terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O extremo da excrescência


Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o governo promove pente-fino nos cargos de primeiro, segundo e terceiro escalões do Executivo, com a finalidade de mapear as indicações políticas e usá-las como forma de evitar o impeachment da presidente da República.
A medida em causa tem por objetivo detectar os reais padrinhos dos ocupantes dos cargos de confiança do governo, para pressioná-los a votar contra o afastamento da petista ou negociar cargos com quem esteja disposto a defender a permanência da petista no cargo.
O certo é que estão no tabuleiro do jogo político aproximadamente 22 mil cargos comissionados da máquina federal, não se tendo ainda precisa definição quanto à vinculação dos apadrinhados aos deputados, mas a varredura vai mostrar o tamanho da excrescência representada nesse mundo sujo das nomeações em troca de apoio político.
Já estão condenados à degola os afilhados do presidente da Câmara dos Deputados, patrocinador do processo de impeachment da petista e inimigo número um do Palácio do Planalto, e outros grupos já identificados, que são considerados como “inaceitáveis” nessa pouca-vergonha de balcão de negociatas entre governo e parlamentares.
É evidente que os padrinhos que já declararam seu apoio ao impeachment da presidente são os primeiros a receber a fatídica notícia sobre seu apeamento do governo, cujas cotas serão objeto de negociações com quem esteja decidido à subserviência ao Palácio do Planalto, em troca da sua consciência a favor da continuidade da imoralidade e da incompetência na governança do país.
          O trabalho a ser empreendido com o vasculhar de nomeações pode ser penoso, porque muitas delas estão fora de controle há bastante tempo ou por terem vindas de governos anteriores ao do PT, ou até mesmo podem ter caído no esquecimento quanto aos supostos padrinhos.
Esse problema não existe somente com relação ao PMDB, mas com os partidos da base de sustentação, o que exige, segundo o governo, o mapeamento e a busca da origem da indicação política.
Como se trata de gigantesco trabalho de levantamento sobre a situação de cerca de 22 mil cargos comissionados, que estão dispersos país afora, o governo bem que poderia dar efetividade ao mapeamento não para fins de intensificar o degenerativo fisiologismo na administração pública, em troca de indigno apoio pessoal, mas sim para atitude de administrador digno, responsável, sensato e zeloso, no sentido de determinar a redução de, pelo menos, dois terços dessa quantidade absolutamente dispensável, à vista do enorme desperdício com a manutenção desse verdadeiro cabide de empregos, apenas para atender à sanha dos políticos vendáveis por cargos públicos.
A situação envolvendo cargos públicos é tão vergonhosa e deprimente que o mapeamento de cargos também terá a função de subsidiar as conversas que o governo irá ter sobre as escolhas das lideranças dos partidos da sua base de sustentação, porque ele considera fundamental garantir o maior número de líderes na Câmara contrários ao impeachment, uma vez que são eles que vão indicar os integrantes da Comissão Especial do impeachment.
Nessa discussão sobre as negociatas envolvendo cargos públicos, fica difícil de saber quem, na verdade, é menos digno, se o governo, que aparelha o Executivo com a pior qualidade de pessoas sem o indispensável preparo técnico-especializado, que presta serviços compatíveis com a sua pouca experiência, ou se os parlamentares, que são cooptados pelo afago de cargos públicos e outras benesses provenientes do poder, como forma de atender exclusivamente objetivos pessoais, porém, em ambos os casos, fica a caracterização do ferimento dos princípios da moralidade e do decoro, à vista do uso da máquina pública e, em última análise de recursos púbicos, para a satisfação de interesses e conveniências múltiplas.
Ou seja, fica a caracterização de verdadeira negociação a céu aberto, em que a presidente do país, sem o menor escrúpulo, libera cargos públicos para congressistas, em troca da salvação do seu cargo, como se essa ilegalidade, imoralidade, fosse absolutamente normal, à luz dos salutares princípios e das boas condutas que devem, necessária e rigorosamente, ser observados pelos homens públicos dignos, merecedores de respeito.     
Em momento de enorme fragilidade e de impopularidade da presidente, a medida cogitada pelo governo parece impregnada pelo ranço da chantagem e da negociata, com fins cuidadosamente estudados nos mínimos detalhes, mas não estar havendo o devido cuidado quanto aos mais comezinhos sentimentos de dignidade como devem ser tratada a coisa pública, que jamais pode ser desprezada, quanto à observância dos princípios da legalidade, da moralidade e do decoro. Essa atitude do governo representa confissão de crime, cabendo seu enquadramento nessa situação, caso ela venha a se efetivar na forma preconizada.
A situação em comento é esdrúxula e deprimente, a ponto de denotar a materialização de ato que depõe contra a dignidade pública, em se tratando do principal ocupante do cargo da República, que deve se revestir da necessária proteção da honradez, moralidade e legalidade.
É induvidoso que atitudes como essa são capazes de causar muita vergonha à nação, em especial aos brasileiros que têm a sensibilidade de aquilatar o quanto a seriedade do país se constrói somente por meio de atos sob o império da honorabilidade, dignidade e, sobretudo, moralidade pública.
          Ademais, revela-se de extrema indignidade por parte do governo o loteamento, de longa data, de ministérios e empresas estatais entre aliados, ávidos pelas benesses do poder, como cargos públicos e traficância de influência, em vergonhosa troca de apoio no Congresso Nacional, como já ficou conhecido o esquema do toma lá, dá cá de fidelização de congressistas ao Palácio do Planalto.
          Essa forma excrescente de aparelhamento do Estado, além de ser condenável e censurável, é criminosa contra a administração pública, por se tratar de procedimento oblíquo de nomeação de dirigentes sem a devida comprovação de experiência e preparação profissionais, que são essenciais ao exercício de funções públicas, fato que contribui para piorar ainda mais a péssima prestação dos serviços públicos, conforme demonstram os resultados das políticas públicas, todos repudiados pela população, que já não suporta tanta precariedade na educação, na saúde, na segurança pública, nos transportes etc., motivo da insatisfação contra a presidente do país, que tem a maior impopularidade da história republicana, em que pese ela também não demonstrar o mínimo de esforço para perceber que o seu grave erro foi justamente ter deixado de colocar pessoas competentes, preparadas e especializadas na direção dos ministérios e das empresas públicas, como forma de garantir qualidade e eficiência dos serviços públicos.
Na verdade, a ameaça aos deputados favoráveis ao impeachment da petista, com pente-fino sobre os apaniguados e assemelhados incompetentes é a cristalina evidência da desmoralização do serviço público, que é entregue à incumbência de políticos, para a satisfação de objetivos pessoais, em troca, agora ficando caracterizado, de apoio pessoal à presidente petista, para a blindagem contra o impeachment dela, fato que, à luz do ordenamento jurídico pátrio, caracteriza crime contra a administração pública.
Compete aos órgãos de controle e fiscalização, às organizações civis, aos partidos políticos oposicionistas e às demais autoridades públicas a formalização de competentes demandas, na via administrativa ou judicial, com vistas à denúncia dessa indiscutível excrescência e ilicitude, diante do ferimento dos salutares princípios da ética, moralidade, legalidade e dignidade que devem imperar na administração pública, exigindo a responsabilização da mandatária do país, por sua atitude repudiar os saudáveis conceitos da boa conduta na governança do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 12 de janeiro de 2016

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