quarta-feira, 21 de março de 2018

O império da verdade?


No livro intitulado “A Verdade Vencerá”, da suposta autoria do maior político brasileiro, poderia ter inserido elementos de comprovação da verdade sobre os fatos denunciados à Justiça contra ele, que até já foi condenado à prisão, exatamente porque não conseguiu contestar e muito menos impugná-los.
O livro é composto tão somente com cenário e montagem de meras argumentações reiteradas nos últimos tempos, em evidente tentativa de repisar tudo o que já foi dito sobre perseguição política, com a ênfase própria do político para tentar sensibilizar os idólatras acerca da necessidade de transformá-lo em vítima.
O aludido livro incursiona em longas narrativas sob a forma de entrevistas, procurando mostrar a história de disparates que são bem representativos da realidade que foi transformada a vida dele, desde que se envolveu nas acusações sobre os fatos cuja autoria lhe é atribuída pelo Ministério Público Federal, placitada pela Justiça.
As narrativas tiveram o auxílio de dois famosos jornalistas petistas roxos, que o ajudaram na formatação de três depoimentos para a compactação de assuntos e fatos com compromisso exclusivo de se mostrar a realidade que melhor atende aos sentimentos destinados a desfazer os argumentos juridicamente robustos e plausíveis constantes dos autos referentes ao tríplex, para mostrar que o político, na versão dele, não teria cometido os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Não obstante, nas 216 páginas da obra, o político não apresenta fatos ou provas palpáveis capazes de contestar os diversos demonstrativos, documentos, depoimentos ou elementos juridicamente válidos pertinentes às denúncias aceitas pela Justiça, em relação aos desvios objeto de investigações no âmbito na Operação Lava-Jato.
Consta do livro, muitas bravatas e costumeiras frases de efeito, como a de que “Estou pronto para ser preso”, em clara contradição com os esperneios e veementes apelos feitos aos tribunais superiores, que não resultaram absolutamente em nada, tendo dito, mais recentemente, na Bahia, que não iria preso, por não ter cometido crime algum, dando a entender que ele estar pronto mesmo é para cometer desobediência civil, em péssimo exemplo como homem público que, além de ter a obrigação de prestar contas sobre seus atos na vida pública, precisa observar, com fidelidade, o regramento jurídico e as decisões emanadas da Justiça.
Embora tenha dito que esteja conformado com o cárcere, ou seja, “pronto para ser preso”, o político continua impávido sob o modelo de vítima, garantindo que tem esperança nos recursos que pretende recorrer às instâncias superiores, no caso o Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça.
Sem mencionar explicitamente as suas segundas intenções, o político disse: “O que não estou é preparado para a resistência armada. Como sou democrata, nem aprender a atirar eu aprendi. Então, isso está fora de cogitação”, insinuando, de forma maquiavélica, que não se descarta o uso de armas para defendê-lo, talvez imaginando o emprego do poderoso Exército do mandatário do Movimento dos Sem Terra.
Na ocasião, o político foi enfático em negar que esteja planejando se asilar em outro país, tendo afirmado que “Não vou me esconder em embaixada. A palavra fugir não existe no meu dicionário”, tendo garantido permanecer na sua casa, em São Bernardo do Campo, SP, esperando a ordem de prisão.
Embora essa não seja a sua verdadeira índole, o político fez-se de coitadinho, quando disse que desde que se curou do câncer, em 2012, “não tenho mais medo de nada”, tendo prometido que não vai liderar “nenhuma desobediência civil”, mas ponderou que “sua tropa pode fazê-lo sem que lhe exija sujar as mãos.”, dando a entender que não será surpresa se, diante da sua prisão, poderá haver reação de seus simpatizantes.
O político aproveitou o aludido livro para, não tendo argumentos consistentes para se defender das bem fundamentadas denúncias feitas à Justiça, até mesmo para mandar torpedo para o seu ex-ministro da Fazenda, que já foi seu principal colaborador e seu eventual sucessor, mas agora não passa de seu mais demolidor delator, ao tê-lo acusado, em juízo, que o ex-presidente fez pacto de sangue com a Odebrecht e recebeu, por isso, o valor de R$ 300 milhões em propinas dessa construtora,
O político fez avaliação sobre seu ex-ministro, nestes termos: “Eu tenho pena do Palocci. Ele diminui a figura dele fazendo o que fez. Ou ele não aguentou a prisão e quer liberdade ou ele tem dinheiro e está negociando uma parte. Eu lamento”.
Na realidade, o livro em comento é conjunto de lamentações, acusações e agressões, carente de elementos e argumentações de defesa com relação aos graves fatos que redundaram nas denúncias à Justiça, que se apresentam robustecidas da materialidade sobre a autoria dos crimes elencados contra a moralidade pública.
Vejam-se que algumas análises políticas, constantes do livro, resultaram em fortes críticas à presidente afastada do Palácio do Planalto, por crime de responsabilidade, quando o político disse que faltou empenho dela para evitar o impeachment, nestes termos: “Em todas as conversas que eu mantinha, as pessoas se queixavam 100% do Mercadante e 101% da Dilma. Cheguei ao ponto de dizer para a Dilma: ‘Olha, você vai passar para a história como a única presidente que nem os ministros te defenderam”.
Em outro trecho do livro, o político disse que, em 2014, depois da reeleição, a ex-presidente lhe pareceu pessoa “triste e inquieta”, tendo-se a sensação de que ela “não tinha gostado de ganhar”.
Diante das sucessivas derrotas sofridas pelo homem que ainda se considera inocente, apesar dos reveses na Justiça, com a sua prisão decretada pela primeira instância e confirmada pela segunda instância, com placar, neste último caso, unânime e de valor da mais alta consistência jurídica, diante das incontestáveis afirmações de que sobram provas sobre a materialidade da autoria dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, culminando com a negativa do habeas corpus pelo Superior Tribunal de Justiça, parecem brincadeira as argumentações constantes do livro “A Verdade Vencerá”, como se fosse coisa de criancinhas do jardim de infância.
Conquanto à luz da pretensão por parte do político de se mostrar algo novo que pudesse sensibilizar os brasileiros, com relação aos graves fatos denunciados à Justiça, é fora de dúvida que a referida obra literária não conseguirá mover absolutamente nada nesse sentido, porque a sua insipidez tem a capacidade de nada se alterar quanto à convicção de que ele precisa se conscientizar, com urgência, de que a Justiça o condenou à prisão com base em provas que confirmam a solidez dos fatos objeto das investigações pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, enquanto as argumentações produzidas por ele não passam em esforço de retóricas vazias e frágeis.
Certamente que a verdade sempre vencerá e é por isso que o político precisa se convencer de que, por ora, as suas tentativas de ganhar a demanda judicial na base da pressão, da intimidação, da agressão e do grito, nada disso será capaz nem suficiente para sensibilizar os magistrados, que julgam as ações com base exclusivamente em provas, elementos probantes e convicção fundamentada, à luz do ordenamento jurídico, os quais têm a menor possibilidade de aderência ao tráfego de influência e muito menos ao poder político, que somente funcionam nas republiquetas, onde a civilidade ainda desconhece a modernidade e os novos tempos dos avanços científicos e tecnológicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 21 de março de 2018

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