segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Acertar o posicionamento?


Se tem uma coisa de que me orgulho é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu.”. Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil

O Estadão publica transcrição feita pela Polícia Federal do diálogo que o petista ex-presidente da República protagonizou, pelo telefone, com um executivo da Odebrecht, com revelação sobre a participação do petista como autêntico gerenciador de empreiteiros, que foram presos quatro dias depois do citado contato.
Preocupado, o petista verifica se o executivo da Odebrecht e demais palestrantes de um seminário organizado pelo Valor Econômico foram convincentes na defesa contra a acusação de que a empreiteira foi beneficiada pelo BNDES graças ao prestígio do ex-presidente.
Na conversa, o petista diz que falou com o seu garoto de recados, um ex-ministro da Fazenda e ex-deputado federal por São Paulo, que vai publicar um artigo “dando o cacete”.
Ao final, o executivo da Odebrecht transmite ao petista que o presidente da construtora gostou da nota do Instituto Lula sobre o tema e o ex-presidente concorda em alinhar as defesas de ambos.
Em síntese, o diálogo do executivo da Odebrecht com o petista ex-presidente transcorreu nos termos abaixo, conforme o texto publicação pelo Estadão:
“...
ALEXANDRINO: muito bom, muito bom, o rapaz se portou muito bem, o MARCELO, andou distribuindo umas verdades, entendeu, lá? O cara da AEB, o JOSÉ AUGUSTO foi muito bem, o rapaz do ITAMARATY também foi muito bem, explicando. Explicando que isso é importante pro Brasil, tá? O GIANETTI DA FONSECA que é um tucano de primeira plumagem, também foi bem, dizendo que “isso não é matéria pra se polemizar”, nós temos que estar preocupado com o Brasil e não com políticas mesquinhas, foi bem, isso ai, foi muito bem, tá?
LULA: Aham.
ALEXANDRINO: Eu acho, em acho... Logicamente, fala do MARCELO é a que mais vai aparecer amanhã na mídia, né?!
LULA: Aham.
ALEXANDRINO: Ele falou que não tem nada de ilegal, nada de imoral, nisso ai, que podem abrir tudo, podem pesquisar tudo, que não tem nada de errado, tá?
LULA: Aham.
ALEXANDRINO: Foi muito bom, viu?!
LULA: Falou o cara do Ministério das Relações Exteriores?
ALEXANDRINO: Muito bom, RODRIGO ALVAREZ.
LULA: E o cara da Indústria e Comércio?
ALEXANDRINO: Ah, Indústria e Comércio, não, foi o Ministro no final, mas depois do almoço, já a plateia ficou pouca gente, mas ai foi burocrático. O ponto alto foi o cara do Ministério das Relações Exteriores.
LULA: Aham.
ALEXANDRINO: Esse foi o ponto alto pra mim. O cara a AEB, muito bom também, o MARCELO chutando o pau da barraca.
LULA: E a imprensa tava lá?
ALEXANDRINO: Tava, tava. Saiu matéria no “Globo”, saiu na “BROADCAST’’, saiu no “VALOR”, lógico, repercutiu isso em todos lugares, ai viu? E no fundo, no fundo, é importantíssimo pro Brasil, entende? Alavanca. Teve o BARRETO, do SEBRAE, também falando sobre a pequena e média empresa, entendeu? Todo mundo falou.
LULA: Eu falei com DELFIM NETTO hoje (quase inteligível), ele vai publicar um artigo amanha no VALOR dando o cacete.
ALEXANDRINO: Tá bom, mas muito bom, muito bom, tá?
LULA: Tá bom, querido.
ALEXANDRINO: Eu já reportei isso para EMÍLIO, tá?
LULA: Ah, ta bom.
ALEXANDRINO: EMÍLIO me ligou ao final... Ah, e outra coisa que EMÍLIO ELOGIOU, ELOGIOU O DOCUMENTO DE VOCÊS, tá? Ele falou, “porra, puto documento bem feito!”
LULA: A NOTA NÉ?
ALEXANDRINO: A nota, sim, muito bem feito. E eu conversei hoje com PAULO pra gente conversar essa semana pra acertar, PRA ACERTAR O POSICIONAMENTO NOSSO JUNTO COM O DE VOCÊS, tá? Combinado?
LULA: Ta bom. Ta bom. Um abraço, meu irmão. Tchau”.
À toda evidência, nem parece que na ponta de uma linha telefônica tinha um ex-presidente da República preocupado com a repercussão sobre seus conchavos ultrassecretos com construtora igualmente suspeita, combinando e afinando as desculpas esfarrapadas perante a opinião pública.
Quando um político se atreve a combinar com alguém algo para ajustar a cacetada a ser deferida e ainda acertar os detalhes sobre posicionamentos de ambos, para que não haja divergência de justificativas, com certeza aí tem algo pútrido que não condiz com os comezinhos princípios da dignidade, honestidade e legitimidade.
Aliás, essa forma de relacionamento entre "amigos", para a combinação de entendimentos sobre assunto sigiloso se harmoniza com as práticas suspeitas e questionáveis, visto que os atos lícitos não precisam de ajustamento e muito menos de cacetada para mostrar regularidade que eles não existem, porque os procedimentos insuspeitos e revestidos de regularidade falam por si sós, sem necessidade de ajustamentos, como os referidos pelo ex-presidente.
No pior das hipóteses, a simples ligação telefônica de ex-presidente do país para executivo de construtora já é capaz de suscitar situação preocupante, diante do interesse dos envolvidos para tratar sobre fato delicado que, no mínimo, pode ser inspirador de suspeição, pois, ao contrário disso, não haveria o cuidado sobre o acerto de posicionamento, ante a legitimidade sobre os procedimentos havidos. 
Até quando os homens públicos vão perceber que a dignidade é representada pela transparência nos seus atos, sem nunca precisar ter medo de mostrar à sociedade, como forma de prestação de contas, seus atos totalmente despidos e acessíveis à avaliação quanto à sua regularidade e moralidade?
A grandeza de um povo pode ser medida pelo nível da dignidade de seus representantes, à luz do princípio constitucional segundo o qual o poder emana do povo e em seu nome será exercido, ou seja, os representantes políticos são a caro do povo, justamente por eles terem sido eleitos sob a vontade popular, o que vale dizer que maus políticos não deveriam merecer o apoio do povo, que tem a obrigação cívica de eliminá-los da vida pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 25 de janeiro de 2016

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