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