segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O crime organizado


Importante empreiteiro da construção civil, em momento de desabafo, descarrega para o advogado da sua empresa conversa sobre a atitude que considera de pouco caso por parte da presidente da República, que, no entendimento dele, não tem demonstrado nem um pingo de preocupação com o que vem acontecendo com os empresários que estão sendo investigados pela Operação Lava-Jato.
O empresário desabafa nestes termos: "A Dilma fica posando de virtuosa como se não tivesse nada com o que está acontecendo. Ela declarou pouco mais de 300 milhões de gastos de campanha, e nós demos para ela quase 1 bilhão. Como ela pensa que o restante do dinheiro foi parar na campanha?".
A forma de dizer exatamente o que pensa sobre a onipresença da petista, que se gaba de ter tudo muito correto, quando os fatos dizem muito bem o que realmente houve, reflete a situação de fato e, além de indicar a existência de algo inconfessável, suscita a verdadeira possibilidade da revelação do sentimento comum entre os grandes financiadores ao PT, na campanha da reeleição presidencial.
A verdade é que houve doações contabilizadas, com o devido registro no Tribunal Superior Eleitoral, mas é inegável que muitas contribuições foram feitas de forma clandestina, com a utilização do famoso caixa 2, por meio de diversas maneiras, inclusive com o uso, mediante o jeitinho brasileiro, das poderosas estruturas empresariais.
Agora surge informação de que outros repasses foram feitos indiretamente aos partidos, conforme o relato de empreiteiro, que disse que "Essas doações foram feitas a partir da contratação de consultorias indicadas pelos políticos ou por meio de pagamentos a publicitários diretamente no exterior".
As evidências desse procedimento já são do conhecimento da Polícia Federal, que constatou operações casadas, em que empreiteiras são beneficiadas com generosos obras e financiamentos públicos, se comprometendo, em contrapartida, a contratação no Brasil ou no exterior de consultorias ou agências de publicidade, para quem, na realidade, são repassados parcela do produto dos valores embutidos no superfaturamento dos preços contratados.
Uma operação dessa natureza de triangulação criminosa é objeto de investigação ainda mantida sob sigiloso, envolvendo nada mais nada menos o importante e maquiavélico marqueteiro das campanhas eleitorais do ex-presidente e da atual presidente petistas.
Policiais federais, ao vasculharem computadores e documentos de pessoas suspeitas do recebimento de propina no exterior, desvendaram a forma irregular de pagamentos em contas secretas no exterior, entre as quais podem constar as do marqueteiro do PT, cujos serviços eram remunerados por meio de dinheiro não contabilizado pelo partido nem registrado no TSE, ou seja, a operação se materializava por meio do agora desbaratado esquema de corrupção, com o pagamento feito à margem da legalidade.
As pistas para a simples conclusão sobre as contas do marqueteiro começaram a surgir após a apreensão de material, cuja investigação deparou com uma carta enviada, em 2013, ao empreiteiro responsável pelo pagamento de propina, onde constavam as coordenadas de duas contas no exterior, sendo uma nos Estados Unidos e a outra na Inglaterra.
O mais impressionante é que a citada correspondência teria sido remetida, em manuscrito, pela esposa e sócia do marqueteiro do PT ao empreiteiro investigado, fato este que teve importante contribuição para a conclusão da Polícia Federal sobre a ligação financeira existente entre a esposa e sócia do mencionado marqueteiro e um operador de propinas do petrolão.
Ante a necessidade para a formalização da prova material, a carta manuscrita tornou-se importante instrumento revelador da robusteza do crime, em que pese a predominância das facilidades de comunicação por via digital ou telefônica, mas o uso da correspondência teria o condão de não deixar rastro, não fosse a diligente, prestativa e eficiente Operação Lava-Jato, que pode prestar importante contribuição para a repatriação para o Brasil de dinheiro de propina.
Os fatos são claríssimos e as provas contundentes, não deixando a menor margem de dúvida de que o crime organizado fincou raízes na administração do país, causando não somente prejuízos financeiros aos brasileiros, mas, principalmente, devastação dos princípios da ética, moralidade, honestidade, dignidade etc., mostrando que o Brasil foi transformado numa republiqueta da pior qualidade, sob a responsabilidade de homens públicos capazes de se organizar em esquemas e quadrilhas, em benefício pessoal ou partidário.
A decadência dos princípios da moralidade, legalidade e dignidade, que se banalizaram no país, com o beneplácito da consolidação da impunidade, graças às quadrilhas implantadas com robustas raízes ramificadas nas entranhas da administração do país, reflete com intensidade na prestação dos serviços públicos, que têm sido precários e de péssima qualidade.
O Brasil precisa ser passado a limpo, com muita urgência, por meio da promoção da maior e mais abrangente assepsia dos homens públicos que praticaram os mais sórdidos atos criminosos, em nome do único projeto de absoluta dominação e de perenidade no poder, com indiscutível emprego de métodos ilícitos e deletérios, destruidores do patrimônio e dos sonhos dos brasileiros, que, de forma bestial e absurda, ainda nutrem a indignidade de venerar lideranças vinculadas a esse trágico projeto de degeneração, sem o menor pudor, dos princípios da dignidade, moralidade e honorabilidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 25 de janeiro de 2016

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