Possivelmente com a finalidade de desviar o holofote
do rumoroso mensalão, que se encontra no auge das discussões na mídia, o
ministro da Secretaria Geral da Presidência da República afirmou ao site da IG
que “O ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso faz parte de um tempo em que não havia investigação para valer contra
autoridades. FHC não combateu
corrupção para valer. Os tucanos
estão habituados a um tempo em que o procurador-geral da República era o
engavetador-geral da República e que um procurador de São Paulo é um
errador-geral de pasta. FHC não pode dizer que a compra de votos para sua
reeleição foi uma coisa de menor importância. Há envolvimento de tucanos de
alto coturno no cartel do metrô paulista. No julgamento do mensalão, a punição
foi desproporcional ao erro cometido. Não houve uso de dinheiro público no caso
Visanet”. É interessante a forma sutil e deselegante como o petista
ressalta, em detalhe, falhas cometidas pelo governo anterior, procurando, ao que se intui, mostrar que falcatruas, corrupções e
irregularidades ocorrem em todo governo, não sendo novidade que elas tenham
surgido no governo que ele integra. Talvez ele quisesse, com sua delação,
justificar os fatos anormais ocorridos no governo petista, como sendo prática
corriqueira nos governos, como se isso tivesse o condão de sequer suavizar as
inadmissíveis maldades perpetradas pelos mensaleiros contra o patrimônio
público. As afirmações do ministro somente potencializam os erros
protagonizados pelos petistas, principalmente porque os mensaleiros integrantes
da cúpula do partido não sofreram nenhuma punição ante as irregularidades por
eles praticadas. Muito pelo contrário, apesar de eles terem sido condenados
pelo Supremo Tribunal Federal pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção
ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro etc., ninguém foi expulso do
partido, que seria a medida justa e correta prevista no seu Estatuto.
Diferentemente disso, os mensaleiros são exaltados e aplaudidos nas reuniões
petistas, sendo saudados como verdadeiros heróis, como se seus atos de
corrupção dignificassem as atividades político-administrativas, que os petistas
insistem em incutir na cabeça dos incautos que isso foi o que realmente
aconteceu, ou seja, na filosofia ideológica desse partido, a ética é contrariar
os salutares princípios da moralidade e do decoro, sem o menor pudor. Ainda bem
que a Excelsa Corte de Justiça cumpriu, com exação e imparcialidade, sua
importante incumbência constitucional de julgar com profundidade e competência
o escandaloso caso do mensalão, o mais delicado episódio político de corrupção
da história republicana, tendo conseguido mostrar as entranhas do vergonhoso
esquema arquitetado para desviar dinheiros públicos, destinados ao pagamento de
propina a parlamentares, em troca de apoio no Congresso Nacional a projetos de
interesse do governo. Impende frisar que um ministro petista da Suprema Corte
de Justiça, contrariando o entendimento do governo, acaba de sentenciar que o
dinheiro do Visanet era considerado recurso público, por estar sob a
responsabilidade e a gestão de empresa pública, no caso, o Banco do Brasil. Em
que pesem as substanciais provas materiais, periciais, testemunhais e outras
legalmente válidas, todas chanceladas pela Polícia Federal, pela Procuradoria
Geral da República e pelo Supremo Tribunal Federal, ainda assim os petistas não
se vergam à realidade dos fatos, o que reforça ainda mais o seu nível de
consciência quanto ao que realmente sejam para eles ética, moralidade,
probidade, honestidade..., que diferem completamente do pensamento das pessoas
que agem com lisura e cultuam a doutrina das boas condutas e dos bons exemplos
de dignidade. É pena que a sociedade, na sua plenitude, não perceba a gravidade
e a nocividade dos fatos de que trata o mensalão para o interesse público, haja
vista que eles seriam capazes até mesmo de se concluir pelo banimento do
partido governista da vida pública, por ter dado acolhido nos seus quadros
pessoas com índole aética, indigna e imoral, que contribuem para denegrir os
verdadeiros princípios democráticos e as estruturas dos procedimentos conformes
ao código da ética humana. Na verdade, o ministro continua coerente com a sua
consolidada filosofia de considerar normais os erros cometidos por seu partido,
porque eles não diferem das falhas praticadas por outrem, como se isso pudesse
justificar seus deslizes antiéticos e imorais. A sociedade precisa se conscientizar,
com urgência, de que qualquer ato de corrupção ou irregularidade com recursos
públicos deve ser severamente condenável e censurado, inclusive com aplicação
de duras punições aos envolvidos, para que sirvam de lição e fatos semelhantes
não voltem a incidir. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 17 de dezembro de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário