terça-feira, 31 de dezembro de 2013

À espera da conscientização política

Segundo foi constatado pelo jornal Folha de S.Paulo, o governo de Pernambuco fretou jatinhos e os colocou à disposição de deputados do Estado, para transporte deles e de seus familiares. Isso ocorreu pelo menos duas vezes, nos anos de 2011 e 2012, conforme notas fiscais e relatórios pertinentes. Nos termos de lei estadual, o governo do Estado deve "apoiar" autoridades de diferentes poderes, inclusive em transporte aéreo e terrestre, mas ela não específica os cargos e as ocasiões que isso possa ser viabilizado. O referido jornal ressalta que o governo pernambucano gastou aproximadamente R$ 4 milhões com o aluguel de jatinhos para que o governador se locomovesse à vontade no Brasil e noutros países, entre janeiro de 2012 a julho deste ano, sendo que alguns deslocamentos foram feitos para atendimentos oficiais e também de interesse partidário. O governo de Pernambuco aluga aeronaves com frequência desde 2007. Nas visitas realizadas, é normal o uso de aeronaves fretadas pelo governador, que, desde 2012, só fez uso de voos comerciais por três vezes. No período de janeiro de 2012 a julho de 2013, foram gastos pelo governo R$ 2,4 milhões com voos do governador em jatinhos, para reuniões de governo e encontros com a presidente da República. Os outros voos para reuniões com empresários e palestras/outros eventos custaram, respectivamente, as cifras de R$ 899 mil e R$ 843,6 mil. O governador pernambucano não quis se manifestar sobre os empréstimos de aeronaves aos parlamentares, mas, ao ser informado sobre a reportagem sobre o uso de aeronaves por parlamentares, pago pelo Estado, ele disse que “Cumpro minhas obrigações”, ao defender viagens pelo país. Com certeza, quando o governador de Pernambuco entrar para valer na campanha eleitoral, a sua administração deverá ser objeto de minuciosa investigação, para levantar a regularidade da sua gestão, que já começa a revelar a sua índole de esbanjador do dinheiro público, evidentemente com algum desprezo ao preceito da economicidade, como no caso do aluguel de aviões, procedimento que não se harmoniza com os desideratos do interesse público. Enquanto o governador torra milhões de reais nos ares do país, utilizando jatinhos fretados a preço que poderia ter enorme economia com preferência aos serviços dos voos comerciais, os sacrificados nordestinos do seu Estado passam por terríveis privações e dificuldades em decorrência dos efeitos da seca inclemente, justamente por falta de recursos que nunca escasseiam no palácio governamental, para custear as necessidades do mandatário do Estado, inclusive o transporte gracioso de deputados e seus familiares. É bastante desanimador se verificar que os homens públicos não tenham a sensibilidade sobre a realidade socioeconômica do país. Ao contrário, para eles, é importante a concreção da sua ideologia mórbida pelo sonhado poder, mediante o qual serão sublimadas a força política, a influência de domínio e a autoridade suprema, de modo a satisfazer plenamente suas necessidades egocêntricas por intermédio das poderosas benesses do serviço público, não importando os fins para o atingimento dos seus objetivos. O homem público jamais deveria se afastar do dever cívico e patriótico de ser fiel ao princípio democrático da governabilidade calcada na legalidade, transparência e economicidade. Ele deveria ter por norte a conscientização sobre a premente necessidade de privilegiar, nas suas atuações, o interesse público, com evidente embargo às paixões e às vaidades egoísticas, que não condizem com as benfazejas finalidades intrínsecas das atividades políticas. Antes de qualquer pretensão indispensável à modernização do Estado, convém que a mentalidade do homem público seja completamente reformulada, reestruturada e adaptada à realidade socioeconômica dos brasileiros, às reais finalidades institucionais do Estado, à exata dimensão da missão político-administrativa do cidadão político e, enfim, à prática da realização do bem comum da sociedade, fazendo emprego proveitoso dos recursos públicos, que não podem ser despendidos sem a rigorosa observância aos princípios da administração pública, com vistas à estrita consecução das finalidades públicas de satisfação das necessidades sociais. A nobreza no cumprimento das obrigações político-administrativas se encerra exatamente no poder da conscientização de que o homem público tem o dever moral e ético de ser extremamente cuidadoso e zeloso com a gestão dos recursos públicos, somente permitindo que eles sejam despendidos nas prioridades das políticas públicas. A sociedade anseia por que os governantes sejam tão cônscios sobre as reais responsabilidades político-administrativas quanto os são com relação às suas ambições pelo poder, onde, sem o menor pudor e de forma antidemocrática, são empreendidas suas ideias de dominação, de autoridade e especialmente de jurisdição sobre seus adversários políticos, que são tratados como verdadeiros inimigos, em contraposição aos princípios republicanos de igualdade e de unicidade como brasileiros. Acorda, Brasil! 
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 30 de dezembro de 2013

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