domingo, 24 de janeiro de 2016

Tentativa de deformação da realidade


A presidente da República, em encontro com jornalistas de agências de notícias, no Palácio do Planalto, defendeu que o processo de impeachment contra ela, que se encontra em tramitação na Câmara dos Deputados, “traz instabilidade política e terá efeitos de longo prazo na estabilidade democrática do país.”.
A petista se refere ao tema do impeachment como "ações golpistas de alguns segmentos da oposição", que precisa ser tratado "porque é uma questão que significa instabilidade política”.
A presidente afirmou que “Vai ser importante porque não se pode no Brasil achar que você tirar um presidente porque  não está simpatizando com ele. Isso não é nem um pouco democrático. A questão do impeachment tem uma repercussão política de longo prazo que é a estabilidade democrática. O que nós fizemos hoje em termos das boas práticas democráticas perdurarão no futuro.”.
Na ocasião, a presidente mostrou-se irritada diante de questionamento sobre denúncias envolvendo pessoas que trabalham no Palácio do Planalto, em razão das investigações da Operação Lava-Jato, inclusive com citações a ela, seu antecessor e ministros da Casa Civil e da Secretaria de Comunicação Social.
A presidente afirmou que as denúncias são “repetições e não têm nenhuma novidade. Nos últimos dias, têm havido denúncias. São de vazamentos. Não sei nem se as delações são feitas ou não são feitas, de quem é, vazamento de quem. Me permitam dizer o seguinte: nós responderemos, eu especialmente, qualquer coisa em qualquer circunstância (sic)”.
Contrariando os fatos acontecidos, que são transparentes, a presidente preferiu argumentar versão distorcida da realidade, ao alegar que não é legítima a tentativa de afastar alguém do cargo somente porque não gosta dele, dando a entender que ela simplesmente despreza o crime de responsabilidade fiscal que teria praticado, em razão das pedaladas fiscais e de outras irregularidades contrárias às normas de administração orçamentária e financeira, com infringência às Leis de Diretrizes Orçamentárias e de Responsabilidade Fiscal, cujos atos ensejaram a desaprovação de suas contas, referentes ao exercício de 2014, pelo Tribunal de Contas da União, que recomendou que o Congresso Nacional as rejeitasse, por irregularidade, exatamente por não ter sido observado o princípio essencial da legalidade, obrigatório em qualquer país que prima pela seriedade e responsabilidade na execução dos recursos públicos.
A presidente possivelmente não fora alertada de que, nos países evoluídos, para onde as notícias foram transmitidas, a extrapolação do limite da meta fiscal é coisa seríssima, porque isso compromete a credibilidade do governante que não tem responsabilidade e compromisso com o teto dos gastos públicos, sujeitando-o, no caso de descumprimento das normas aplicáveis, às penas da lei, inclusive o afastamento do cargo.
Causa perplexidade por parte dos jornalistas a fajuta tentativa da petista de escamotear informações verdadeiras sobre os motivos ensejadores da abertura do processo de impeachment contra ela, porque não se trata de simples antipatia contra a pessoa da presidente, mas sim porque ela cometeu crime de responsabilidade fiscal e precisa ser processo em razão disso, para se defender, na forma constitucional, em obediência ao ordenamento jurídico do país, que precisa ser acatado e respeitado, sob pena da perpetuação ao culto da impunidade e do desprezo aos princípios jurídicos.
Não há dúvida de que fica ridículo para quem pratica desvio das finalidades e funções públicas e não assumir seus atos, que, no caso da petista, é patente a extrapolação da meta fiscal, com o adjutório das pedaladas fiscais, dando a entender que ela, ignorando os fatos, está acima de todos e das leis do país, em evidente demonstração de prepotência e onipotência, cujo sentimento de superioridade somente funciona nas republiquetas, onde o ordenamento jurídico é desrespeitado e ignorado, de forma impune.
À toda evidência, o cerne da questão não diz respeito à tentativa de tirar a presidente do cargo por questão de simpatia ou de antipatia, mas sim por falta de competência administrativa mesmo, que foi agravada com o descumprimento de normas legais, cuja irregularidade não se resolve com simples argumentação inconsistente e irrealista, em clara demonstração de falta de seriedade e honestidade diante de fatos de extrema gravidade, que ainda consegue contar com o beneplácito de brasileiros desinformados e alheios à realidade sobre a sua gravidade.
É evidente que a presidente tem enorme apego ao cargo mais importante do país, mas ela não pode continuar tentando se passar por vítima, como forma de se livrar do julgamento pelo crime cometido de responsabilidade fiscal, como se ela não tivesse praticado nenhum deslize, em que pese o principal órgão de controle externo do país ter concluído a análise das contas do governo, referentes ao exercício de 2014, com o veredicto de irregularidade insanável, tendo recomendado ao Congresso Nacional que não as aprove, ante a sua incompatibilidade com o princípio da legalidade.
A presidente do país precisa ser alertada e conscientizada sobre a necessidade de compreender que o ordenamento jurídico do país é instrumento seríssimo para ser acatado, que sobrepõe à vontade dos homens públicos, cujos dispositivos constitucionais e legais devem ser fielmente observados, como forma de aperfeiçoamento dos princípios democrático e republicano, sob pena da imposição de medidas coercitivas e punitivas, em harmonia com o que acontece nas nações civilizadas e desenvolvidas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 24 de janeiro de 2016

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