quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Crimes contra a humanidade

A Polícia Militar acaba de ocupar as favelas de Manguinhos, Varginha, Mandela e Jacarezinho, no Rio de Janeiro. O porta-voz da Corporação afirmou que a ocupação é uma continuação do trabalho que já estava sendo feito de forma estratégica e visa dar mais segurança aos bairros que ficam nas proximidades das áreas ocupadas. O Secretário de Segurança Pública do Estado disse que "Estava vendo hoje no Jacarezinho uma população livre para expressar o que quer, o que precisa e o que o pretende" e “Se Deus quiser a partir de hoje não teremos mais uma Faixa de Gaza”. No entendimento dessa autoridade, novas favelas deverão ser ocupadas: “Eu acho que com as ações que vem sendo desenvolvidas, é muito fácil o trabalho das pessoas de identificar aonde serão os próximos caminhos”. Desde a ocupação, uma força-tarefa da Prefeitura realiza serviços na comunidade, consistindo na iluminação pública, limpeza da área, com a retirada de aproximadamente 300 toneladas de lixo, e demais prestação de serviços da alçada do Estado. O Rio de Janeiro já conta 28 Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), que são a base do processo de pacificação iniciado pelo governo do estado há quatro anos, beneficiando cerca de 370 mil moradores. As ocupações militares das favelas cariocas refletem a falência do Estado quanto à proteção da sociedade, contrariando os ditames constitucional e legal, que asseguram o direito do cidadão, não somente da livre circulação, mas à prestação dos serviços públicos de qualidade, inclusive segurança pública, educação, saúde, saneamento básico e tudo o mais que o possibilite a viver com dignidade, em igualdade de condições com as pessoas que moram no centro da Cidade Maravilhosa, que por certo estão livres do jugo e das perversidades dos bandidos. O retrato das favelas depois da ocupação demonstra o verdadeiro estado de infernal abandono pelo qual o povo dali é obrigado a suportar, tendo que conviver com os delinquentes, que estabelecem as próprias regras imundas e as aplicam à comunidade, que não tem a quem reclamar. O mais lastimável desse fato vergonhoso é que as ocupações somente estão ocorrendo devido à proximidade da Copa do Mundo de Futebol, fazendo com que as favelas contíguas ao centro da cidade sejam assepsiadas dos bandidos do narcotráfico, que são tangidos para as localidades próximas, reforçando a delinquência já existente ali. As ocupações promovidas agora, depois de tanto tempo do domínio pelo crime organizado, sob o conhecimento e a inércia das autoridades públicas federal, estadual e municipal, confirmam a patente conivência do poder público com a delinquência deletéria e degradante do povo afetado. Nesse caso, as autoridades envolvidas já incorreram, entre outros, no crime de responsabilidade, não somente com relação às favelas ocupadas, mas especialmente quanto às outras ainda dominadas pelos narcotraficantes, em virtude da ausência da prestação dos serviços de competência do Estado, nessas áreas sitiadas pelos criminosos. Urge que os órgãos de controle e fiscalização cumpram sua competência constitucional de zelar pela dignidade da vida das pessoas, em consonância com o consagrado princípio dos direitos humanos, em defesa e benefício da sociedade, denunciando as autoridades públicas omissas e coniventes com o domínio das favelas pelos narcotraficantes e delinquentes do crime organizado. Acorda, Brasil!  
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 17 de outubro de 2012

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