domingo, 31 de janeiro de 2016

Insulto à honestidade?


 "A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta.”. Júlio César, Imperador Romano

O petista, ex-presidente da República disse, a propósito das denúncias de envolvimento dele em esquemas de corrupção, que “Se tem uma coisa de que me orgulho e que não baixo a cabeça para ninguém é que não tem nesse país uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, do Ministério Público, da Igreja Católica, da igreja evangélica, nem dentro do sindicato. Pode ter igual, mas eu duvido”.
O ex-presidente entende que são remotas as chances de que ele seja indiciado nos processos que apuram corrupção na Petrobras e outras estatais: “Não há nenhuma possibilidade de uma ação penal, a não ser que seja uma violência contra tudo o que se conhece neste país. O próprio Moro (juiz Sérgio Moro) já disse que eu não sou investigado”. Ele faz referência ao magistrado que conduz os processos relativos às investigações da Operação Lava-Jato.
O ex-presidente aproveita para criticar a publicação de “mentiras” contra ele e sua família nos meios de comunicação. Ele afirmou que “O meu filho Fábio, o que fazem com ele é uma violência”, principalmente em relação aos boatos que são disseminados pelas redes sociais.
Diante da surpreendente afirmação de tanta honestidade por parte do ex-presidente, os brasileiros ficaram abismados por não entenderem o porquê de, no governo dele, terem sido feitas tantas alianças com políticos que tinham a fama de mau caráter e que, antes, eles eram considerados ladrões, picaretas, corruptos e desonestos, mas a necessidade de composição política, por razão de conveniência, foi capaz de ignorar o passado nefasto e sujo atribuído a eles, em nome da governabilidade, da absoluta dominação e da perenidade no poder.
Mais recentemente, na última eleição, o ex-presidente disse, com bastante exaltação, que seria capaz de fazer o diabo e fez, para ganhar a eleição e reeleger a sua pupila, fato, que, na verdade, caracteriza sentimento de indiscutível desonestidade, não comportando comparativo com nenhum paradigma senão com a própria impureza de atos indignos e revestidos de suspeição, a exemplo dessas estapafúrdias ameaças para ganhar eleição.
No presente momento, há enxurrada de denúncias envolvendo o ex-presidente como ter se beneficiado de reforma em apartamento supostamente da sua propriedade, uma vez que ela foi executada segundo as orientações dele e da sua mulher, e em sítio frequentado por ele e sua família, tudo sob a batuta de construtoras integrantes dos escândalos do petrolão, que consiste no desvio de recursos da Petrobras, embora ele jure de mãos postas que não tem nada com os fatos inquinados de irregulares.
Ao que se sabe, o princípio prevalente no Estado Democrático de Direito não se coaduna com a destruição de valores, como também a intimidação de pôr o Exército do MST na rua contra aqueles que não comungam na mesma cartilha ideológica do PT ou por outra forma contrária à licitude, por serem formas de desonestidade contra os princípios legitimamente democráticos, que se fundam em conceitos de respeito à integridade de pensamento, sentimento e ideologia, mesmo que isso possa contribuir para contrariar os interesses e as conveniências pessoais e partidárias.
Não há dúvida de que as afirmações do ex-presidente são muito importantes como tentativa de defesa da sua honestidade, no sentido de se pregar a ideia de "que não tem nesse país uma viva alma mais honesta do que eu", mas isso somente pode ser compreendida sob o prisma de quem faz a avaliação sobre o grau de honestidade e ainda sob o seu ângulo de visão, compreendendo não haver suspeição sobre os atos praticados.
Não obstante, esse sentimento pode não ser exatamente o que pensa a sociedade, que tem entendimento diametralmente diferente do petista sobre o que seja realmente honestidade, que não se encaixa nos atos praticados pelo petista, por demonstrar que nunca sabe de nada nem assume a responsabilidade por seus atos, contrariando os princípios que regem as práticas e atividades públicas, que exigem, entre outras atitudes de transparência, a prestação de contas sobre seus atos.
Na realidade, a avaliação do ex-presidente pode ser entendida como se os brasileiros pudessem cometer desdizes que são considerados honestos e que as incorreções por ele praticadas estariam na faixa daquelas toleradas como honestas e ninguém seria capaz de afrontar a sua condição de honestidade, ou seja, trata-se de avaliação subjetiva quanto ao conceito de honestidade, em que aquilo que contribui para a satisfação pessoal é honesto e todos têm o direito de realizar seus projetos sempre entendendo que eles estão no plano da correção, por atender aos seus objetivos, mesmo que isso possa ser visto por outrem como desonestidade, mas para o seu autor eles são sempre considerados honestos, porque lhe satisfazem plenamente.
O ex-presidente, como mestre em filosofia, tem todo direito de afirmar que é a pessoa mais honesta do Brasil, pelo menos em termos de alma viva, evidentemente sob a visão e a avaliação pessoais e isso é uma virtude apenas no plano particular, porque muitos fatos podem contrariar esse sentimento, à luz da avaliação da sociedade, em se tratando que ele é homem público, que tem obrigação de prestar contas sobre seus atos, que precisam se revestir de regularidade, sob os princípios da dignidade e honestidade.
A afirmação do ex-presidente vem em momento muito importante, por poder contribuir para a reflexão da sociedade, quanto ao que realmente seja honestidade, principalmente para a avaliação sobre o verdadeiro paradigma do que seja realmente homem público compatível com os atributos de estadista desejável e capaz de comandar os interesses dos brasileiros, de modo que sua compreensão sobre honestidade tenha a exata e única dimensão universal do que seja realmente retidão, correção, honradez, probidade, dignidade, decência, compostura... Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 31 de janeiro de 2016

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