A
presidente da nação completa 120 dias do seu segundo mandato, ainda sob o peso
da sua grave falha, que pode ser denominada de “governocídio”, por não ter combinado
com o eleitor, por ocasião da campanha eleitoral, que havia urgente necessidade de ajustes
na economia.
Não
é novidade que os governos precisem promover, quando necessários, ajustes nas
políticas econômica e fiscal, mas também é verdade que os políticos não são lá muito
de cumprir promessas de campanha, embora isso seja negação aos princípios da
verdade e da honestidade, que deveriam ser observados nos países minimamente
civilizados.
No
caso da petista, a maionese desandou de vez, em especial porque os fatos graves
da crise agora revelada nas entranhas do governo deixaram a presidente
desmoralizada, ante a dureza como ela garantia, na campanha eleitoral, que o
país se encontrava às mil maravilhas, com a rigidez no controle das contas
públicas, do dragão da inflação, das taxas de juros, dos preços administrados
pelo governo, como combustíveis, energia elétrica, tributos etc.
Na
campanha à reeleição, havia as promessas de governo de mudanças em benefício da
sociedade e do combate à corrupção, mas até agora o quadro é bastante
desanimador, porque a mudança foi para o agravamento das crises
político-administrativas, com o recrudescimento dos fatos relacionados à
corrupção, que tornaram ainda mais prejudiciais à gestão petista, pelas
explicitações dos fatos generalizados nos meios de comunicação, com a exposição
inclusive do reconhecimento oficializado pela Petrobras, com o registro no seu
balanço do prejuízo decorrente da corrupção, demonstrando o expressivo desvio
de mais de R$ 6 bilhões de roubalheiras por meio do escândalo do petrolão.
Ou
seja, houve a constatação da existência de indiscutível esquema de corrupção na
administração do país, irregularidades essas que passaram a ser banalizadas,
ante a sua intensificação, nas redes sociais, as quais contribuíram para a
degeneração das atividades políticas e administrativas do país, evidenciando o
momento brasileiro de fragmentação moral e de desconfiança sobre o porvir do
governo, que contribuiu em muito para tanto, ante a omissão sobre a real
situação econômica do país e as medidas que foram adotadas com vistas ao
conserto das desastradas políticas governamentais da primeira gestão do atual
governo.
Para
a surpresa dos brasileiros, a presidente, já reeleita e antes de tomar posse
para o segundo mandato, disse o que havia negado na campanha, que tempos
difíceis estavam por vir, com o anúncio, em seguida, da restrição de acesso a
benefícios trabalhistas e previdenciários, com a alteração de direitos conquistados
pelos trabalhadores, associados com aumento da tarifa de luz, dos preços da
gasolina, da passagem de ônibus, de tributos etc.
Tudo
isso foi omitido na campanha para não lhe custar a reeleição, conquanto seja
sabido que o desgaste do processo político se engrandece quando o debate é
feito às claras, sem mentiras ou omissões, para se evitar que a sociedade venha
mais tarde expressar sua insatisfação e seu desencanto, como acontece justamente
agora, com a brusca e vertiginosa queda da popularidade da presidente, fato
esse que poderia não estar ocorrendo se ela tivesse sido reeleita observado o pacto
da sinceridade e da verdade sobre a real situação econômica do país, que obrigariam
os inevitáveis ajustes promovidos pelo governo.
Como
se sabe, o princípio da dignidade política é construção de berço histórico e o
resultado das práticas dela decorrentes somente será satisfatório se ele
realmente for observado, a exemplo do memorável e famoso momento do discurso
proferido pelo então primeiro ministro da Inglaterra, Winston Churchill, logo
após o encerramento da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1940, quando ele
disse aos ingleses que nada tinha a oferecer-lhes “senão sangue, trabalho, lágrimas e suor”, expressão essa que foi
capaz de contribuir para o encorajamento da nação, que se tornou, em pouco
tempo, grande potência econômica, apesar dos estragos causados pela devastadora
guerra.
