quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Degeneração da dignidade


Diante da iminência do rompimento entre a presidente da República e seu vice, subiu a pressão da "guerra fria" envolvendo interesses dos dois principais ocupantes de cargos da República, onde sobressai a definição de estratégias distintas para enfrentar o processo de impeachment da petista.
Enquanto o vice - que poderá assumir a Presidência em eventual afastamento da petista – tenta, como principal medida, a unificação da bancada do PMDB da Câmara dos Deputados, que se encontra rachada ao meio, por conta da escolha do seu líder, o Palácio do Planalto aumenta a pressão sobre os deputados da bancada peemedebista que detêm cargos do governo federal, notadamente nos Estados, havendo cada vez mais frequentes ameaças lado a lado, na tentativa de mostrar domínio da bancada.
A presidente e seu vice concluíram conversa afirmando que trabalhariam na busca de convivência "profícua", mas o peemedebista deixou claro que vai se dedicar ao comando do PMDB.
Não obstante, aliados do vice garantem que a petista busca fustigá-lo dentro da sigla, que se encaminha para convenção, com vista a consolidar o rompimento com o governo, sem antes a bancada se unir em torno do vice, depois de entregar os cargos que ainda estão sendo ocupados na Esplanada dos Ministérios.
O vice vem se esforçando, como estratégia fundamental, para “consolidar” a sua força na Câmara, conforme ressaltou um auxiliar do vice-presidente, que disse: "Esse é o primeiro passo, pois temos certeza de que, se houvesse uma convenção nacional do partido agora, a tese do rompimento venceria de lavada". Já outro deputado peemedebista disse que, hoje, o Palácio do Planalto ainda exerce pesada influência na bancada, porque "A caneta ainda está com a Dilma".
Não há dúvida de que o PMDB é o partido que tem enorme poder de influenciar decisão de outros partidos da base aliada, com relação ao impeachment da presidente, conforme sentenciou um parlamentar, nestes termos: "É por isso que está todo mundo de olho no PMDB. Se de fato o partido se unir e romper em favor do impeachment, os demais partidos da base vão fazer o mesmo. Podemos ir até o velório, mas ninguém vai querer ser enterrado com o governo.".
Na verdade, o primeiro passo para o rompimento entre o PT e PMDB foi dado com a divulgação da carta dirigida à presidente, onde o vice reclama da falta de confiança da petista a ele e ao seu partido.
É impressionante como o Brasil foi completamente tomado por graves crises de governabilidade, evidenciando a incompetência da gestão pública, em que a presidente do país demonstra total incapacidade para evitar que a situação se torne cada vez mais periclitante, mas os homens públicos estão se debruçando e brigando sobre as definições de estratégias para a dominação e a distribuição de cargos, como forma de garantir a permanência no poder.
A situação se torna ainda mais ridícula porque ninguém está preocupado em pensar no que seja melhor para o Brasil e o povo, em termos de solucionar a questão de ingovernabilidade, que já atingiu o ápice da incompetência, inépcia e ineficiência, porque já foi esgotada qualquer possibilidade de reversão das crises política, econômica, ética e administrativa, mas a briga se concentra na disputa de cargos na Esplanada dos Ministérios, como instrumento capaz de dizer se o país vai continuar sendo comandado pela incompetência administrativa ou se haverá mudança, como forma de possibilitar a interrupção dessa agonia massacrante que o governo impôs aos brasileiros.
Tanto isso é verdade que a presidente do país já sinaliza por minirreforma ministerial, ainda no começo deste ano, para atender sua aliança com o presidente do Senado Federal, que tem a incumbência de travar o prosseguimento do processo de impeachment, ou seja, em troca de cargos públicos, evidentemente fazendo uso, de forma ilegítima, da máquina pública para atender interesse e conveniência pessoal, notadamente para solucionar questão relacionada com a pessoa da presidente do país.  
Caso isso ocorra, trata-se de cristalino afago espúrio da presidente à pessoa do senador alagoano, em forma de indecente retribuição totalmente incompatível com o exercício de cargos públicos, deixando a transparência de desprezo aos princípios da legalidade, moralidade e dignidade que devem imperar na administração pública, tendo o condão de expor ainda mais a degeneração da decência entre homens públicos, que expressam falta de pudor na utilização de expedientes nada republicanos para se beneficiarem mutuamente.
À luz dos acontecimentos, é lamentável se imaginar que o governo seja capaz de usar a máquina pública, com a distribuição de ministérios e empresas públicas a aliados, para comprar a consciência de inescrupulosos parlamentares em troca de apoio no Congresso Nacional, na tentativa de se livrar do impeachment, em que pese isso representar nítida ilegalidade e implicar a continuidade da destruição do patrimônio dos brasileiros, porque a matriz de governabilidade permanecerá a mesma, sem a menor possiblidade de reversão do terrível quadro de precariedade, incompetência, inépcia e ineficiência, evidentemente com prejuízos para os interesses dos brasileiros, conforme demonstra a cruel realidade dos fatos. Acorda, Brasil!   
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 06 de janeiro de 2016

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