Na história política brasileira, embora represente
verdadeiro atraso democrático, sempre foi considerado normal o apoio de governante
aos candidatos da sua preferência, mas nestas últimas eleições para prefeito,
houve exagerado e escancarado empenho da presidente da República em favor dos
seus afilhados, ao colocar a máquina pública a serviço do PT, para turbinar o
desempenho do seu partido nas localidades críticas e complicadas, a exemplo de
São Paulo, quando houve a substituição da ministra da Cultura para que a nova
titular se engajasse na campanha daquela cidade. A verdade é que a presidente
não resistiu ao compromisso inicial de não permitir o envolvimento dos
ministros no pleito eleitoral, como ela própria entrou de forma resoluta na
campanha, ao participar diretamente de vários comícios e gravar vídeos
promocionais para candidatos, na tentativa de ajudá-los e reverter resultados
pífios de correligionários e aliados. Foi mais do que notória a liberação dos
ministros e assessores palacianos para participar da agenda eleitoral, com o
objetivo descarado de pôr a máquina pública na campanha. O empenho do governo
foi constante durante os turnos, com a colocação dos cargos federais a serviço
das campanhas petistas e a promessa de apoio financeiro aos seus candidatos, além
de a própria presidente da República ter partido para o confronto direto com a
oposição, em evidente demonstração de desrespeito à liturgia do cargo que ocupa
e à própria democracia, que foi afrontada por quem não tem legitimidade,
repita-se, pelo exercício do cargo que ocupa, para participar de campanha
eleitoral estranha aos interesses do Poder Executivo, pedir votos para os
candidatos da base aliada e, o mais grave, atacar e menosprezar a oposição, ao deixar
evidenciado que somente os seus afilhados e aliados receberão tratamento
especial do governo federal, em forma de atendimento das necessidades do povo,
contrariando frontalmente os princípios constitucionais da nacionalidade e do
pacto federativo. Há que se lamentar e repelir a justificativa do PT, ao reagir
às críticas sobre o fato, alegando que a participação da presidente na campanha
eleitoral "obedeceu estritamente às
normas vigentes, ocorrendo sempre fora do horário de trabalho e com as despesas
sob a responsabilidade do PT", tendo em conta que a competência de
presidente da República não abrange a possibilidade de trabalhar em pleito
eleitoral senão no próprio interesse, em caso de reeleição, estando impedido,
por representar a federação, de participar de campanha para prefeito, sob pena
de ferir os princípios éticos e de decoro, quanto ao importante cargo que
ocupa. A sociedade tem o dever cívico de reagir contra esses deploráveis fatos
e não permitir que a promiscuidade política prejudique o desenvolvimento da
democracia, que não se aperfeiçoa com procedimentos contrários à nobreza dos
cargos ocupados pelos agentes públicos, como no caso em comento. Urge que a população
exija que os governantes exerçam seus cargos em consonância com a dignidade da sua
importância e em estrito cumprimento aos princípios éticos e morais, que se
esperam dos agentes públicos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de outubro de 2012
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