quarta-feira, 6 de maio de 2015

Os parâmetros da insensibilidade

A propósito da aprovação pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados do projeto que retende reduzir a maioridade penal no Brasil, de 18 anos para 16 anos, o arcebispo de Fortaleza criticou a medida de que se trata, alegando em reforçado argumento de que a questão não se resolve “simplesmente confinando as pessoas”, tendo aproveitado para exigir mudanças no sistema penitenciário brasileiro.
O religioso disse que “Não se resolve (a violência) simplesmente com questão de idade. É necessário mudar o sistema, o modo de se encarar toda a questão penitenciária do Brasil. Não se resolve simplesmente confinando as pessoas. Não é esse o problema”.
O aludido projeto se encontra na comissão especial da Câmara, que terá três meses para apresentar relatório com vistas à sua votação pelo plenário. Segundo apuração realizada, 77,8% dos integrantes dessa comissão são favoráveis ao projeto, que se encontra em perfeita harmonia com a vontade absoluta dos brasileiros, que se manifestaram por sua aprovação em percentual superior a 90%.
Embora as pessoas contrárias à proposta não demonstrem a menor preocupação com a situação das vítimas e muito menos tomem iniciativa para apresentar alternativa para reverter o cenário de violência prejudicial à sociedade, algumas manifestações insensíveis ao complexo conjunto da criminalidade são contrárias à medida em referência, mas são plenamente conformados com o status quo de completa falta de iniciativa quanto aos cuidados que os menores exigem para se perderem com a sua inserção no submundo da delinquência, onde o perigo é bem maior do que o cumprimento de pena, em razão do dano causado à sociedade.
Veja-se o caso da presidente da República, que classificou a matéria como “grande retrocesso” e pregou a aplicação de penas mais duras para aliciadores de menores no mundo do crime, como se o menor agisse exclusivamente sob a orientação e o comando de adultos sedutores, fato que demonstra distanciamento dela da realidade existente no submundo do crime, que, em muitas situações, é exatamente o menor quem lidera a operação infracional e, quando preso infringindo a lei, põe a culpa nos adultos, ou seja, os menores infratores, para as autoridades e aqueles que têm pensamento assemelhado, são os eternos inocentes, que não podem ser penalizados.
É bastante curioso que religiosos e autoridades públicas se manifestem em defesa da impunidade de criminosos adolescentes, embora se omitam quanto à proteção e à segurança da sociedade, que continua sendo sacrificada diante da omissão e da insensibilidade daqueles que são incumbidas das políticas de segurança pública, que igualmente se manifestam contra a redução da menoridade penal, a exemplo da presidente petista, cujo governo, que já ultrapassa dos 12 anos, nada ou quase fez para apoiar e proteger, de forma concreta e efetiva, os menores de idade, por meio de programas assistenciais sérios e eficientes, com vistas a propiciar-lhes dignidade e civilidade antes do seu ingresso no submundo da delinquência.
Não há a menor dúvida de que abrir a boca e dar opinião faz parte do contexto democrático, mas seria muito mais importante que religiosos, políticos e organismos da sociedade civil tivessem a dignidade de, não somente se manifestar contrariamente à medida alternativa apresentada pelo Congresso Nacional, que vem atender ao anseio de mais de 90% da população, que concorda com medidas duras contra a criminalidade juvenil, mas de apresentar sugestões substanciais e factíveis, com vistas ao aprimoramento e aperfeiçoamento de melhorias capazes de contribuir para, pelo menos, minorar a alarmante onda de violência contra a sociedade, que não suporta tanta barbárie praticada por menores que, se apreendidos, são "penalizados" com o castigo da reeducação ou da ressocialização de, no máximo, três anos, confinados em centros destinados aos menores delinquentes, sem a menor condição de oferecer reeducação social e de civilidade.
Nos países sérios e desenvolvidos, os religiosos, os governantes, os políticos pensam e agem não somente, de forma inconsequente, em defesa dos menores, mas em função da sociedade no seu conjunto, inclusive na situação de degeneração das vítimas e daqueles que são prejudicados pela violência em todos os níveis, algo que não se observa no país tupiniquim, onde a crise existente na segurança pública serve de argumento para alguém justificar a continuidade do status quo da criminalidade juvenil, por entenderem que é insignificante seu índice de incidência criminal, em relação à criminalidade dos adultos, como se isso tivesse o condão de justificar a censurável omissão dos governantes diante das chagas da violência e da persistência da impunidade.
Com certeza, a sociedade tem motivos suficientes para apoiar a redução da maioridade penal, justamente porque é a alternativa que vem ao encontro de seus anseios quanto ao combate à violência juvenil, cabendo às autoridades públicas se despertarem para a urgente necessidade da promoção de medidas capazes de encontrar solução para se evitar que essa medida sirva apenas como confinamento de menores de 18 anos de idade, quando a adoção de projetos de dignificação e de valorização do menor poderá contribuir para que, mesmo aprovada a redução em causa, suplante a necessidade cogente do enclausuramento do delinquente juvenil da sociedade. Acorda, Brasil!
 
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 06 de maio de 2015

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