sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A dor maior é da sociedade

Alguns jornalistas insistiram para que o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República concedesse entrevista sobre o que ele achava acerca da condenação parcial do ex-chefe da Casa Civil da PR e do então presidente do PT, por crime de corrupção ativa – oferecer vantagem indevida, mas ele se recusou o tempo todo, alegando que não se sentia bem, estava triste e "Estou muito sofrido. Aquela coisa do outro lado da rua dói muito". E concluiu: “A dor me impede de falar”. Ele se referia ao Supremo Tribunal Federal que fica do lado oposto do Palácio do Planalto e logo à sua frente. O resultado parcial até a última sessão tem o placar, para os dois réus, de três votos pela condenação e um voto pela absolvição no aludido subitem. A boa notícia para os petistas, como não poderia ser diferente, foi o substancioso e minudente voto do ministro-revisor, que, em esforço quase sobre-humano conseguiu se convencer que não há provas nos autos sobre os citados réus, com relação ao comando do esquema de pagamentos de propina a parlamentares da base aliada, em troca de apoio político ao governo de então. O citado voto termina por absolvê-los, embora tivesse condenado com a maior naturalidade e sem oferecer nenhuma resistência o ex-tesoureiro do PT, além de outros quatro réus, todos pelo crime de corrupção ativa. Na verdade, a dor é ainda maior e intensamente sentido pela sociedade, por perceber que não consta o nome do então presidente da República no rol dos réus do mensalão, tendo em vista que ele, em tese, era o principal interessado na criminosa compra de votos de parlamentares. Veja-se que, por coerência, os ministros da Suprema Corte entenderam que o tesoureiro, sozinho, não seria capaz de comandar e gerenciar o funcionamento do mensalão. Com isso, os dois chefões estão sendo punidos, exatamente por ficar mais do que comprovada nos autos a sua participação nas negociatas e no estabelecimento dos valores a serem repassados aos partidos políticos. Esse mesmo entendimento deveria tem sido aplicado, com igual ou maior acerto, com relação ao então presidente da República, pelo fato de que os dois chefões podem perfeitamente não ter sido beneficiários do esquema criminoso tanto quanto se aproveitou dele o mandatário do país. A sentida dor do ministro se estende aos brasileiros não pela punição parcial havida até agora, mas em especial pela falta de sanção ao principal agente do esquema criminoso do mensalão, cuja medida serviria de lição em grau bem maior caso o ex-presidente fosse sancionado pelos seus delitos contrários ao interesse da nação. A sociedade tem o dever cívico de se conscientizar sobre a urgente necessidade de extirpar os maus políticos da vida pública brasileira, como forma de purificar a gestão dos recursos públicos e de propiciar credibilidade e confiança ao sistema político-partidário do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 05 de outubro de 2012

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