sexta-feira, 16 de março de 2018

A sonhada paz do Nobel


Em evidente demonstração de supremacia sobre os pobres mortais, com a vaidade e a celebração incontidas da própria imagem, o maior político brasileiro destilou um pouco de seu encanto com relação à indicação ao prêmio Nobel da Paz, versão de 2018, ao insinuar como se quisesse resposta imediata que “Não sei se mereço.”.
Contando com o apoio de membros do Parlamento do Mercosul, o nome do petista foi indicado pelo ativista e escultor argentino laureado com o prêmio em 1980.
O político, ao comentar a indicação de seu nome para tão expressivo prêmio, disse à Rádio Cultura de Foz de Iguaçu (PR), em misto tom de afirmação e incerteza, que “É sempre gratificante quando as pessoas lembram de gestos de solidariedade. Mas deve ter gente mais importante que eu no mundo para merecer isso”.
Na verdade, o primeiro passo foi dado, com a indicação do nome dele ao festejado prêmio de repercussão mundial, mas os indicados ainda precisam passar pelo rigoroso crivo do comitê da premiação, que mantém os nomes sob sigilo dos já arrolados 329 candidatos ao Nobel da Paz, cujo ganhador de tão cobiçada láurea será conhecido em outubro vindouro.
Certamente o comitê da premiação tem seus parâmetros de avaliação dos candidatos, que devem centrar, em essência, no próprio nome do prêmio, qual seja, a paz, no sentido estrito da palavra, que sugere, em princípio, a noção de disseminação, entre outros significados, de harmonia e concórdia entre os seres humanos.
Nesse aspecto, ao que se tem conhecimento, o político é famoso em incitar a guerra fraticida entre pobres e ricos, pretos e brancos, minorias e maiorias, além de outras disputas travadas entre classes sociais que objetivam a obtenção de dividendos políticos, cujas consequências e os estragos pouca importância têm senão para ele próprio, que teve ascensão política a começar das agitações por ele promovidas com relação aos operários metalúrgicos de São Bernardos contra seus patrões, em verdadeira guerra cujo histórico remonta
há décadas.   
Por outro franco, não pode se perder de memória que o político se encontra completamente implicado na Justiça, envolvido em graves denúncias acerca da prática de atos irregulares com recursos públicos, os quais têm a caracterização de crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa, tráfico de influência e obstrução de Justiça, já tendo sido julgado e condenado à prisão, por doze anos e um mês,  em um dos casos, pela prática dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, estando ainda respondendo na Justiça, como réu, a outros seis processos.
Avaliação preliminar e sumária sobre as condições éticas e morais do candidato ao Nobel da Paz, com histórico alarmante de denúncias aceitas pela Justiça, mesmo que venha a demonstrar a sua inculpabilidade quanto aos casos arrolados, não aconselharia que seu nome fosse sequer lembrado, quanto mais indicado do comitê, porque isso tem o condão de menosprezar a relevância do prêmio, haja vista que os requisitos exigidos sobrelevam a mínima possibilidade que a pessoa indicada tenha qualquer suspeita sobre a prática de atos ilícitos, na vida pública.
Tem toda pertinência a dúvida suscitada pelo próprio político, de que “Não sei se mereço”, que certamente ele a fez para colher o que ele esperava ouvir como resposta, de imediato: “Sim, você merece”, para satisfazer o seu ego, que não tem limites, em termos de vaidade.
O político precisa se conscientizar de que ele, no momento, diante do veredicto da Justiça, notadamente no caso já julgado do tríplex, é um homem que tem a obrigação de provar para a sociedade, na qualidade de pessoa pública, que os fatos cuja autoria lhe é atribuída não correspondem à verdade, mas isso precisa ser feito por meio de provas juridicamente válidas e não por meras falácias, que ainda tem quem lhe dê créditos, evidentemente por óbvias motivações.
Os brasileiros que anseiam por moralização da administração do país aguardam por que os fatos denunciados à Justiça sejam devidamente contestados e impugnados por ele, como forma capaz de, no futuro, o seu nome possa ser indicado, com os devidos méritos, ao tão almejado prêmio Nobel da Paz, que não pode ser conferido a quem não consegue sequer provar a licitude de seus atos na vida pública.
Com absoluta certeza, nos países com o mínimo de seriedade e evolução, em termos de bom senso e racionalidade, jamais se levaria adiante indicação dessa ordem, nas circunstâncias atuais, ante a incompatibilidade existente, no momento, entre as dificuldades morais apresentadas com relação ao nome sugerido e as exigências sobre os méritos que levam à concessão do prestigiado prêmio, à luz da importância para a verdadeira busca da paz universal.
Não se pode ignorar que, se fosse no passado, quando o político tropeçava em glórias e reconhecimentos mundiais, até se justificava indicação nesse sentido, evidentemente com ressalvas sobre sua inegável vocação de permanentes incentivo e incitação à guerra entre classes sociais, que tem sido a sua marca de sangue, como eterno líder sindicalista.
É importante se imaginar que o comitê da premiação precisa proceder à avaliação sobre os nomes indicados sob critério rigorosíssimo, sob pena de desmoralização da instituição que precisa valorizar não somente o laureado, mas principalmente o organismo responsável pela escolha da pessoa merecedora do Nobel da Paz, por sua vida de exemplos dignos de idoneidade e conduta moral imune a quaisquer suspeitas, além da comprovada luta pela paz, em todos os sentidos, que nunca tenha sido patrocinador do ódio e muito menos da guerra entre classes sociais, porque tal atitude é absolutamente incompatível com a precípua finalidade institucional de prêmio que tem por objetivo maior o reconhecimento da distinção, em nível mundial, e tem sido conferido a quem se sobressai por determinados trabalhos ou méritos de cunho em amplo reconhecimento de benefício para a humanidade.
Por certo, o político brasileiro poderia ter demonstrado nobel gesto de grandeza e humildade, como cidadão público, se tivesse reconhecido que, nas condições atuais, ele realmente não faz jus ao relevante prêmio Nobel da Paz, porque precisa primeiro se desvencilhar das pesadas, justas ou injustas, acusações sobre práticas de atos incompatíveis com a dignidade das atividades públicas, que também não condizem com os verdadeiros objetivos da expressiva e cobiçada premiação em apreço. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 16 de março de 2018

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