sexta-feira, 22 de maio de 2015

Reforma pra Inglês ver

No momento, discute-se na Câmara dos Deputados projeto de reforma do sistema político-eleitoral, contendo no seu bojo sugestões que objetivam modificar algumas regras das campanhas eleitorais, a maneira de votar, a forma de representação e a atuação dos políticos eleitos para o parlamento.
Muitos temas são de suma importância para o debate político não somente entre os congressistas, intramuros, tendo em conta que essa questão político-eleitoral envolve umbilicalmente o povo, que é a célula mater do sistema eleitoral e responsável pela escolha de seus representantes nos poderes Executivo e Legislativo.
Sabe-se de antemão que se encontram em pautas os temas preferenciais dos parlamentares, envolvendo, em especial: I - financiamento de campanha; II - reeleição para mandatos no Executivo e Legislativo; III - sistema eleitoral para o Legislativo; IV - coligações entre partidos; e V - suplência no Senado Federal.
Caso a Câmara dos Deputados tivesse real interesse em apresentar projeto de reforma do sistema político-eleitoral sério, transparente e comprometido com a realidade ansiada pelos brasileiros, certamente que teria buscado previamente subsídios junto aos eleitores, em especial, e às entidades civis organizadas, secundariamente, por terem ideias sadias, realistas, e absolutamente em sintonia com os objetivos e interesses da sociedade e não somete da classe política, que deveria atentar primacialmente para a real finalidade da reforma pretendida.
É óbvio que as propostas populares não atingirão a unanimidade, mas por certo teriam o condão de demonstrar racionalidade e coerência quanto ao aperfeiçoamento dos princípios democráticos, como forma de modernização do sistema político-eleitoral, inclusive com a possibilidade da moralização das atividades político-administrativas.
Há dúvida quanto à isenção e à imparcialidade sobre a atuação dos congressistas, porquanto certamente cada partido haverá de defender seus interesses, sua ideologia, lutando de forma intransigente, para não perder as regalias, os privilégios e as benesses proporcionados pelo status quo.  
Com certeza, os parlamentares vão promover intermináveis discussões sobre suas reformas, para, ao final, chegarem ao veredicto que deva prevalecer tão somente o entendimento para privilegiar apenas interesse pessoal e/ou partidário, sem a menor preocupação com as causas nacionais, porque ninguém vai querer ceder senão para conquistar mais espaços e regalias no âmbito das atividades políticas.
Se a Câmara quisesse apresentar projeto de reforma política séria e voltada para o aperfeiçoamento e a modernização pra valer da democracia, não teria criado, antes, comissão constituída exclusivamente de parlamentares para essa finalidade, mas sim convocaria o povo e a sociedade civil organizada, como a OAB, jurisconsultos e especialistas em Direito Constitucional e Eleitoral, com vistas a apresentar contribuição, sugestão ou trabalho que consubstanciasse a vontade popular, com as regras político-eleitorais para serem seguidas fielmente pelos políticos, segundo a vontade do povo, contemplando medidas de interesse público.
Essa medida guardaria conformidade com o princípio constitucional segundo o qual o poder emana do povo e em seu nome ele será exercido, ou seja, se o povo tem a incumbência de eleger seus representantes, assiste inteira razão que a legislação eleitoral seja formulada segundo os padrões que objetivem a satisfação das causas da nacionalidade e da população, com total e irrestrito embargo às manobras próprias da politicagem interesseira e fisiológica, demonstrada pelos partidos políticos constituídos, que mostraram a total fraqueza que move seus sentimentos ideológicos de dominação política.
A falta de harmonia já é evidenciada na formalização e discussão dos temas, onde os próprios correligionários discutem posições pessoais e partidárias, em clara indicação de que os interesses públicos serão relegados a panos secundários, ou seja, somente deverão ser acolhidos os temas e as situações que se encaixem aos interesses dos congressistas, responsáveis pelas mudanças pontuais, pois a reforma não se amoldará aos avanços da modernidade e do aperfeiçoamento idealizados e ansiados pelos brasileiros.
É lamentável que mais uma vez a vontade popular seja suplantada pela insensibilidade dos políticos, que demonstram total egoísmo ao promoverem reforma política sem a participação da parte verdadeiramente interessada nas mudanças do sistema político-eleitoral, como forma de se contribuir para as significativas alterações capazes de melhorá-lo com as tão aspiradas modernização e moralização. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 22 de maio de 2015

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