“Se tem uma
coisa de que me orgulho é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu.”.
Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil
O Estadão publica transcrição feita pela Polícia
Federal do diálogo que o petista ex-presidente da República protagonizou, pelo telefone,
com um executivo da Odebrecht, com revelação sobre a participação do petista como autêntico gerenciador
de empreiteiros, que foram presos quatro dias depois do citado
contato.
Preocupado, o petista verifica se o executivo da Odebrecht
e demais palestrantes de um seminário organizado pelo Valor Econômico foram
convincentes na defesa contra a acusação de que a empreiteira foi beneficiada
pelo BNDES graças ao prestígio do ex-presidente.
Na conversa, o petista diz que falou com o seu
garoto de recados, um ex-ministro da Fazenda e ex-deputado federal por São
Paulo, que vai publicar um artigo “dando
o cacete”.
Ao final, o executivo da Odebrecht transmite ao
petista que o presidente da construtora gostou da nota do Instituto Lula sobre
o tema e o ex-presidente concorda em alinhar as defesas de ambos.
Em síntese, o diálogo do executivo da Odebrecht com
o petista ex-presidente transcorreu nos termos abaixo, conforme o texto publicação
pelo Estadão:
“...
ALEXANDRINO: muito bom, muito bom, o rapaz se portou muito bem, o
MARCELO, andou distribuindo umas verdades, entendeu, lá? O cara da AEB, o JOSÉ
AUGUSTO foi muito bem, o rapaz do
ITAMARATY também foi muito bem, explicando. Explicando que isso é importante pro Brasil, tá? O GIANETTI DA FONSECA
que é um tucano de primeira plumagem, também foi bem, dizendo que “isso não é
matéria pra se polemizar”, nós temos que estar preocupado com o Brasil e não
com políticas mesquinhas, foi bem, isso ai, foi muito bem, tá?
LULA: Aham.
ALEXANDRINO: Eu acho, em acho... Logicamente,
fala do MARCELO é a que mais vai aparecer amanhã na mídia, né?!
LULA: Aham.
ALEXANDRINO: Ele falou que não tem nada de ilegal, nada de imoral, nisso
ai, que podem abrir tudo, podem pesquisar tudo, que não tem nada de errado, tá?
LULA: Aham.
ALEXANDRINO: Foi muito bom, viu?!
LULA: Falou o cara do Ministério das Relações Exteriores?
ALEXANDRINO: Muito bom, RODRIGO ALVAREZ.
LULA: E o cara da Indústria e Comércio?
ALEXANDRINO: Ah, Indústria e Comércio, não, foi o Ministro no final, mas
depois do almoço, já a plateia ficou pouca gente, mas ai foi burocrático. O ponto alto foi o cara do Ministério das Relações
Exteriores.
LULA: Aham.
ALEXANDRINO: Esse foi o ponto alto pra mim. O cara a AEB, muito bom
também, o MARCELO chutando o pau da barraca.
LULA: E a imprensa tava lá?
ALEXANDRINO: Tava, tava. Saiu matéria no “Globo”, saiu na “BROADCAST’’,
saiu no “VALOR”, lógico, repercutiu isso em todos lugares, ai viu? E no fundo,
no fundo, é importantíssimo pro Brasil, entende? Alavanca. Teve o BARRETO, do
SEBRAE, também falando sobre a pequena e média empresa, entendeu? Todo mundo
falou.
LULA: Eu falei com DELFIM
NETTO hoje (quase inteligível), ele vai publicar um artigo amanha no VALOR
dando o cacete.
ALEXANDRINO: Tá bom, mas muito bom, muito bom, tá?
LULA: Tá bom, querido.
ALEXANDRINO: Eu já reportei isso
para EMÍLIO, tá?
LULA: Ah, ta bom.
ALEXANDRINO: EMÍLIO me ligou ao
final... Ah, e outra coisa que EMÍLIO ELOGIOU, ELOGIOU O DOCUMENTO DE VOCÊS,
tá? Ele falou, “porra, puto documento bem feito!”
LULA: A NOTA NÉ?
ALEXANDRINO: A nota, sim, muito bem
feito. E eu conversei hoje com PAULO pra gente conversar essa semana pra
acertar, PRA ACERTAR O POSICIONAMENTO NOSSO JUNTO COM O DE VOCÊS, tá?
Combinado?
LULA: Ta bom. Ta bom. Um abraço, meu irmão. Tchau”.
À toda evidência, nem parece que na ponta de uma
linha telefônica tinha um ex-presidente da República preocupado com a
repercussão sobre seus conchavos ultrassecretos com construtora igualmente
suspeita, combinando e afinando as desculpas esfarrapadas perante a opinião
pública.
Quando um político se atreve a combinar com alguém algo
para ajustar a cacetada a ser deferida e ainda acertar os detalhes sobre
posicionamentos de ambos, para que não haja divergência de justificativas, com
certeza aí tem algo pútrido que não condiz com os comezinhos princípios da
dignidade, honestidade e legitimidade.
Aliás, essa forma de relacionamento entre
"amigos", para a combinação de entendimentos sobre assunto sigiloso
se harmoniza com as práticas suspeitas e questionáveis, visto que os atos
lícitos não precisam de ajustamento e muito menos de cacetada para mostrar
regularidade que eles não existem, porque os procedimentos insuspeitos e
revestidos de regularidade falam por si sós, sem necessidade de ajustamentos,
como os referidos pelo ex-presidente.
No pior das hipóteses, a simples ligação telefônica de
ex-presidente do país para executivo de construtora já é capaz de suscitar situação preocupante, diante do interesse dos envolvidos para tratar sobre fato delicado que, no mínimo, pode ser inspirador de suspeição, pois, ao contrário disso, não haveria o cuidado sobre o acerto de posicionamento, ante a legitimidade sobre os procedimentos havidos.
Até quando os homens públicos vão perceber que a
dignidade é representada pela transparência nos seus atos, sem nunca precisar ter
medo de mostrar à sociedade, como forma de prestação de contas, seus atos
totalmente despidos e acessíveis à avaliação quanto à sua regularidade e
moralidade?
A grandeza de um povo pode ser medida pelo nível da
dignidade de seus representantes, à luz do princípio constitucional segundo o
qual o poder emana do povo e em seu nome será exercido, ou seja, os
representantes políticos são a caro do povo, justamente por eles terem sido
eleitos sob a vontade popular, o que vale dizer que maus políticos não deveriam
merecer o apoio do povo, que tem a obrigação cívica de eliminá-los da vida
pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 25 de janeiro de 2016
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