sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Repulsa à dignidade


A presidente do país se gaba de ser modelo de conduta ilibada e de não temer ser investigada, mas fica silente sobre as denúncias de casos suspeitos envolvendo petistas e assessores de alto coturno Palácio do Planalto, como os ministros da Comunicação e da Casa Civil, que teriam se mostrados facilitadores de tráfico de influência e de negociações dentro do governo, em clara demonstração de proximidade com mandachuva de grande empreiteira, que foi recentemente condenado a 16 anos de prisão, por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
O aludido empreiteiro foi presidente da OAS e desfrutava da intimidade do petista, então presidente da do país, que o chamava carinhosamente de “Brahma” e, de acordo com mensagens captadas pela Operação Lava-Jato e divulgadas pelo O Estado, parecia onipresente e cheio de poder junto aos petistas, porém as investigações mostram agora que havia um mar de promiscuidade entre o público e o privado, quando os interesses e as conveniências de ambos os lados eram atendidos com a maior naturalidade.
Os fatos mostram que o então governador da Bahia e hoje chefe da Casa Civil demonstrava-se ser bastante atencioso com o mencionado empreiteiro, ao se comprometer a atender seus pleitos na capital federal.
O noticiário denuncia, na mesma linha acima, que o atual presidente da Petrobrás e então presidente do Banco do Brasil teria sido nada pudico, por ser solícito por ter participado de suposto esquema de compra de títulos da dívida da OAS, quando ele ainda era presidente do Banco do Brasil, na época quando ele fazia injustificável e rumoroso empréstimo a uma socialite, cuja operação foi bastante criticada pela forma inusitada. Numa passagem da investigação, foi identificado fato curioso, a exemplo de o presidente do BB ter dito que queria falar com o empreiteiro da OAS, “mas só se estivesse num telefone fixo”, dando a entender que se tratava de conversa nada republicana.
É evidente que as mensagens identificadas, por enquanto, não dizem absolutamente muita coisa quanto à incriminação das pessoas denunciadas, mas as suspeitas precisam ser apuradas, com vistas a mostrar a veracidade sobre elas, de modo a que as altas figuras do governo possam provar a licitude de seus atos, à vista dos princípios democrático e republicano.
À toda evidência, também não tem sido nada normal para o partido que se esforça para transparecer legitimidade nos seus atos, o petista, ex-presidente da República, passar a ser ilustre contumaz visitante da Polícia Federal, para servir de testemunha, depor e ser investigado, como no caso específico do inquérito que apura a participação dele como traficante de influência, em prol de construtoras brasileiras.
Nenhum ex-presidente do país foi tão prestigiado negativamente com passado superdeslustrante, por ter seu nome ligado diretamente aos famigerados casos do mensalão, petrolão e da Operação Zelotes, que têm o condão de pôr em xeque o seu futuro político, diante da sua forte influência de principal cacique do PT.
É lamentável que o impeachment da presidente do país tenha perdido o seu elã, tendo frustrado a vontade de mais de 70% dos brasileiros, que sonhavam com mudança de governabilidade, inclusive com a possibilidade do afastamento da administração pública de muitas pessoas de índole contrárias aos princípios da moralidade e dignidade, porque elas são suspeitas de ter praticado ilicitudes prejudicais ao interesse dos brasileiros.
Certamente que o impeachment não resolveria tudo de ruim que abunda e inunda de forma vergonhosa a administração pública e os princípios democrático e republicano, porque a saída ou a permanência da presidente do país não é condição para se estancar a sangria do princípio ético, que tem sido, como mostram os fatos, DNA ínsito do PT, à vista da constância das denúncias de casos suspeitos e ainda não devidamente justificados ou esclarecidos, que infelizmente tem o poder de macular práticas e atividades da administração pública.
          É pena que a abundância dos fatos deletérios atribuídos a petistas e pessoas do governo, tão esclarecedores sobre malefícios à administração pública, não chegue ao conhecimento dos fanatizados e desinformados petistas, que acham que, no seu partido, só tem deuses e intocáveis, que são injustiçados no dia a dia, quando as denúncias de desvios de conduta são reveladas a todo instante.
Em que pese tanta denúncia de impropriedades sobre integrantes do PT, à luz das investigações da Operação Lava-Jato, há pouco tempo, a presidente do país enchia o peito para se orgulhar de ser exemplo de conduta ilibada, porque as investigações dessa competente operação ainda não conseguiram descobrir qualquer irregularidade atribuída a ela, como se isso tivesse o poder de imunizá-la da forma igualmente corrupta do loteamento de ministérios e empresas estatais entre aliados políticos, em troca de apoio no Congresso Nacional, notadamente para a blindagem dela contra o impeachment.
É notório que a reforma ministerial foi denominada muito apropriadamente de fidelização ao governo, tendo em vista que os congressistas que tiveram a consciência cooptada por cargo público passariam a ser subservientes ao Palácio do Planalto, na formalização do indigno "toma lá, dá cá".
Não precisa ser bom entendedor para se perceber que a distribuição de cargos públicos em troca de apoio pessoal, conforme ficou caracterizada a última reforma ministerial, por haver a sua vinculação com a defesa da pessoa da presidente brasileira, representa crime contra a administração pública, em decorrência do uso da máquina pública em proveito pessoal, que, inclusive, esse repudiável procedimento tem como consequência a perda da qualidade dos serviços públicos prestados à população, justamente porque os órgãos e as entidades públicos são dirigidos por políticos normalmente despreparados técnica e profissionalmente.
É frustrante que o governo não consiga fazer diferença entre o público e o privado, uma vez que os cargos públicos, por força de previsão constitucional, devem ser ocupados observados rigorosamente os sistemas do mérito e da competência, como forma de propiciar eficiência na administração pública e de otimização dos recursos públicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 08 de janeiro de 2016

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