Num
esforço de extrema retórica e de puro ilusionismo, a presidente da República,
em pronunciamento público, disse, com a maior serenidade no semblante, que “O Brasil passa por um momento diferente do
que vivemos nos últimos anos. Mas nem de longe está vivendo uma crise nas
dimensões que dizem alguns. Estamos
na segunda etapa do combate à mais grave crise internacional desde a grande
depressão de 1929.”, ou seja, a um só tempo, ela entende que a crise é
apenas uma marolinha, mas, logo em seguida, reconhece a gravidade da tragédia,
deixando translúcida a posição antagônica e falta de coerência de análise sobre
a gravidade dos fatos político, econômico e administrativo.
Até
certo ponto, parece justificável que a mandatária do país se expresse com
tamanha imprecisão, evidentemente apenas no sentido de defender a sua condição
nada confortável de ocupante do mais importante cargo do país, que deveria
exercê-lo com o mais honesto possível, em termos de sinceridade sobre a análise
dos fatos circunstanciados à administração do país, cujo esforço de provar que
tudo vai muito bem no Brasil não passa de falácia, diante das evidências, que
saltam aos olhos, com as informações provenientes do próprio governo, dando
conta dos indicadores econômicos mostrando, em especial, o debacle quanto ao
descontrole das contas públicas e a completa desorganização da gestão dos
recursos públicos.
No
entanto, a única saída encontrada pelo governo para acudir a sua ineficiência
administrativa, como forma de encontrar medida, que não passa de simples
paliativo da agonia causada pela má gestão, foi a infeliz iniciativa dos
ajustes fiscal e econômico, tendo como artifício a retirada de direitos de
trabalhadores e aumento de tributos, como forma de penalizar ainda mais os
contribuintes, que já são castigados por uma das cargas tributárias mais
pesadas e escorchantes do mundo.
Não
obstante, lideranças governistas, no alto de suas varandas gourmet, em extremo conforto de seus lares e sob a enorme lupa
totalmente distorcida da realidade senão vista tão somente quanto à plena satisfação
de interesses pessoais, têm o despautério de acusar que as pessoas
insatisfeitas com o governo e com a administração do país são oriundas da elite
branca, da burguesia, ou seja, há insatisfação “Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia
insatisfeita.”, que simplesmente não aceita ser governado por aqueles que
“descobriram” o país e “salvaram” o povão da inanição e miséria.
É
bem provável que haja alguém que ainda acredite que o incômodo social se origina
somente da classe alta, por imaginação de desmerecer os protestos contra o
governo desacreditado, mas na verdade e de sã consciência, ninguém, na
atualidade, tem mais motivos para protestar do que os pobres, que enxerga logo
à sua frente o resultado da crise, com os preços subindo, o emprego se
afastando, a renda sendo reduzida, o governo arroxando no encarecimento das
contas de luz, de gás, dos transportes, dos alimentos e por aí afora, sem a
menor perspectiva de melhoras, em curto prazo, uma vez que a única salvação da
lavoura é somente esperada pelo sucesso dos famigerados ajustes fiscal e
econômico, que tem no seu bojo projeção de sacrifício para o povo, enquanto o
governo continua inerte quanto à necessidade de, ao menos, reduzir o
astronômico custo da pesadíssima máquina pública, que não resiste ao menor
teste de eficiência e competência administrativas.
Todo
quadro da atualidade visto e analisado pelos governistas é simplesmente ridículo,
sob o prisma da realidade do país, porquanto, ao invés de se imaginar a adoção
de medidas concretas, na tentativa de resolver e solucionar o malogro da incompetência,
ineficiência e corrupção instaladas, de forma clara e indiscutível, no arcabouço
da administração pública, eles escolheram a cômoda, nada construtiva e menos
aconselhável opção de denigrir o consagrado direito de o cidadão poder protestar
legitimamente contra as mazelas e as precariedades evidenciadas fortemente na
gestão pública.
