segunda-feira, 18 de maio de 2015

Basta de indignidades

Diante das medidas de ajustes fiscal e econômico, que trazem no seu bojo, entre outros assuntos, minirreforma previdenciária, que objetiva reduzir direitos de trabalhadores, aumentar tributos e dificultar a obtenção de benefícios pertinentes às relações de trabalho, com reflexos prejudiciais para quem já se encontra abandonado pelas políticas públicas, que são executadas ao arrepio das prioridades que deveriam ser prestigiadas, à luz dos princípios da administração moderna de eficiência.
          Em razão disso, conforme as recentes manifestações protagonizadas no plenário da Câmara dos Deputados, transmitidas pela televisão e disseminada pela mídia, até integrantes de sindicatos ligados ao governo não deixaram dúvida quanto à declarada rejeição ao PT, com palavras de ordem e distribuição de imitação de cédulas de dinheiro estampando figuras de importantes lideranças do partido oficial, em protesto pelas medidas contrárias às conquistas dos trabalhares.
Não somente diante dessa constatação, mas há robusta evidência de que muitos parlamentares já dão claros sinais sobre a conscientização de que o governo tomou o rumo contrário aos interesses da sociedade e dos trabalhadores, ao adotar medidas em dissonância com o seu discurso de campanha e a vontade popular, a exemplo do inconcebível aumento das contas de energia elétrica, em percentual médio de 40%, quando, há pouco tempo, houve o anúncio pela petista da redução da luz em até 20%, demonstrando gigantesca incongruência de gestão, que não condiz com os princípios da sensibilidade e razoabilidade que devem estar presentes nas atividades político-administrativas.
Embora com ano-luz de atraso, parece que o Congresso Nacional dá a entender que não pode continuar sendo verdadeiro puxadinho do Palácio do Planalto, nas decisões político-administrativas, onde a palavra final, em se tratando de projetos de interesse do governo, sempre vinha embalada e rotulada do Executivo, para ser seguida religiosamente, o qual ainda tinha o poder de comandar a pauta dos trabalhos do Legislativo, obviamente na discussão das matérias do seu interesse.
Em bom momento, o partido preferencial do governo, o seu principal aliado, parece que criou coragem e dignidade na sua postura, para, enfim, dizer que a autonomia dos poderes deve prevalecer, na forma prevista na Carta Magna, não aceitando as manobras palacianas de interferir nos trabalhos do Legislativo, que deve ter a grandeza de impor limites para realmente decidir, de forma soberana, sobre as matérias legislativas exclusivamente de interesse público, ou seja, em benefício da sociedade e em estrita harmonia com a sua função institucional de representante do povo e não de cumpridor da vontade do Palácio do Planalto.
É evidente que os congressistas precisam estabelecer a sua autoridade de poder legislativo, para mostrar ao Executivo sobre a necessidade de cada poder atuar exatamente no âmbito da sua delimitação constitucional, de modo que cada qual tenha realmente condições de exercer com competência e eficiência plenas suas missões institucionais, como forma de privilegiar, em obediência aos conceitos de modernidade administrativa, os saudáveis princípios republicano e democrático.
Em pleno século XXI, já passou do momento de os políticos tratarem as atividades político-administrativas com seriedade e civilidade, tendo em mira tão somente o interesse público e não a defesa do idealismo pessoal ou partidário, como vem acontecendo, na atualidade, com os atos praticados pela classe política dominante, cujo esforço é sempre no sentido de não se perder o menor espaço no âmbito do poder e no usufruto de seus privilégios e benesses, normalmente com menosprezo aos princípios da dignidade e da nobreza que devem imperar na administração do país.
Impende se observar, ainda, que a dignidade do homem público se mede pelo resultado de seus atos, que são avaliados segundo seus benefícios em prol do bem comum.
Convém que os homens públicos se conscientizem sobre a imperiosa necessidade da observância dos salutares princípios da dignidade, sinceridade, transparência e honestidade no exercício dos cargos públicos eletivos, à vista de que tal procedimento apenas cuida do fiel cumprimento do mandato delegado pelo povo, que aspira que seus representantes atuem com esmero, zelo e responsabilidade republicana e democrática, em benefício do interesse público. Acorda, Brasil!  
 
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 18 de maio de 2015

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