sexta-feira, 8 de maio de 2015

Não é o que dizem?

Num esforço de extrema retórica e de puro ilusionismo, a presidente da República, em pronunciamento público, disse, com a maior serenidade no semblante, que “O Brasil passa por um momento diferente do que vivemos nos últimos anos. Mas nem de longe está vivendo uma crise nas dimensões que dizem alguns. Estamos na segunda etapa do combate à mais grave crise internacional desde a grande depressão de 1929.”, ou seja, a um só tempo, ela entende que a crise é apenas uma marolinha, mas, logo em seguida, reconhece a gravidade da tragédia, deixando translúcida a posição antagônica e falta de coerência de análise sobre a gravidade dos fatos político, econômico e administrativo.
Até certo ponto, parece justificável que a mandatária do país se expresse com tamanha imprecisão, evidentemente apenas no sentido de defender a sua condição nada confortável de ocupante do mais importante cargo do país, que deveria exercê-lo com o mais honesto possível, em termos de sinceridade sobre a análise dos fatos circunstanciados à administração do país, cujo esforço de provar que tudo vai muito bem no Brasil não passa de falácia, diante das evidências, que saltam aos olhos, com as informações provenientes do próprio governo, dando conta dos indicadores econômicos mostrando, em especial, o debacle quanto ao descontrole das contas públicas e a completa desorganização da gestão dos recursos públicos.
No entanto, a única saída encontrada pelo governo para acudir a sua ineficiência administrativa, como forma de encontrar medida, que não passa de simples paliativo da agonia causada pela má gestão, foi a infeliz iniciativa dos ajustes fiscal e econômico, tendo como artifício a retirada de direitos de trabalhadores e aumento de tributos, como forma de penalizar ainda mais os contribuintes, que já são castigados por uma das cargas tributárias mais pesadas e escorchantes do mundo.   
Não obstante, lideranças governistas, no alto de suas varandas gourmet, em extremo conforto de seus lares e sob a enorme lupa totalmente distorcida da realidade senão vista tão somente quanto à plena satisfação de interesses pessoais, têm o despautério de acusar que as pessoas insatisfeitas com o governo e com a administração do país são oriundas da elite branca, da burguesia, ou seja, há insatisfação “Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.”, que simplesmente não aceita ser governado por aqueles que “descobriram” o país e “salvaram” o povão da inanição e miséria.
É bem provável que haja alguém que ainda acredite que o incômodo social se origina somente da classe alta, por imaginação de desmerecer os protestos contra o governo desacreditado, mas na verdade e de sã consciência, ninguém, na atualidade, tem mais motivos para protestar do que os pobres, que enxerga logo à sua frente o resultado da crise, com os preços subindo, o emprego se afastando, a renda sendo reduzida, o governo arroxando no encarecimento das contas de luz, de gás, dos transportes, dos alimentos e por aí afora, sem a menor perspectiva de melhoras, em curto prazo, uma vez que a única salvação da lavoura é somente esperada pelo sucesso dos famigerados ajustes fiscal e econômico, que tem no seu bojo projeção de sacrifício para o povo, enquanto o governo continua inerte quanto à necessidade de, ao menos, reduzir o astronômico custo da pesadíssima máquina pública, que não resiste ao menor teste de eficiência e competência administrativas. 
Todo quadro da atualidade visto e analisado pelos governistas é simplesmente ridículo, sob o prisma da realidade do país, porquanto, ao invés de se imaginar a adoção de medidas concretas, na tentativa de resolver e solucionar o malogro da incompetência, ineficiência e corrupção instaladas, de forma clara e indiscutível, no arcabouço da administração pública, eles escolheram a cômoda, nada construtiva e menos aconselhável opção de denigrir o consagrado direito de o cidadão poder protestar legitimamente contra as mazelas e as precariedades evidenciadas fortemente na gestão pública.
O resumo da ópera deixa muito escancarado o sentimento de que a presidente do país, ao invés de tentar mostrar situação que não corresponde à realidade brasileira, ante a dificuldade de convencimento, à luz dos fatos sobre a sua gestão, deveria ter a humildade de se convencer de que os brasileiros, não importando as classes sociais, como pobres, miseráveis, burgueses, ricos etc., nem a etnia, branca, negra, índia etc. já se conscientizaram sobre a verdadeira crise que grassa impiedosamente no país, que é fruto exclusivamente das deficientes políticas e administrativas de gestão governamental, que tiveram significativa contribuição dos reiterados casos de corrupção para potencializar de vez o caos na administração do país.
