O maior político brasileiro disse em entrevista a uma renomada
jornalista do jornal Folha de S. Paulo
que as denúncias formuladas contra ele na Operação Lava-Jato se fundam em
mentiras, tendo aproveitado para criticar a Justiça e afirmar que será
candidato à Presidência da República, nas próximas eleições.
Segundo o político, o juiz responsável pela força-tarefa da Lava-Jato, em
primeira instância, e os desembargadores da 8ª Turma do Tribunal Regional
Federal da 4ª Região (TRF-4), que confirmaram a sentença referente à condenação
de prisão aplicada a ele, pasmem, "mereciam
ser exonerados a bem do serviço público".
A
sua assertiva se baseia no fato de que, segundo ele "(...) houve mentira na
denúncia (feita pela) imprensa (que
revelou a existência do tríplex), no
inquérito da Polícia Federal, na acusação do Ministério Público Federal, na
sentença do Moro e na confirmação do TRF-4".
Embora
muita gente não acredite mais que ele possa ser candidato ao Palácio do
Planalto, após a condenação de prisão em segunda instância, o político garantiu
que espera "que o Supremo Tribunal
Federal (que deve julgar habeas corpus em que ele pede para não ser preso) analise o processo, veja os depoimentos, as
provas e tome uma decisão. Por isso, tenho a crença de que vou ser candidato".
O
ex-presidente também avaliou que a única unanimidade no Brasil, hoje, é a
torcida pela não-candidatura dele, tendo dito que "O Temer não quer, o Alckmin não quer, o Ciro não quer. Eles pensam:
'ele (o petista) vai para o segundo
turno e pode até ganhar no primeiro. Se ele não for candidato, em vez de uma
vaga no segundo turno, podemos disputar duas'. Aumenta a chance de todo mundo".
Ao
se referir ao Sítio de Atibaia, que segundo a força-tarefa da Operação Lava-Jato
seria usado pelo presidente e teria passado por reformas, feitas por
construtoras em troca de vantagens indevidas, o petista negou qualquer participação
no caso.
O
petista disse que "Primeiro disseram
que o sítio era meu. Aí descobriram que ele tem dono. Então mudaram (para
dizer que) me fizeram favor. Se fizeram,
não me pediram. Eu fiquei sabendo desse sítio no dia 15 de janeiro de 2011".
O
político também disse ser possível comandar o país e não ter conhecimento dos
esquemas de corrupção existentes no governo, alegando que "Você tem filho? Sabe o que ele está fazendo
agora? Quando você está na cozinha e ele no quarto, você sabe? Outro dia, vi o
caso de venda de sentenças em gabinetes de juízes. E eles foram inocentados
porque não eram obrigados a saber o que estavam fazendo do lado de sua sala.
Deixa eu te falar uma coisa: ninguém é colocado no governo para roubar. Ninguém
traz na testa 'eu sou ladrão'. Há um critério rigoroso de escolha (de
diretores de estatais). Muita gente pensa
que eu sou contra a Operação Lava-Jato. Eu tenho orgulho de pertencer a um
partido e a um governo que criou os mecanismos mais eficientes de combate à
lavagem de dinheiro e à corrupção nesse país".
A
sua análise do cenário político para as próximas eleições é no sentido de que
"pela direita, ninguém será presidente
sem o apoio dos tucanos. Pela esquerda, ninguém será presidente sem o PT. Eu,
se entendo um pouco de política, vou dizer uma coisa: a disputa deverá ser
outra vez entre tucanos e PT".
Em
resposta à pergunta da jornalista, se tinha medo de ser preso, o político negou,
tendo afirmado: "Sabe por que não
tenho medo? Porque eu tenho a consciência tão tranquila. Sabe do que eu tenho
medo de verdade? É se esses caras pudessem mostrar à minha bisneta, que fez um
ano no domingo, que o bisavô dela roubou um real. Isso realmente me mataria. Eu
estou preparado. Estou tranquilo. E tenho certeza de que vou ser absolvido e de
que não vou ser preso".
É
muito estranho se propugnar pela exoneração de servidores a bem do serviço
público, se as sentenças prolatadas por eles tiveram por base as robustas
provas constantes dos autos, onde certamente existem elementos suficientes para
respaldar a materialidade dos crimes cuja autoria é atribuída ao político,
quando se sabe que, sem a confirmação dos fatos denunciados, por meio das investigações,
nenhum juiz tem condições de condenar o réu, sob pena de praticar crime de
prevaricação, que pode implicar sanções desde advertência até a exoneração do
cargo.
Diante
das supracitadas colocações, tudo indica que o resultado das investigações simplesmente
deixou o petista divagando em pensamentos do tipo de que os errados e
mentirosos são os juízes que proferiram sentenças tão somente com base em
provas que não foram contestadas nem mesmo minimamente por ele, no sentido de
anulação do processo e punição aos julgadores, sob a alegada possível insuficiência
de provas.
Esse
fato só contribui para a confirmação da legitimidade das sentenças adotadas
pelos magistrados, até o memento, com a manutenção da unanimidade de pensamentos,
sempre convergindo pela culpabilidade de quem não se cansa de dizer que é
inocente, mas sua insistência só consegue convencer a si próprio e à fanatizada
militância, que ainda tem esperança de voltar ao poder para que a gestão da
coisa pública volte ao passado de tristeza e degeneração, açambarcada que fora
pelos lastimáveis esquemas de corrupção que infestaram com podridão a administração
do país.
O que se pode intuir é que o político se lamenta à exaustão
o fato de que as falcatruas que ocorreram na sua gestão, com a aceitação de
agrados de empreiteiras, conforme mostram os fatos levantadas, não têm sido interpretadas
pelos julgadores exatamente sob o mesmo prisma como ele as avalia, por imaginar
que tudo isso apenas faz parte do sistema político-administrativo e que é
normal, quando os fatos são pródigos em denunciar o mar de lama decorrente das
relações espúrias, que não condizem com os salutares princípios republicano e
democrático.
Não fica nada bem para o país a candidatura de quem se encontra
envolvido e implicado com a Justiça, já tendo sido condenado à prisão, por doze
anos e um mês, pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de
dinheiro, e ainda respondendo a mais seis processos como réu, igualmente com
graves denúncias de envolvimento em atos irregulares.
Convém que o político, ao invés de se atrever na
insistência de ser candidato à Presidência da República, à vista de as demandas
judiciais o impedirem de satisfazer a essência dos requisitos da Ficha Limpa,
consistentes basicamente na comprovação de idoneidade e conduta moral ilibada, se
digne, antes, desvencilhar-se dos casos nebulosos em tramitação na Justiça, de modo
a ter plenas condições de representar o povo sem qualquer mácula no seu currículo,
na forma democrática e republicana como fazem os homens públicos dos países
sérios, civilizados e evoluídos, em termos políticos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 1º de março de 2018
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