quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Nem Papai Noel acreditaria

Após tantas condenações aplicadas ao operador do mensalão, por nada mais menos do que cinco crimes no julgamento do maior escândalo republicano, a sua defesa tenta demonstrar e convencer os ministros do Supremo Tribunal Federal de que os principais interessados na compra de apoio político no Congresso Nacional eram os ex-presidente da República e Partido dos Trabalhadores, conforme memorial de oito páginas enfatizando que o núcleo político da denúncia de corrupção “deslocou o foco” das investigações dos protagonistas do esquema, entre o ex-presidente, seus ministros e dirigentes do PT, para o empresário mineiro. Nas três ocasiões em que cita o ex-presidente no documento, o criminalista escreve o nome do petista em letras maiúsculas, dessa forma: “... relevantes seriam as condutas dos interessados no suporte político 'comprado' (Presidente LULA, seus Ministros e seu partido) e dos beneficiários financeiros (Partidos Políticos da base aliada), sendo o PT, Partido dos Trabalhadores, o verdadeiro intermediário do ‘mensalão’”. Para o advogado do operador do mensalão, o seu cliente foi transformado em peça principal do enredo político e jornalístico, cunhando-se na mídia a expressão ‘valerioduto’, com o objetivo de ser o único responsável por tudo de ruim que representa o mensalão e, dessa forma, ser condenado, por antecipação, em franco desrespeito ao princípio constitucional fundamental da dignidade da pessoa humana. O memorial tentava atenuar a severa punição ao operador do mensalão, pelo fato de ele ter colaborado com as investigações que descortinaram o indecente esquema da compra de votos, com o fornecimento da lista e dos documentos que permitiram ao Ministério Público oferecer denúncia contra 40 pessoas, em que pese a Corte Suprema ter sido bastante dura ao condená-lo por quatro dos cincos crimes dos quais ele havia sido denunciado. O homem agora acusado de ter sido o principal interessado na operação do famigerado mensalão é tão poderoso a ponto de se por em dúvida que nem Papai Noel acreditaria que o ex-presidente da República seria capaz de cometer atos tão desprezíveis e abjetos como os que foram denunciados no processo do mensalão, máxime pela identificação dos crimes de formação e operabilidade de quadrilha dentro do palácio presidencial, compra de votos de parlamentares, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, corrupção passiva e outros delitos capazes de manchar de forma indelével a dignidade do povo brasileiro. Imagina se o ex-presidente seria capaz de protagonizar atos de sujeira as mais rasteiras possíveis somente para se perenizar no poder e assim continuar praticando as cafajestices na política mais repugnáveis e depreciativas em menosprezo aos princípios da dignidade humana. Em que pese o esforço sobre-humano do Poder Judiciário não viabilizar punição ao maior culpado pelo esquema arquitetado da criminalidade nunca vista na história deste país, agora compete à sociedade, em última instância, sopesar o tamanho da maldade praticada contra a nação e aplicar a merecida pena aos políticos inescrupulosos e indiferentes aos interesses do povo, afastando-os da vida pública, como forma de se assegurar que a gestão dos recursos públicos seja promovida em estrita observância aos princípios da honestidade e da probidade. Acorda, Brasil!
 
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 24 de outubro de 2012

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