domingo, 10 de janeiro de 2016

Absoluta convicção?


         Conversas constatadas no celular do ex-presidente da OAS mostram a atuação do atual ministro da Casa Civil na intermediação de negócios entre essa empreiteira e o fundo de pensão de funcionários da Caixa Econômica Federal - CEF.
Um dos diálogos entre um executivo e outro integrante da empresa fala na atuação do ministro e então governador da Bahia para possibilitar negócio milionário com a Funcef (Fundação dos Economiários Federais) - fundo de pensão dos funcionários da CEF.
Embora o ministro negue qualquer tipo de irregularidade em sua relação com a OAS, o então governador da Bahia teria ajudado a construtora na liberação de recursos do governo federal, além de também ter intermediado o financiamento de campanhas municipais em Salvador em 2012.
Parte do diálogo cita: “Que ótimo, como foi na Funcef, o nosso JW me perguntou. Bjs.” A resposta, cerca de três minutos depois, partiu de número da OAS, nestes termos: “Ótimo. Foi aprovado para contratação do avaliador, deloite. Agora, precisaremos de JW, na aprovação final. Bjo”.
Quatro meses depois dessa conversa, a diretoria executiva da Funcef aprovou a compra de cotas de até R$ 500 milhões em fundo da OAS - o FIP OAS Empreendimentos. A Funcef confirma ter feito aporte de R$ 200 milhões, com participação de 11,76% no FIP.
Conforme foi constatado, era comum a troca de mensagens entre o então governador e o empreiteiro sobre “fundos”, como essa: “Governador, desculpe a ‘invasão’. Na semana passada houve uma demanda vinda dos Fundos, que o Bernardo Figueiredo estaria falando para algumas pessoas sobre nossa relação com os Fundos. Queria saber se nosso amigo de ontem sabia de algo. Ele nunca tinha ouvido nada. Tive com o Bernardo e o problema era o Trem Bala. Que foi esclarecido. Obrigado pela hospitalidade. Abs.”. Por mensagem, o então governador respondeu: “Você é sempre bem-vindo JW”.
Noutra circunstância, a cinco dias do 2º turno das eleições presidenciais, o empreiteiro pede ao então governador para ele intermediar liberação de verba dos Transportes, nestes termos: “Governador, se for possível, peço seu apoio. Abs.”. O petista respondeu: Ok, vou fazê-lo. Abs.”.
Embora os fatos mostrem com o mínimo detalhe que não são normais as atuações de políticos do governo, há caracterização de enorme cinismo como eles se defendem, sempre alegando que tudo teria sido feito em conformidade com os critérios técnicos e no âmbito da legalidade, como se o tráfico de influência e a facilitação sobre a obtenção de financiamento de campanha fossem apenas normais e incensuráveis, em que pese isso representar privilégio no âmbito politico, em detrimento de outros segmentos políticos.
O ministro da Justiça está completamente cheio de razão, ao seu modo petista de ser, ao afirmar que tem "absoluta convicção" sobre a lisura de comportamento de seu correligionário ministro da Casa Civil, como forma de defendê-lo de mais um caso suspeito de ter atuado de maneira não condizente com a representação política, que exige, no mínimo, distância de negociatas e facilitações entre os cidadãos, para beneficiamento apenas de partes, quando a administração pública tem por escopo a exclusiva satisfação do interesse público.
          Tudo isso demonstra que é natural se comportar, no governo, por meio do tráfico de influência dentro da administração pública, recebendo em troca, apoio de doações de campanha, não importando a questão ética e muito menos a dignidade que se exige dos homens públicos.
Isso parece se amoldar à insignificância de país que já se acostumou à baixaria da politicagem, em que os interesses pessoais ou partidários se sobrepõem às causas nacionais, que ficam em planos secundários, em detrimento da dignidade que se exige no exercício de cargos públicos.
Agora fica muito claro o motivo pelo qual o petista, ex-presidente do país, insistiu tanto para que seu pupilo assumisse a Casa Civil, que se justifica pela sua extraordinária habilidade para negociação, conforme demonstram seus contatos com os empreiteiros.
Convém lembrar que a presidente da República não se cansa de defender a sua ilibada conduta de muita honestidade, mas os fatos mostram que ela é bastante incapaz quando se trata da escolha de seus assessores diretos, porque eles estão sempre no furacão das denúncias  sobre fatos suspeitos, como no caso recente dos ministros das Comunicações e da Casa Civil, que não se cansam de rebater acusações sobre falcatruas envolvendo seus nomes.
Até quando a sociedade vai aturar que esse governo seja inundado com suspeitas de irregularidades, por atuação de assessores diretos, e tudo continua como antes no quartel de Abrantes, sem que ele tenha a mínima iniciativa de, pelo menos, esboçar a necessidade de apurações sobre as graves suspeitas de irregulares praticadas por eles, que se acham os verdadeiros danos da verdade ou, no mínimo, consideram normais seus envolvimentos em casos escabrosos recrimináveis pela sociedade, diante dos princípios da ética, moralidade, legalidade e dignidade?
          Em se tratando de país com o mínimo de seriedade, o governo já teria promovido completa e abrangente investigação, para se aquilatar a veracidade sobre os fatos e responsabilizar, se for o caso, os culpados, não permitindo jamais que as denúncias caiam no esquecimento, como forma de proteger as pessoas denunciadas, que igualmente se sentem confortavelmente nos seus cargos, como se tudo não passasse de intriga da oposição, que faz tudo para perturbar a tranquilidade política do governo, na sua absoluta demonstração de apatia e omissão diante das irregularidades que, no mínimo, deveriam ser investigadas, para o fim de se mostrar seu resultado à sociedade, como forma de não evidenciar sua cumplicidade com atos suspeitos de ilicitudes praticados por altos assessores da Presidência, com possibilidade de macular a sua autoridade, que tem a obrigação de ser modelo de lisura e de dignidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 10 de janeiro de 2016

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