quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

A manifestação da conveniência pessoal?


Terminou sendo alvo da exploração da mídia a medida que resultou no impedimento da posse de três deputados eleitos pela oposição da Venezuela, que fora adotada por vontade do presidente daquela nação, visivelmente com o objetivo de desqualificar a maioria absoluta constitucional, embora isso não conseguisse impedir a efetivação do rompimento da hegemonia mantida no Parlamento pelo chavismo, que vinha de três mandatos parlamentares, em clara demonstração popular como voto de desconfiança do eleitor contra o governo, devido à ultradeterioração da economia, em especial.
O novo Parlamento venezuelano vem sendo hostilizado pelo presidente da nação e seus seguidores, principalmente por ele ter prometido, como um de seus principais focos de ação, a melhora da economia do país, cuja pretensão pode contrariar, com profundidade, a gestão bolivariana, que se tornou modelo de insegurança e de intranquilidade da sociedade.
Segundo a Assembleia venezuelana, o país precisa de plano de “emergência econômica nacional”, com vistas a se evitar que a grave crise econômica seja ainda mais afetada pela alta inflação, recessão e escassez de gêneros básicos, fatores bastante prejudiciais à população.
A verdade é que não será nada fácil a trajetória do Parlamento para implementar seus objetivos, tendo em vista que ele terá a intransigente oposição do governo e do chavismo, que tudo farão para o acirramento do clima de conflito, em nome do famigerado bolivarianismo do século XXI.
Diante do imbróglio que se transformou a política venezuelana, o governo brasileiro achou por bem se manifestar no sentido de se buscar o entendimento no país fronteiriço, tendo divulgado nota expressando a necessidade sobre o dever de ser "plenamente respeitada a vontade soberana do povo venezuelano", demonstrada nas urnas, em 6 de dezembro último, quando a oposição ganhou, de forma avassaladora a maioria absoluta dos assentos na Assembleia Legislativa.
O Itamaraty destaca, com clareza, que os resultados oficiais da eleição "foram divulgados e validados pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela e prontamente reconhecidos, na ocasião, por todas as forças políticas do país. O governo brasileiro confia que será plenamente respeitada a vontade soberana do povo venezuelano, expressada de forma livre e democrática nas urnas".
Tudo isso porque o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela impugnou os resultados das urnas no Estado de Amazonas, sob a alegação de compra de votos, fato que impediu a posse de três deputados da oposição e, sem eles, ela perde automaticamente a supermaioria conquistada nas urnas.
A aludida impugnação fez com que a oposição acusasse o governo venezuelano de patrocinar "golpe judicial" para prejudicá-la.
O Itamaraty ressalta que a lisura das eleições, "que contaram com expressiva participação dos eleitores, foi atestada, entre outras, pela missão eleitoral da Unasul", com apoio e participação brasileira.
O texto afirma que "O governo brasileiro (...) confia que serão preservadas e respeitadas as atribuições e prerrogativas constitucionais da nova Assembleia Nacional venezuelana e de seus membros, eleitos naquele pleito", ou seja, em 06 de dezembro último.  
Desta feita, o tom da mensagem ao governo venezuelano foi bem mais duro que o habitual, com o destaque de que "Não há lugar, na América do Sul do século 21, para soluções políticas fora da institucionalidade e do mais absoluto respeito à democracia e ao Estado de Direito.".
Concluindo, o governo brasileiro pede que todos os atores políticos venezuelanos "mantenham e aprimorem o diálogo e a boa convivência, que devem ser a marca por excelência das sociedades democráticas".
Não há dúvida de que a caótica situação político-econômica da Venezuela causa preocupação para a América Latina, mas as crises que grassam no Brasil deve merecer especial atenção, uma vez que elas se agravam a passos largos, exigindo, com urgência, que os brasileiros se despertem da letargia que ignora por completo o estado de degradação por que passa a administração do Brasil.
É muito estranho que os brasileiros não percebam que já passou da hora da reação cívico-patriótica em defesa da integridade da democracia e da República, porque o silêncio dos venezuelanos permitiu que aquele país se encontrasse no estado deplorável atual, em que suas estruturas foram destruídas e desorganizadas, graças à alienação do governo em defesa de ideologia retrógrada e ultrapassada, que resultaram nas lastimáveis situações social, política, econômica, ética, democrática e administrativa, ou seja, completa destruição das estruturas do Estado venezuelano.
É notório que a manifestação brasileira, em especial cobrando respeito à “vontade soberana do povo venezuelano", demonstrada nas urnas, traduz a absoluta situação da presidente tupiniquim, em razão do que pode acontecer com o prosseguimento do processo de impeachment dela, como espécie de antecipação do caso concreto, o que vale dizer que o governo verde-amarelo jamais se pronunciaria se não estivesse em pauta o pedido em apreço, eis que a sua índole é de não se imiscuir em políticas de governos autônomos e principalmente de esquerda, segundo ele tem dito em casos que não se relacionam com os interesses e as conveniências dele.
À toda evidência, o conteúdo da nota diplomática brasileira se amolda ao pensamento e à ideologia do governo e do PT, notadamente em defesa da intocabilidade do resultado das urnas, mesmo que as circunstâncias e os fatos sinalizem para a adoção de medidas que possam satisfazer o regramento jurídico e os interesses nacionais, obedecidos, obviamente, os princípios constitucional e legal.
Não há dúvida de que a manifestação da petista não passa de mera hipocrisia, porquanto a essência da sua linha de pensamento certamente será invocada quando ela tiver que apresentar defesa prévia no processo de impeachment contra ela, quando alegará exatamente a necessidade do respeito à vontade soberana do povo brasileiro, tal qual como havia se expressado em defesa do resultado das urnas venezuelanas.
Compete aos brasileiros avaliarem a gravidade dos fatos deletérios que estão destruindo a integridade dos princípios da competência, moralidade, economicidade, transparência e dignidade, e exigirem que o país seja administrado levando-se em consideração, de forma primordial, os interesses nacionais, de modo que sejam promovidas prioridades para as políticas públicas, com destaque para as reformas das estruturas do Estado, ante a precariedade e o obsoletismo imperantes na atual administração do país, onde vem prevalecendo a cultura da satisfação de interesses pessoais, como no caso do inescrupuloso usa da máquina pública, mediante a distribuição de cargos em ministérios e empresas estatais a aliados, em troca de apoio no Congresso Nacional, tendo por objetivo a blindagem da presidente do país contra seu impeachment. Acorda, Brasil!   
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 07 de janeiro de 2016

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