terça-feira, 23 de outubro de 2012

As imperdoáveis incongruências

O ex-presidente da República petista decidiu orientar os candidatos do PT nas eleições municipais sobre a necessidade de se "Discutir os problemas das cidades. Mas, se formos chamados de mensaleiros, não podemos deixar sem resposta. Vamos debater de cabeça erguida", ou seja, o uso eleitoral do julgamento do mensalão tem que merecer resposta, tendo aproveitado o ensejo para exaltar a atuação de seu governo no combate à corrupção e pediu que os petistas, em campanha, confrontassem seu trabalho com o do seu antecessor. O espírito do discurso do petista, pasmem, é o de "Ninguém vai negar que tem processo. Temos que responder às provocações". A posição agora adotada pelo líder petista demonstra com letras garrafais o poço profundo da insinceridade de quem, desde a descoberta do esquema do mensalão, sempre negou a sua existência, jurou nada saber sobre ele e ainda desdenhava daqueles que criticava a roubalheira no seu governo e a leniência com a impunidade dos companheiros corruptos, daqueles que se envolveram na sujeira infecta, para beneficiar o próprio ex-presidente, no seu projeto de perpetuação no poder, comprando a consciência de parlamentares, para fortalecimento da sua base de sustentação política. Não deixa de ser muito estranho que ele mande responder sobre algo que não existia, porque não se responde ao que não há para quem nunca teve a dignidade de reconhecer a robusteza das irregularidades no seu governo, que somente a nobreza e a decência da maioria dos ministros da Excelsa Corte de Justiça foram capazes de mostrar o fragoroso rombo causado pela quadrilha do mensalão aos cofres públicos, com a vergonhosa utilização de dinheiros de empresas estatais para a manutenção dessa lastimável rapinagem. Na verdade, a surpreendente atitude do ex-presidente apenas confirma a sua coerência quanto às constantes mudanças de posição, que são feitas em consonância com seus interesses, conforme as forças das circunstâncias e de acordo com o momento mais proveitoso para seus projetos políticos. Por sua vez, a ideia de confrontar seu governo com o do seu antecessor, quanto ao combate à corrupção, logo se chega à conclusão de que somente o estrago do mensalão, por si só, já evidencia que a sua gestão merece a coroa de rei de mais corrupto da história republicana, principalmente pelo fato de que, apesar de a gigantesca pilhagem, ninguém foi punido no seu governo, somente o seu chefe da Casa Civil resolveu se afastar do cargo por livre e espontânea vontade, por ter sido incluído no rolo compressor do mensalão. No seu governo, farto de ministros corruptos, nenhum foi punido e todos permaneceram nos seus cargos até se exonerarem, alguns, no atual governo. Em suma, seria mais digno e honroso para o ex-presidente dar a mão à palmatória, confessar as suas fraquezas, as suas deficiências gerenciais e assumir seus graves erros administrativos, pedindo desculpas à nação por ter sido despreparado para governar o país à altura da sua magnitude, incompetente na indicação de pessoas desonestas e corruptas para o exercício de cargos de relevância da República e conivente com a impunidade dos desonestos e aproveitadores das verbas públicas. A sociedade tem a obrigação cívica de somente acreditar em políticos honestos, cultores da verdade, respeitadores dos princípios éticos e morais e da pureza da consciência do povo brasileiro. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 22 de outubro de 2012

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