O
resumo da ópera deixa muito escancarado o sentimento de que a presidente do
país, ao invés de tentar mostrar situação que não corresponde à realidade
brasileira, ante a dificuldade de convencimento, à luz dos fatos sobre a sua
gestão, deveria ter a humildade de se convencer de que os brasileiros, não
importando as classes sociais, como pobres, miseráveis, burgueses, ricos etc.,
nem a etnia, branca, negra, índia etc. já se conscientizaram sobre a verdadeira
crise que grassa impiedosamente no país, que é fruto exclusivamente das
deficientes políticas e administrativas de gestão governamental, que tiveram
significativa contribuição dos reiterados casos de corrupção para potencializar
de vez o caos na administração do país.
É
induvidoso que o pior governo é aquele que não tem insensibilidade e
discernimento apenas para manipular a opinião pública, no sentido de tentar, a
todo custo, modificar seu pensamento sobre os fatos políticos, preferencialmente
com penetração na classe menos informada, no caso, os pobres, por meio de maciça
propaganda extremamente favorável aos interesses do governo, a qual não é incontinenti
rebatida à altura com a devida verdade, caso em que termina prevalecendo a
irreal afirmação de que o governo sempre está ao lado dos pobres e que a culpa pelas
mazelas deve ser atribuída às elites, por criticarem os feitos em benefício da
pobreza, onde o país é formado basicamente por bolsões de miseráveis, que dependem
da ajuda do Estado e tende a sempre a acreditar na versão do governo.
Talvez o possível ódio das pessoas com
informação sobre as mazelas e as precariedades do país, que vem se intensificando
e se consolidando nos últimos dias contra o PT e o seu governo, esteja ligado à
escrachada falta de sinceridade de seus integrantes, ao prestarem informações
sobre a administração do país, não como os fatos são realmente, com a mais pura
transparência que normalmente são expostos em qualquer país civilizado e
evoluído democraticamente, em situação similar.
No caso do país tupiniquim, as informações são
prestadas normalmente ao sabor das conveniências políticas e de forma
absolutamente distorcida, na concepção de que toda população desconhece a
descomunal incompetência que contribuiu para que o país se encontrasse no
gravíssimo atoleiro, graças à politicagem irresponsável de, entre tantas
deficiências, se confiar a titularidade dos ministérios e das empresas públicas
aos aliados da coalizão de "governabilidade", que de governabilidade
mesmo somente existe a intenção, porque o que prevalece, de fato e de direito,
é o fomento ao recriminável fisiologismo ideológico, como forma de apoio à base
de sustentação do governo, em verdadeiro balcão de troca de favores que têm o
condão de contribuir tão somente para o desprezo aos princípios da eficiência,
dignidade e moralidade na administração do país.
É lamentável que o discurso da presidente não
tenha passado por indispensável reciclagem, como se faz o governo cônscio da
obrigação de dizer ao país somente a verdade, nada mais do que a verdade, uma
vez que a justificativa para a derrocada da economia foi empregada por todo o
primeiro mandato da presidente, que ficou o tempo todo dizendo que a crise
econômica internacional era responsável pela dificuldade do país, que não
conseguia melhores resultados do seu Produto Interno Bruto, inclusive com
fortes sinais de ingresso no processo recessivo, quando as economias dos países
que se encontravam em crise estão, no momento, em crescimento, com plenos
emprego e produtividade.
Não há dúvida de que a situação daqueles
países é bem diferente do quadro pintado pela presidente tupiniquim, que
deveria ter sensibilidade para reconhecer e aceitar que as dificuldades do seu
governo não podem ser atribuídas mais a fatores externos, mas sim a elementos
exclusivamente internos e da própria forma como as políticas públicas foram executadas,
com a orientação e sob a responsabilidade da mandatária do país, que não tem o menor
direito de se eximir de suas atribuições constitucionais nem da responsabilidade
pelos sucessos e principalmente dos fracassos do seu governo.
O certo é que o Brasil não merece passar por
situação tão lastimável, graças à fragilidade das políticas públicas adotadas
por governo que foi institucionalizado com o propósito de utilizar todos os
meios e modos, não importando os métodos, conforme declarado pelo maior líder
do partido governista, para se manter no poder, sem o menor pudor quanto ao
desprezo às causas da sociedade e do país, segundo mostra a evolução dos
acontecimentos, em que a classe dominante se desespera diante da simples possibilidade
do afastamento do poder, mesmo que a sua continuidade implique o aprofundamento
da crise, que já é mais do que notória e bastante prejudicial aos interesses
nacionais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 08 de maio de 2015
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