"A mulher de César não basta ser honesta,
deve parecer honesta.”. Júlio César, Imperador Romano
O petista, ex-presidente da República disse, a
propósito das denúncias de envolvimento dele em esquemas de corrupção, que “Se tem uma coisa de que me orgulho e que não
baixo a cabeça para ninguém é que não tem nesse país uma viva alma mais honesta
do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, do Ministério Público, da Igreja
Católica, da igreja evangélica, nem dentro do sindicato. Pode ter igual, mas eu
duvido”.
O ex-presidente entende que são remotas as chances
de que ele seja indiciado nos processos que apuram corrupção na Petrobras e
outras estatais: “Não há nenhuma
possibilidade de uma ação penal, a não ser que seja uma violência contra tudo o
que se conhece neste país. O próprio Moro (juiz Sérgio Moro) já disse que eu não sou investigado”.
Ele faz referência ao magistrado que conduz os processos relativos às
investigações da Operação Lava-Jato.
O ex-presidente aproveita para criticar a
publicação de “mentiras” contra ele e
sua família nos meios de comunicação. Ele afirmou que “O meu filho Fábio, o que fazem com ele é uma violência”, principalmente
em relação aos boatos que são disseminados pelas redes sociais.
Diante da surpreendente afirmação de tanta
honestidade por parte do ex-presidente, os brasileiros ficaram abismados por não
entenderem o porquê de, no governo dele, terem sido feitas tantas alianças com
políticos que tinham a fama de mau caráter e que, antes, eles eram considerados
ladrões, picaretas, corruptos e desonestos, mas a necessidade de composição
política, por razão de conveniência, foi capaz de ignorar o passado nefasto e
sujo atribuído a eles, em nome da governabilidade, da absoluta dominação e da
perenidade no poder.
Mais recentemente, na última eleição, o
ex-presidente disse, com bastante exaltação, que seria capaz de fazer o diabo e
fez, para ganhar a eleição e reeleger a sua pupila, fato, que, na verdade, caracteriza
sentimento de indiscutível desonestidade, não comportando comparativo com
nenhum paradigma senão com a própria impureza de atos indignos e revestidos de
suspeição, a exemplo dessas estapafúrdias ameaças para ganhar eleição.
No presente momento, há enxurrada de denúncias
envolvendo o ex-presidente como ter se beneficiado de reforma em apartamento
supostamente da sua propriedade, uma vez que ela foi executada segundo as orientações
dele e da sua mulher, e em sítio frequentado por ele e sua família, tudo sob a
batuta de construtoras integrantes dos escândalos do petrolão, que consiste no
desvio de recursos da Petrobras, embora ele jure de mãos postas que não tem
nada com os fatos inquinados de irregulares.
Ao que se sabe, o princípio prevalente no Estado
Democrático de Direito não se coaduna com a destruição de valores, como também
a intimidação de pôr o Exército do MST na rua contra aqueles que não comungam
na mesma cartilha ideológica do PT ou por outra forma contrária à licitude, por
serem formas de desonestidade contra os princípios legitimamente democráticos,
que se fundam em conceitos de respeito à integridade de pensamento, sentimento
e ideologia, mesmo que isso possa contribuir para contrariar os interesses e as
conveniências pessoais e partidárias.
Não há dúvida de que as afirmações do ex-presidente
são muito importantes como tentativa de defesa da sua honestidade, no sentido
de se pregar a ideia de "que não tem
nesse país uma viva alma mais honesta do que eu", mas isso somente pode
ser compreendida sob o prisma de quem faz a avaliação sobre o grau de
honestidade e ainda sob o seu ângulo de visão, compreendendo não haver
suspeição sobre os atos praticados.
Não obstante, esse sentimento pode não ser
exatamente o que pensa a sociedade, que tem entendimento diametralmente
diferente do petista sobre o que seja realmente honestidade, que não se encaixa
nos atos praticados pelo petista, por demonstrar que nunca sabe de nada nem
assume a responsabilidade por seus atos, contrariando os princípios que regem
as práticas e atividades públicas, que exigem, entre outras atitudes de
transparência, a prestação de contas sobre seus atos.
Na realidade, a avaliação do ex-presidente pode ser
entendida como se os brasileiros pudessem cometer desdizes que são considerados
honestos e que as incorreções por ele praticadas estariam na faixa daquelas
toleradas como honestas e ninguém seria capaz de afrontar a sua condição de
honestidade, ou seja, trata-se de avaliação subjetiva quanto ao conceito de
honestidade, em que aquilo que contribui para a satisfação pessoal é honesto e
todos têm o direito de realizar seus projetos sempre entendendo que eles estão
no plano da correção, por atender aos seus objetivos, mesmo que isso possa ser
visto por outrem como desonestidade, mas para o seu autor eles são sempre considerados
honestos, porque lhe satisfazem plenamente.
O ex-presidente, como mestre em filosofia, tem todo
direito de afirmar que é a pessoa mais honesta do Brasil, pelo menos em termos
de alma viva, evidentemente sob a visão e a avaliação pessoais e isso é uma
virtude apenas no plano particular, porque muitos fatos podem contrariar esse
sentimento, à luz da avaliação da sociedade, em se tratando que ele é homem
público, que tem obrigação de prestar contas sobre seus atos, que precisam se
revestir de regularidade, sob os princípios da dignidade e honestidade.
A afirmação do ex-presidente vem em momento muito
importante, por poder contribuir para a reflexão da sociedade, quanto ao que
realmente seja honestidade, principalmente para a avaliação sobre o verdadeiro
paradigma do que seja realmente homem público compatível com os atributos de
estadista desejável e capaz de comandar os interesses dos brasileiros, de modo
que sua compreensão sobre honestidade tenha a exata e única dimensão universal
do que seja realmente retidão, correção, honradez, probidade, dignidade,
decência, compostura... Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 31 de janeiro de 2016