Segundo notícia veiculada pela
imprensa, a posse do presidente estadual do PT no Rio de Janeiro se transformou
em ato de desagravo aos petistas presos no Complexo Penitenciário da Papuda, em
Brasília/DF. Na ocasião, os mensaleiros condenados pelo Supremo Tribunal
Federal foram chamados de "heróis" e saudados com palmas e palavras
de ordem contra essa Corte. O presidente estadual do PT disse que "Atacar José Dirceu, Delúbio Soares e José
Genoino é atacar a nós e aos 40 milhões de brasileiros que saíram da pobreza".
Já uma deputada petista pediu salva de palmas e orações pelos condenados,
dizendo que "Os nossos companheiros
só poderão suportar a prisão se tiverem a nossa solidariedade. Graças a Deus
eles não conseguiram algemar nossos companheiros e botá-los no camburão".
A mesma parlamentar aproveitou para atacar a "mídia burguesa e de direita" e afirmar que “Genoino está morrendo na cadeia. Nós não
estamos lidando com a Justiça. Estamos lidando com a injustiça.". O
presidente da Central Única dos Trabalhadores – CUT ressaltou que "Nós temos em Brasília companheiros heróis
que estão atrás das grades. Temos a obrigação de defendê-los". Não há
dúvida de que se trata de verdadeira idolatria de pessoas que não conseguem
enxergar a realidade dos fatos, porque a adoração aos ídolos se tornou paixão
extremamente excessiva. Infelizmente,
a idolatria tem muito a ver com a consciência e a formação do povo, que pode
ser facilmente instruído por mecanismo de manobra capaz de plasmar ideologia
amoldada aos interesses e às conveniências, inclusive da dominação, como no
caso que impera atualmente no país, em que o ideário programático da agremiação
se volta primacialmente para a perenidade no poder e a onipotência dos líderes.
Para tanto, não é novidade que criminosos que cometeram fraude contra a
administração pública sejam saudados e aplaudidos como verdadeiros heróis, em
completa inversão dos valores humanos e morais e do sentimento de honestidade e
de moralidade que se exigem no gerenciamento dos recursos públicos. No sistema
socialista, não é novidade que os heróis sejam justamente aqueles que conseguem
a conscientização da massa despreparada e menos instruída, por ser facilmente
manipulada e iludida por meio de benesses e assistencialismos com recursos
públicos e por outras migalhas em troca de massivo apoio, independentemente se
isso possa traduzir na ruína e na ineficiência da administração do país, a
exemplo do que ocorre na atualidade, onde a sociedade consciente da realidade
clama por eficiência e moralização da administração pública, com o fim da
corrupção e a implantação de políticas públicas efetivamente destinadas à
satisfação das necessidades básicas da população, consoante as manifestações de
protestos ocorridas no mês de junho último. O certo é que a idolatria aos
criminosos, às vezes nem claramente declarados como no caso dos mensaleiros,
mas com tendências para tanto, sempre resultou em enormes prejuízos aos
princípios democráticos e aos direitos humanos, conforme a historia mundial tem
mostrado com fartos exemplos com fins desastrosos para os rumos da humanidade,
que jamais conseguiu contorná-los, ante a sua perniciosa gravidade. É
inacreditável que se ponha em dúvida a credibilidade da sapiência e dos notórios
conhecimentos jurídico-constitucionais dos ministros do Supremo Tribunal
Federal, que chancelaram os resultados laudatórios, com conclusões peremptórias
sobre a culpabilidade dos integrantes do processo do mensalão, inclusive tendo
sido propiciadas as mais diversas formas de defesas e de contraditórios, tudo
nos termos e ditames constitucionais. Teria sido enorme brutalidade causada aos
envolvidos se o julgamento pertinente não tivesse se revestido da mais justa
sentença calcada nas provas dos autos. Desacreditar no resultado do mensalão
teria o mesmo sentido de acreditar na ingenuidade dos envolvidos nas fraudes
com recursos públicos para o pagamento de propina a parlamentares, como se nada
tivesse acontecido, embora os fatos tenham sido concretizados e efetivados,
devidamente comprovados nos autos e confirmados pelos beneficiários das
propinas. Na modernidade, com os avanços dos conhecimentos, imaginava-se que a
ingenuidade do ser humano tivesse limite e não pudesse ultrapassar o senso
mínimo de razoabilidade quanto à realidade dos fatos, sob pena de se cair no
absurdo do ridículo, como nesse caso dos mensaleiros. Afora isso, trata-se de
caso de picardia à sensibilidade humana, por ferir o comezinho princípio da
decência. Induvidosamente, esse estado de conscientização de considerar heróis
pessoas condenadas à prisão por crimes de formação de quadrilha, corrupção
passiva, lavagem de dinheiro etc., em razão de evidenciada lesão aos cofres
públicos, somente põe à mostra a cristalina faculdade pela qual o partido que
administra o país - tão importante como o Brasil - estabelece o julgamento
sobre fatos irregulares com a capacidade tal de opinar quanto ao que eles
significam perante aos princípios éticos e morais, segundo seja o seu senso de
responsabilidade, honestidade, retidão e probidade, dando a entender, sem
sombra de dúvida, o exato nível do seu real discernimento sobre as
consequências dos atos danosos praticados por correligionários, que, ao
contrário dos demais delinquentes, são aclamados e aplaudidos como verdadeiros
heróis, como se eles tivessem contribuído com algo de extraordinária proeza em
benefício do país e da sociedade. Na ótica das pessoas conscientizadas, os
fatos pertinentes ao mensalão constituem página negra da história republicana, por
terem manchados de forma indelével a dignidade do povo brasileiro e somente poderiam
ser lembrados como exemplo a jamais ser seguido pelos homens públicos dignos e
honestos. Em pleno século XXI, a sociedade não pode mais admitir que os cargos
públicos eletivos possam ser ocupados por homens públicos com mentalidade e
pensamento que ainda não se adaptaram aos princípios de civilidade e de
modernidade e tenham dificuldade para discernir o que realmente significa
corrupção, irregularidades com recursos públicos e incompetência na
administração pública, ante o sentimento de promiscuidade que eles insistem em
transmitir às pessoas de índole avessa à idolatria aos falsos heróis. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 03 de dezembro
de 2013
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