sábado, 9 de janeiro de 2016

As qualidades inexistentes


A presidente da República, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, desejou Feliz Ano-Novo aos brasileiros, a par de afirmar que "estar convicta da capacidade do país de chegar ao fim de 2016 melhor do que indicam as previsões atuais".
          O extemporâneo sentimento alentador da petista tem por base, segundo ela, "A principal característica das crises econômicas do Brasil, desde os anos 1950, é uma combinação entre crise externa e crise fiscal".
A presidente reconheceu que cometeu erros em 2015 - sem citá-los, embora sejam inumeráveis e graves, ante a dramática situação econômica, em especial -, mas afirmou que eles só foram agravados por fatores da economia internacional e pela "instabilidade política que se aprofundou por uma conduta muitas vezes imatura de setores da oposição que não aceitaram o resultado das urnas e tentaram legitimar sua atitude pelas dificuldades enfrentadas pelo país".
A presidente aproveitou o ensejo para repetir velha ladainha de que a culpa ou a responsabilidade pela crise econômica é do cenário externo ou, conforme a circunstância, de seus adversários pelas medidas escolhidas teimosamente por ela, que, invariavelmente, sempre resultam em estrondoso fracasso, à vista da situação periclitante e trágica que se encontra o país.
Como de costume, nunca foi virtude da presidente do país fazer autocrítica, nem mesmo agora que a sua popularidade se encontra bem no fundo do poço ou, quem sabe, no volume morto, quando ela prefere, sem nenhum disfarce, apontar o dedo contra a oposição e a outros fatores inconsistentes para responsabilizá-los pelos desastres das políticas fiscais da sua gestão. Ela também não assume as políticas equivocadas da "nova matriz econômica" - a jogada de marketing do petismo quando a onda era a favor para flexibilizar o tripé econômico: câmbio flutuante, superávit fiscal e meta de inflação.
A presidente arrisca prognóstico pra lá de perigoso para a inflação, ao afirmar que "Ela cairá em 2016, como demonstram as expectativas dos próprios agentes econômicos". A propósito, na campanha eleitoral, a então candidata à reeleição também assegurava, até com veemência, que a inflação não voltaria a assombrar a vida dos brasileiros, como demonstravam as expectativas dos agentes econômicos, mas o resultado é bastante trágico, representado por duas casas decimais, que atemoriza o bolso dos brasileiros, por haver verdadeiras corrosão dos salários e elevação do custo de vida, com a gravidade de que não há perspectiva de arrefecimento, em curto prazo, da espiral inflacionária.
A presidente também se saiu com importante pérola, ao seu estilo de fazer prognóstico vazio, tendo afirmado que "o investimento direto estrangeiro demonstra confiança dos investidores", assertiva essa que é contrária às mais otimistas expectativas, uma vez que a petista fez questão de ignorar, por completo o fato de que duas importantes e principais agências de classificação de risco terem rebaixado a nota de crédito do Brasil, retirando dele o grau de investimento, que contribuiu justamente para a debandada dos investidores estrangeiros.
A presidente se autocongratula pela realização de reforma administrativa, sem que ela tivesse a sensibilidade para compreender o absurdo que representa a máquina pública, muito inchada, dispendiosa e ineficiente, que exige profunda racionalização, aperfeiçoamento, enxugamento e sobretudo moralização, no que diz respeito à urgente eliminação do loteamento dos ministérios e das empresas estatais entre os políticos aliados, que são seduzidos pela magia dos cargos públicos e do tráfico de influência propiciados pelo poder.
Com relação à perda de rumo das políticas econômicas e dos injustificáveis e absolutamente indevidos autoelogios, em meio às dificuldades, a presidente conclui a matéria citando texto sério e honesto, porém, ele não passa de falácia, porque a sua aplicação foi sempre desprezada exatamente por quem mais devia, qual seja, o partido da presidente brasileira, que expressou essa lapidar citação: "O Brasil é maior do que os interesses individuais e de grupos".
Trata-se de mera frase de efeito, que não consegue ultrapassar os muros construídos pelo ideário petista de que os fins justificam os meios, como forma da manutenção da dominação absoluta da classe política e da perenidade do poder.
É inacreditável que a presidente do país reconheça que cometeu erros na sua gestão, mas não os assume, preferindo imputá-los à incompreensão da oposição, fato que deixa transparecer o tamanho da irresponsabilidade, por haver acusação leviana contra quem não tem participação nas impropriedades e até nas irregularidades, a exemplo das pedaladas fiscais, que também foram praticadas pela petista, em 2015.
Com certeza, os brasileiros não merecem governo tão perdulário e autocrítico apenas reconhecendo as qualidades inexistentes, porque os fatos mostram a realidade totalmente contrária às afirmações da presidente, que ainda foi incapaz de perceber o real tamanho do estrago que a sua desastrada gestão causou ao país e aos brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 09 de janeiro de 2016

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