Alguns jornalistas insistiram para que o ministro
da Secretaria Geral da Presidência da República concedesse entrevista sobre o
que ele achava acerca da condenação parcial do ex-chefe da Casa Civil da PR e
do então presidente do PT, por crime de corrupção ativa – oferecer vantagem indevida,
mas ele se recusou o tempo todo, alegando que não se sentia bem, estava triste
e "Estou muito sofrido. Aquela coisa
do outro lado da rua dói muito". E concluiu: “A dor me impede de falar”. Ele se referia ao Supremo Tribunal
Federal que fica do lado oposto do Palácio do Planalto e logo à sua frente. O
resultado parcial até a última sessão tem o placar, para os dois réus, de três
votos pela condenação e um voto pela absolvição no aludido subitem. A boa
notícia para os petistas, como não poderia ser diferente, foi o substancioso e
minudente voto do ministro-revisor, que, em esforço quase sobre-humano conseguiu
se convencer que não há provas nos autos sobre os citados réus, com relação ao comando
do esquema de pagamentos de propina a parlamentares da base aliada, em troca de
apoio político ao governo de então. O citado voto termina por absolvê-los,
embora tivesse condenado com a maior naturalidade e sem oferecer nenhuma
resistência o ex-tesoureiro do PT, além de outros quatro réus, todos pelo crime
de corrupção ativa. Na verdade, a dor é ainda maior e
intensamente sentido pela sociedade, por perceber que não consta o nome do
então presidente da República no rol dos réus do mensalão, tendo em vista que
ele, em tese, era o principal interessado na criminosa compra de votos de
parlamentares. Veja-se que, por coerência, os ministros da Suprema Corte
entenderam que o tesoureiro, sozinho, não seria capaz de comandar e gerenciar o
funcionamento do mensalão. Com isso, os dois chefões estão sendo punidos,
exatamente por ficar mais do que comprovada nos autos a sua participação nas
negociatas e no estabelecimento dos valores a serem repassados aos partidos
políticos. Esse mesmo entendimento deveria tem sido aplicado, com igual ou
maior acerto, com relação ao então presidente da República, pelo fato de que os
dois chefões podem perfeitamente não ter sido beneficiários do esquema
criminoso tanto quanto se aproveitou dele o mandatário do país. A sentida dor
do ministro se estende aos brasileiros não pela punição parcial havida até
agora, mas em especial pela falta de sanção ao principal agente do esquema
criminoso do mensalão, cuja medida serviria de lição em grau bem maior caso o
ex-presidente fosse sancionado pelos seus delitos contrários ao interesse da
nação. A sociedade tem o dever cívico de se conscientizar sobre a urgente
necessidade de extirpar os maus políticos da vida pública brasileira, como
forma de purificar a gestão dos recursos públicos e de propiciar credibilidade
e confiança ao sistema político-partidário do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 05 de outubro de 2012
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