É
evidente que o Brasil não foi devastado senão pela incompetência e ineficiência
da gestão administrativa, mas à falta de sinceridade, de verdade, em
contraposição aos consagrados princípios da dignidade e honestidade políticos,
ignorados na campanha eleitoral, por não ter sido anunciado exatamente o que os
brasileiros seriam obrigados a encarar, contribuiu certamente para o desânimo
da população para o enfrentamento das dificuldades nos anos de 2015 e 2016, com
relação aos cortes de gastos, aperto financeiro, economia retraída, desemprego,
redução de renda, diminuição de arrecadação, falta de investimentos em obras,
desindustrialização etc., ou seja, sangue, suor e lágrimas exigidos dos
brasileiros, que não foram devidamente preparados para esse inevitável sacrifício.
Na campanha eleitoral, a verdade foi omitida exatamente
com relação ao que a presidente seria obrigada a fazer quando reeleita, mas ela
foi muito bem preparada para dizer as possíveis maldades que seriam protagonizadas
por seus adversários, caso eles fossem eleitos, em demonstração de clara
inobservância dos princípios da dignidade e da quebra da ética política.
É evidente que uma situação ou outra não corresponde,
em absoluto, à verdade dos fatos factíveis, porque isso patenteia forma de errática
manipulação dos fatos, obviamente com a finalidade de se ganhar a eleição, o
que não é correto diante da necessidade de os homens públicos terem a obrigação
de observar com rigor os princípios da dignidade, civilidade, ética e
moralidade, mesmo que esteja em risco o pleito eleitoral que participem.
No caso em comento, ficou bastante evidenciado que,
além de não haver sido informado os eleitores que seriam adotadas medidas duras
com implicação no sacrifício da população, notadamente quanto ao altíssimo
aumento das contas de luz, o caso se torna ainda mais grave pela tentativa de destruição
da reputação de opositores perante o eleitorado, quando se afirmavam, com
frequência e veemência, que eles seriam capazes de promover descontrolado
aumento nas contas sob a administração do governo, inclusive criando tributos,
enquanto a candidata oficial apenas iria melhorar a vida dos brasileiros, com
mais mudanças em benefício social, fato este realmente não materializado.
Não obstante, a caneta presidencial pesou nos
aumentos das contas da energia elétrica e dos preços dos combustíveis, além do
aumento de tributos e da retirada de direitos conquistados por trabalhadores,
sob o argumento da necessidade de ajustes econômicos, que foram omitidos por
ela na campanha presidencial.
Ou seja, sem o menor pudor, o governo contrariou não
somente o compromisso de campanha, mas também o seu partido e a sua base de
sustentação política, que não conseguem engolir a seco a quebra da palavra da
candidata oficial.
Muitos especialistas em política entendem que a
atitude da presidente petista representa verdadeiro estelionato político, por
não haver consonância com as promessas de campanha com as atitudes concretas
dela no exercício do cargo, notadamente quando as medidas exigem mais
sacrifícios da população, que já não suportava tanto arrocho e as precariedades
pertinentes à prestação dos serviços públicos e, principalmente, à execução das
políticas econômicas, ante os desastres demonstrados pelos seus indicadores,
que levaram o país à triste realidade da recessão, inclusive sem perspectivas,
em curto prazo, de retorno aos trilhos do desenvolvimento.
Não há dúvida de que as medidas adotadas de ajustes
fiscal e econômico causaram, principalmente à população, enormes insatisfações,
a qual vem se manifestando em explícita demonstração de desagravo quanto à
falta de sinceridade de quem tem o dever constitucional de ser a primeira
pessoa - que à época era também mandatária da nação - a dar o bom exemplo de
dignidade no cumprimento de suas palavras, inclusive aquelas pronunciadas ou
não ditas na campanha eleitoral, como parte ínsita do indispensável
aperfeiçoamento do consagrado princípio democrático. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 1º de maio de 2015
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