A mídia denúncia a dramática situação da nova
emergência do Hospital Federal de Bonsucesso, no Rio de Janeiro, em que os
médicos tentam fazer milagre para atender os pacientes, em pequena sala de
procedimentos preparada para receber apenas uma pessoa por vez, mas o jeito é funcionar
na base da improvisação.
O drama se passa entre dois pacientes em situação
gravíssima, que estão sendo atendidos ao mesmo tempo, sendo que um terceiro dá
entrada com parada cardiorrespiratória, que recebe massagem cardíaca em local espremido
entre aqueles dois doentes, quando um médico grita: “vou intubar, oxigênio!” e, sem outra opção, retira o tubo que leva
o gás para a máscara do idoso deitado ao lado, com diagnóstico de câncer de
pulmão, mas o esforço foi em vão, porque o homem enfartado morre. O oxigênio
volta ao paciente anterior, que lutava há meia hora para respirar sozinho.
Um profissional, que assistia à luta do único
clínico geral de plantão, disse que “Os
médicos aqui precisam decidir entre quem tem mais chance de viver”, ou
seja, trata-se de verdadeira emergência que serve para o pobre apenas morrer ao
lado do médico, que não pode socorrê-lo com o tratamento adequado para quem se
encaixa em real estado emergencial.
Só deu tempo para a retirada do corpo do recinto,
quando logo apareceram outros dois pacientes, em estado que também inspirava cuidados,
totalizando quatro pacientes em uma sala apenas improvisada.
Sem alternativa, o clínico ficou com a
responsabilidade de cuidar deles e dos demais 65 pacientes que se dividiam
entre duas enfermarias e os corredores, já repletos de macas ocupadas por
doentes, deixando evidente o trauma que se abatia no semblante do profissional,
que dividia o turno com apenas um cirurgião e um pediatra.
No corredor da emergência, tinham oito pacientes em
macas e 59 doentes internados, sendo que a maioria em estado grave.
Na enfermaria de mulheres, tinham quatro pacientes
intubadas, em uma situação de total absurdo e desprezo, ante a precariedade do
momento.
Diante da lastimável situação, onde foi constatado
que, no plantão do hospital, somente tinham um clínico, um pediatra e um
cirurgião, o presidente do Cremerj reclamou desse quadro lastimável e ressaltou
que é necessário que a direção do hospital se pronuncie e tome medidas
enérgicas e que o Ministério da Saúde promova a imediata contratação de pessoal
para a emergência de Bonsucesso.
A precariedade imposta ao trabalho na emergência do
hospital em tela, onde se evidencia ambiente hostil para os profissionais, com
tantos problemas e nenhuma facilidade para ajudar no atendimento médico, já
contribuiu para que, desde que a nova emergência foi aberta, seis médicos pedissem
demissão.
Um médico disse, em tom de desabafo, que “Há seis meses, tínhamos cerca de 40 clínicos
na emergência. Hoje, são 12. Na terça, um clínico concursado, após ter dado
plantão noturno sozinho na segunda-feira, pediu exoneração. São 12 horas tendo
que escolher quem vai usar o respirador, quem será monitorado, quem tem mais
chance de viver. As pessoas saem dos plantões destruídas.”.
Outro profissional de saúde contou que, desde que a
nova emergência foi aberta, todos os pacientes intubados morreram, ou seja: “Eles não têm o suporte de terapia intensiva
24 horas que deveriam receber.”.
A situação na nova emergência em tela se mostra
catastrófica, ao se perceber que, enquanto os médicos estão pedindo demissão, a
demanda aumenta, exatamente em razão da abertura da nova emergência, como
mostra o seguinte quadro de atendimento, em que, no primeiro dia de
funcionamento, em 12 horas, 27 pacientes deram entrada no setor, mas, no
segundo dia, mais 64 foram acolhidos e, no terceiro dia, foram atendidos 87
doentes, em 24 horas.
Conforme relatado por um profissional do setor: “Até que decidiram fechar a classificação de
risco e o atendimento está restrito a pacientes em risco de vida, mas quem faz
essa triagem é a recepcionista e o porteiro, que não têm qualquer preparo para
isso.”.
Ou seja, o quadro da saúde na referida emergência é
simplesmente caótico e lastimável, diante da única opção que, basicamente, é o
de encaminhamento do paciente à morte, considerando que não há a mínima possibilidade
do atendimento médico-hospitalar em condições de garantia de vida, ante as informações
de que muitos doentes são atendidos em estado de precariedade e insegurança,
evidentemente não condizentes com a dignidade medida que se espera de unidade
hospitalar, com a garantia, em princípio, da recuperação dos doentes, que
terminam, ao contrário, morrendo, o que é absolutamente inadmissível, precisando
que se responsabilize alguém para que providências saneadoras sejam adotadas.
Essa triste e sofrível situação por que passam os
hospitais e unidades de saúde é a realidade do abandono da saúde brasileira,
que cada vez mais se banaliza em terríveis mazelas e precariedades, transformando
o povo em algo sem valor, em verdadeira demonstração de desprezo à dignidade
que precisa ter o ser humano.
O pior de tudo isso é que o povo também não tem seu
grito de dor, alarme e reclamação ouvido pelas autoridades incumbidas do gerenciamento
dos recursos destinados aos hospitais e ao sistema de saúde pública, que recebem
muito dinheiro, mas é mal administrado e gerenciado Brasil afora, diante da
deficiência ou até mesmo da inexistência de controle e fiscalização necessários
à confirmação da efetividade da aplicação dos recursos nas verdadeiras finalidades
de saúde.
Urge
que os brasileiros não só repudiem, com veemência, esse horroroso e falimentar quadro
da saúde pública, mas também tenham a consciência de exigir que seus
representantes políticos se comprometam na defesa da transformação da saúde em
política prioritária de Estado, de modo que ela seja reestruturada e
modernizada com vistas a funcionar com eficiência e efetividade, onde os
recursos públicos sejam aplicados exclusivamente nas finalidades da melhoria da
saúde dos brasileiros, mas para tanto convém que haja os devidos controle e
fiscalização quanto aos gastos pertinentes. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 20 de março de 2018
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