terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Envergonha e humilha a nação

Somente no país onde se acredita piamente na competência administrativa do governo, poderia confiar na pose de gênio dos negócios comandados pelo dono das empresas do X, que foram abundantemente beneficiadas com suntuosos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, graças à afinadíssima amizade dele com o então presidente da República, que facilitou o caminho rumo aos financiamentos públicos destinados aos empreendimentos do então homem mais rico do país. Agora, a farsa foi desvendada com o desmoronamento do império imaginário do empresário do X, que sucumbiu ante o peso de gigantesca dívida sem a devida garantia, cujo montante é avaliado supera os US$ 5 bilhões. O “Pedido de recuperação judicial” formulado pela petroleira OGX traduz a forma elegante e inconfundível do calote dado por gente de fino trato, como sempre ele foi distinguido nos palácios. A fragilidade financeira das empresas do X põe fim à tapeação, à enganação, aos seus acionistas, que acreditaram nas propagandas infundadas sobre a existência de petróleo nas reservas anunciadas e avalizadas pelos órgãos governamentais. O candidato a empresário mais rico do mundo faliu e forma melancólica, após ter erigido o império imaginário no país que alguém, de ideia “fértil” entende ter criado o “Brasil Maravilha”. Ambos se consideram o máximo no que fazem, embora seus empreendimentos sejam verdadeiros fracassos, que somente existem nas mentes dos incautos, que resistem em vislumbrar a realidade dos fatos e não a versão manipulada dos aproveitadores. O certo é que as pessoas têm facilidade em acreditar nas proezas inexistentes e nas realizações que nunca foram implementadas de verdade. Agora, resta saber o destino dos R$ 12 bilhões emprestados pelo BNDES às empresas X e quem vai assumir a dívida? É inadmissível que o governo conceda fabulosa fortuna como empréstimo sem ter a garantia do seu pagamento, em caso de falimento da devedora, dando a entender que é normal que recursos públicos possam ser jogados pelo ralo, sem que ninguém seja responsabilizado. No caso, não há dúvida de que cabe responsabilizar a diretoria do banco do povo, pela liberação de vultosas verbas que jamais retornarão aos cofres públicos. A falência do empresário do X e das suas empresas, sacramentada com o pedido de recuperação judicial, teria deixado a presidente da República envergonhada, segundo foi publicado pelo jornal britânico "Financial Times", sentenciando que “Deve haver momentos na carreira de todo político que os faz ter calafrios ao relembrá-los. Para a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, um deles deve ser o dia de abril do ano passado quando ajudou o falido empreendedor Eike Batista a comemorar o ‘primeiro óleo’ do que hoje são seus falidos campos na costa do Rio de Janeiro”. Na época, o empresário tinha a fama de ser o homem mais rico do Brasil, por amealhar fortuna estimada em mais de US$ 30 bilhões, investidos em empresas de petróleo, mineração, energia e logística. “Era o auge do relacionamento entre Batista e o governo”, diz o jornal. Trata-se, sem dúvida, do empresário xodó da presidente, que o aplaudia calorosamente nos seus encontros de trabalho e o colocava sobre as nuvens, por suas mirabolantes façanhas, que foram capazes de abrir os cofres do governo para financiar projetos destituídos de solidez econômica. O aludido jornal faz questão de lembrar “que em muitas maneiras era o empresário ‘de estimação’ do governo petista, cuja queda levanta dúvidas sobre a direção política futura”. A quebradeira dos negócios do empresário em questão não envergonha somente a presidente da República - se é que realmente ela teve esse sentimento -, mas as pessoas que acreditaram cegamente que os empreendimentos do “bilionário” estavam edificados sobre pilares sólidos, diferentemente da constatação da sua real estrutura sem consistência alguma, cujos aparentes castelos de cartas representavam fragilidades econômicas que o governo tinha obrigação de conhecer em profundidade, em razão da concessão de montanhas de recursos públicos, praticamente a fundo perdido, com vistas a evitar tamanha tragédia. A decadência vertiginosa do homem que já foi considerado o mais rico do país é o retrato da administração deste país, que repassou para empresas dele estrondosas quantidades de dinheiros públicos, sem ter a certificação sobre a garantia do retorno dos investimentos. Há dúvida se a concessão desses bilhões de reais passou pelo “severo” crivo da aproximação do empresário com governo, que pode ter sido capaz até mesmo de dispensar a comprovação da solidez patrimonial que se exige nos financiamentos privados, ou seja, é possível que se trate do maior calote da história aos cofres públicos, por pura negligência e inobservância das exigências legais aplicáveis à espécie. A sociedade tem o dever cívico de repudiar, com veemência, a forma desleixada como recursos públicos foram jogados pelos condutos das empresas X e exigir a responsabilização dos administradores públicos que deram causa à facilitação dos empréstimos em apreço, como forma de reparação dos danos causados ao Tesouro Nacional e de prevenção contra futuros casos semelhantes. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 16 de dezembro de 2013

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