É induvidoso que o pior governo é aquele que não tem insensibilidade e discernimento apenas para manipular a opinião pública, no sentido de tentar, a todo custo, modificar seu pensamento sobre os fatos políticos, preferencialmente com penetração na classe menos informada, no caso, os pobres, por meio de maciça propaganda extremamente favorável aos interesses do governo, a qual não é incontinenti rebatida à altura com a devida verdade, caso em que termina prevalecendo a irreal afirmação de que o governo sempre está ao lado dos pobres e que a culpa pelas mazelas deve ser atribuída às elites, por criticarem os feitos em benefício da pobreza, onde o país é formado basicamente por bolsões de miseráveis, que dependem da ajuda do Estado e tende a sempre a acreditar na versão do governo.
Talvez o possível ódio das pessoas com informação sobre as mazelas e as precariedades do país, que vem se intensificando e se consolidando nos últimos dias contra o PT e o seu governo, esteja ligado à escrachada falta de sinceridade de seus integrantes, ao prestarem informações sobre a administração do país, não como os fatos são realmente, com a mais pura transparência que normalmente são expostos em qualquer país civilizado e evoluído democraticamente, em situação similar.
No caso do país tupiniquim, as informações são prestadas normalmente ao sabor das conveniências políticas e de forma absolutamente distorcida, na concepção de que toda população desconhece a descomunal incompetência que contribuiu para que o país se encontrasse no gravíssimo atoleiro, graças à politicagem irresponsável de, entre tantas deficiências, se confiar a titularidade dos ministérios e das empresas públicas aos aliados da coalizão de "governabilidade", que de governabilidade mesmo somente existe a intenção, porque o que prevalece, de fato e de direito, é o fomento ao recriminável fisiologismo ideológico, como forma de apoio à base de sustentação do governo, em verdadeiro balcão de troca de favores que têm o condão de contribuir tão somente para o desprezo aos princípios da eficiência, dignidade e moralidade na administração do país.
É lamentável que o discurso da presidente não tenha passado por indispensável reciclagem, como se faz o governo cônscio da obrigação de dizer ao país somente a verdade, nada mais do que a verdade, uma vez que a justificativa para a derrocada da economia foi empregada por todo o primeiro mandato da presidente, que ficou o tempo todo dizendo que a crise econômica internacional era responsável pela dificuldade do país, que não conseguia melhores resultados do seu Produto Interno Bruto, inclusive com fortes sinais de ingresso no processo recessivo, quando as economias dos países que se encontravam em crise estão, no momento, em crescimento, com plenos emprego e produtividade.
Não há dúvida de que a situação daqueles países é bem diferente do quadro pintado pela presidente tupiniquim, que deveria ter sensibilidade para reconhecer e aceitar que as dificuldades do seu governo não podem ser atribuídas mais a fatores externos, mas sim a elementos exclusivamente internos e da própria forma como as políticas públicas foram executadas, com a orientação e sob a responsabilidade da mandatária do país, que não tem o menor direito de se eximir de suas atribuições constitucionais nem da responsabilidade pelos sucessos e principalmente dos fracassos do seu governo.
O certo é que o Brasil não merece passar por situação tão lastimável, graças à fragilidade das políticas públicas adotadas por governo que foi institucionalizado com o propósito de utilizar todos os meios e modos, não importando os métodos, conforme declarado pelo maior líder do partido governista, para se manter no poder, sem o menor pudor quanto ao desprezo às causas da sociedade e do país, segundo mostra a evolução dos acontecimentos, em que a classe dominante se desespera diante da simples possibilidade do afastamento do poder, mesmo que a sua continuidade implique o aprofundamento da crise, que já é mais do que notória e bastante prejudicial aos interesses nacionais. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 08 de maio de 2015

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