sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Desidratação das acusações?


De acordo com apuração feita pelo jornal O Estado de S. Paulo, o Palácio do Planalto, após a revelação do conteúdo da delação premiada do ex-diretor internacional da Petrobras, ligou o sinal de alerta, exatamente porque há nele contundentes citações sobre a presidente petista, que podem ter reflexo no julgamento do processo de impeachment dela, uma vez que as denúncias fazem ligação da presidente com as investigações da Operação Lava-Jato.
Para o governo, a delação em comento teve efeito de uma bomba caída na cabeça da presidente, que teria ficado irritada com a divulgação dos fatos citando o seu nome, que até então se gabava de ainda não ter sido envolvida nos fatos objeto das referidas apurações.
Na aludida delação, é atribuída à presidente petista a decisão de ter "concedido influência sobre a BR Distribuidora" ao senador e ex-presidente da República alagoano, em semelhante poder que já havia sido concedido ao mesmo parlamentar pelo antecessor dela.
A confirmação dessa entrega de autonomia da subsidiária da Petrobras foi feita na residência do senador, que teria chamado o agora delator à Casa da Dinda, para fazer a comunicação de que acordo envolvendo apoio político no Senado Federal entre ele e a petista havia garantido o poder de influenciar na direção daquela empresa.
Segundo disse o delator, na oportunidade, o senador das Alagoas lhe disse que a presidente do país, em sintonia com o acordo selado anteriormente por seu antecessor, "... teria dito que estavam à disposição de Fernando Collor a presidência e todas as diretorias da BR Distribuidora". 
A situação se tornou tão emblemática que o Palácio do Planalto afirmou que não comentaria a menção à presidente, deixando em aberto a inferência sobre a veracidade da denúncia, porque, em caso contrário, a contestação viria a galope, procurando inclusive denegrir a imagem do delator, que não é nada pueril de inventar algo que poderia conspirar contra si, uma vez que os fatos sujeitos à delação são normalmente respaldados por comprovação, como forma de garantir o benefício penal de que se trata, sob pena de o delator deixar de usufruir o prêmio e ainda poder ser processado, na forma da lei.
A citação à presidente da República é sim motivo de extrema preocupação não somente por parte do Palácio do Planalto, como principalmente pelo PT, pelo fato de que é a primeira vez que as investigações da Operação Lava-Jato chegam tão próximo dos principais caciques do partido, que até poucos instantes cantavam de senhores da razão e da honestidade, como se eles não estivessem tão próximos do golpe na direção de suas moleiras.
Segundo assessores diretos da presidente brasileira, a situação começou a se complicar, uma vez que "A avaliação é de que Dilma havia encerrado o ano passado com relativa tranquilidade após o Supremo Tribunal Federal ter anulado a criação da Comissão Especial criada na Câmara dos Deputados para analisar o impeachment e entender que o Senado tem a palavra final sobre o processo de afastamento".
Não obstante, houve inversão da tranquilidade que reinava nos palácios, fazendo com que, agora, os petistas temessem que as citações à presidente pudessem criar ambiente propício de protestos contra a ela, com previsão para acontecer com intensidade em março próximo, após as manifestações contrárias a ela terem ficado abaixo do esperado, no final do ano. 
          Segundo assessores ouvidos pelo citado jornal, a presidente teria ficado irritada com o depoimento em apreço porque, na opinião dela, o delator foi o responsável pelo “relatório falho” que deu respaldo à aquisição da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos da América, causando enorme prejuízo ao patrimônio da Petrobras, que a presidente não teve sensibilidade para assumir a responsabilidade por sua efetiva participação no caso, na qualidade de presente do Conselho Administrativo da estatal, por ter o poder de vetar a malsinada compra, mas nada foi feito graças à sua imprecisa e inexperiente condição de se manifestar em matéria tão relevante.
Conforme foi apurado, o entendimento do governo é tentar desidratar as acusações sobre o envolvimento da presidente em fatos relevantes, que estão sendo questionados, e deixar de responder a maioria delas, sob o ridículo e irresponsável argumento de que são situações inconsistentes, ou seja, o Palácio do Planalto tenta fazer os brasileiros de ingênuos, ao fingir e ignorar que os governantes, por serem representantes do povo, não têm direito de omitir a verdade e deixar de prestar contas à sociedade sobre seus atos, com o que eles podem incorrer em crime contra a administração pública, por deixarem de cumprir importante princípio constitucional da transparência sobre os atos públicos. 
Urge que os brasileiros exijam dos homens públicos a verdade sobre os fatos da sua responsabilidade na administração pública, como forma de aprimoramento do princípio constitucional da transparência, repudiando, com veemência, qualquer tentativa de desidratação das acusações sobre a sua gestão, porque isso contradiz a conduta correta de estadista que tem o dever institucional de prestar contas sobre seus atos no exercício de cargos públicos eletivos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de janeiro de 2016

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