No jogo entre Internacional e Palmeiras, mais uma
vez o futebol brasileiro protagonizou temendo fiasco depois do empurrão da bola
com a mão para as redes, mas, de forma acertada, o gol não foi validado pelo
árbitro do certame. Diante disso, a confusão se tornou generalizada e a partida
ficou paralisada por quase seis minutos. Na súmula do jogo, consta não ter havido
“nada de anormal” durante a partida, embora o incidente tenha dominado o
noticiário esportivo sobre a última rodada do Brasileirão. Com base na divulgação
desse documento, a diretoria do Palmeiras, revoltada, decidiu impetrar pedido de
impugnação do jogo junto à Confederação Brasileira de Futebol, sob a alegação
de que o quarto árbitro teria recebido informações do delegado da partida, fato
que fere a regra 5 do regulamento do certame, segundo reclamação do setor
jurídico do clube. A diretoria do alviverde chegou ao extremo da
insensibilidade desportiva, ao defender a conversão em gol de uma jogada que
terminou com o arremesso da bola com a mão às redes, o que serviria para
incrementar ainda mais a indignidade do pobre quadro da arbitragem brasileira,
que tem sido protagonista de erros crassos no campeonato em curso. Como forma
de garantir a credibilidade do futebol, tão criticado pela falta de ética e de
moralidade da cartolagem, seria mais decente se o Palmeiras, mesmo no auge da
crise que acena para a possibilidade de rebaixamento do clube para a segunda
divisão, demonstrasse sensatez e espírito de justiça, ao reconhecer a
irregularidade da jogada que resultou o desvio da bola para junto às redes, conquanto
o lance revestiu-se de anormalidade. Agora, essa de se exigir a anulação da
partida, porque não foi validado o gol que teria sido irregular não passa de
tremenda cafajestagem e de indignidade por parte de quem é obrigado a conduzir
o desporto respeitando as boas e sadias condutas de honestidade, como forma de
prestar serviços em benefício da construção de uma sociedade que precisa
acreditar e confiar na grandeza e na dignidade dos cidadãos. É incrível como a honradez
resiste em participar do futebol brasileiro, como fica evidenciado no episódio
em comento, em que, visto-o sob o prisma da honestidade e da normalidade, seria
despiciendo a discussão da validade ou não de um gol feito com a mão, por não
ser cabível nas regras futebolísticas. A situação é tão crítica pelo fato de o
autor do suposto gol ter comemorado efusivamente algo inexistente e nulo de
pleno direito, justamente por ele ter a consciência de que o seu ato foi
irregular e condenável pela conduta ética do profissional, que exige
honestidade, sempre. No caso em foco, o que se deve questionar não é se o gol
não foi validado em virtude de interferência indevida, vinda extracampo, mesmo
que ela seja algo não prevista nas regras do esporte, mas sim se as normas
desportivas agasalhariam o absurdo de se legitimar um gol inexistente. Entre
uma coisa e outra, não resta a menor dúvida de que a decência e o bom-senso
devem prevalecer em benefício da moralidade no desporto. Não obstante, o
absurdo seria o recurso do Palmeiras ser provido pela Justiça Desportiva, porque
isso apenas se confirmaria a decadência, esculhambação e desmoralização do
futebol brasileiro, que não merece credibilidade diante de atitudes antidesportivas
e contrárias aos princípios éticos e morais.
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 29 de janeiro de 2012
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