domingo, 4 de março de 2018

À procura da dignidade


Diante das incertezas quanto ao futuro do líder-mor do PT, o ex-governador da Bahia e ex-ministro da Casa Civil do último governo petista tinha as melhores condições para ser indicado como candidato do partido ao Palácio do Planalto, em lugar de seu maior cacique.
O aludido político gozava do prestígio da liderança petista, por ainda se manter fora das investigações que abrangiam basicamente a cúpula do partido, a começar do principal político da agremiação e que levaram seus principais líderes aos tribunais e às prisões, em razão da prática de atos de corrupção, conforme as denúncias de delatores à Operação Lava-Jato.
Não obstante, essa opção pode ter ido de morro abaixo, depois da deflagração da Operação Cartão Vermelho, realizada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, que investiga as despesas com a reforma, para a copa do Mundo, da Arena Fonte Nova, em Salvador, quando foram efetivadas buscas e apreensões em dependências de propriedade, entre outros, do possível substituto do todo-poderoso, sob a suspeita de esquema de fraude em licitações, superfaturamento, desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro.
Segundo o resultado das investigações, o superfaturamento na reforma do estádio teria atingido 190% acima do valor inicial, no importe estimado de R$ 684 milhões, que teriam sido destinados para o petista e outros membros de seu governo. 
A Polícia Federal informa que o petista teria recebido a cifra de R$ 82 milhões em doações eleitorais e propinas que ajudaram a financiar a campanha vitoriosa do atual governador da Bahia.
Como tem sido a praxe em casos que tais, o partido relembrou o velho e surrado mantra da “perseguição contra o partido”, dando a entender que estão errados aqueles que acusam os petistas, como aconteceu recentemente, em que o político-mor pediu a exoneração dos cargos dos juízes da Operação Lava-Jato, a bem do serviço público, como se eles tivessem praticado algo errado, contrário ao interesse público, em total inversão da verdade e dos princípios republicano e democrático.
A Polícia Federal esclareceu que o superfaturamento na reforma da Arena Fonte Nova teria sido forma de o então governador da Bahia quitar dívida, no valor de R$ 390 milhões, da Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento da Bahia (Cerb) com a Odebrecht.
Nessa operação de buscas e apreensões, entre outros elementos, também foram recolhidos da residência do petista coleção de 15 relógios de luxo, que se destinariam a agradar, em forma de presente caríssimo, aliados e amigos.
A propósito, um ex-executivo da Odebrecht declarou, em sua delação premiada, que havia presenteado o petista com relógio do valor de R$ 20 mil, no aniversário dele.
O político baiano alegou que os relógios são apenas réplicas, tendo afirmado: “Como eu fui algumas vezes à China, eu comprei alguns relógios de réplica”, mas é muito difícil de se acreditar nessa versão, quando se sabe do seu acurado gosto por relógios de marca.
É muito difícil os brasileiros acreditarem em alguém do cenário político, na atualidade, considerando que o principal político do país, com maior carisma entre os pobres - diante da sua aparente desinformação sobre a realidade do Brasil -, não consegue se desvencilhar das teias da Justiça, por já ter sido condenado à prisão, por mais de doze anos, pela prática de crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, além de ainda responder na Justiça, como réu, a seis processos, em razão de denúncias da possível prática dos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, organização criminosa e obstrução à Justiça.
Esse conjunto da obra leva à ilação de que, se ele estivesse em um país sério, civilizado e evoluído, em termos políticos e democráticos, sequer pensaria em ser candidato a cargo público, muito menos ao de príncipe da República, por se exigir do homem público a comprovação de idoneidade e reputação ética e moral, à luz dos princípios democráticos, que têm como rigoroso pressuposto a marca na sua fronte da imaculabilidade, ou seja, que não esteja com quaisquer implicações na Justiça, o que não é o caso do petista.
Apesar disso, o político, de forma inexplicável e injustificável, insiste em se candidatar, quando, à toda evidência, não consegue comprovar, na Justiça, a sua tão decantada inocência, que somente ele e seus devotados simpatizantes conseguem acreditar em meras falácias.
A verdade é que a materialidade da prática dos atos inquinados de irregulares serviram de base consistente para a formatação das sentenças condenatórias no caso do tríplex, sabendo-se que magistrado, por mais medíocre que possa ser, jamais teria coragem de aplicar pena de prisão a um ex-presidente, quando é notório que ele pode incorrer em crime de prevaricação se sentenciar senão com base nos elementos probantes existentes nos autos.
Por certo, esse fato não teria ocorrido nas sentenças já prolatadas na Operação Lava-Jato, porque os advogados do petista não levantaram uma pena de suspeita sobre a possível inexistência de provas nos autos, justamente na suposição de que os elementos constantes dos autos estão revestidos da robusteza tal que seria ingenuidade da sua parte se questionar, pela via judicial, a possível inexistência de provas, à vista inocuidade do seu resultado.
Para complicar ainda mais o processo político do partido que se diz o mais ético e moral do país, o eventual indicado para satisfazer o seu plano "B", ou seja, de possível futuro substituto do líder-mor, é suspeito do recebimento de propinas, fato que compromete de vez os planos da agremiação, diante da completa escassez de homens públicos no partido com conduta absolutamente imune à prática de corrupção.    
Esses fatos incompatíveis com as práticas políticas contribuem para que os brasileiros procurem se esforçar da melhorar forma de avaliação sobre os homens públicos, que precisam provar condições suficientes de dignidade capaz para representá-los politicamente, sob a luz dos salutares princípios republicano e democrático, não mais permitindo, diante disso, que a degeneração dos conceitos ético e moral continue incólume na administração do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 4 de março de 2018

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