sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Imperdoável desleixo do Estado

A questão concernente à ocupação de favelas no Rio de Janeiro reflete enorme demonstração do desapreço e menosprezo das autoridades públicas, acentuada com a sua evidente omissão quanto às medidas de combate ao crime organizado, que castiga de forma impiedosa e cruel o povo dessas localidades, em contraste de viver na eterna e belíssima cidade, em termos cultural e turístico, aliada à fama de ser hospitaleira e feliz. A ausência do Estado nas favelas permite que a criminalidade se fortaleça e mantenha as comunidades sitiadas, submersas ao seu jugo e administradas sob seu terrível controle, impedindo a prestação dos serviços básicos da competência constitucional do Estado, tais como educação, saúde, saneamento, limpeza pública, segurança pública e tantos outros atendimentos indispensáveis à socialização saudável. Há ainda quem tenha coragem de considerar essa pouca vergonha de ocupação como uma atitude muito bonita e corajosa por parte do Estado, deixando de enxergar que jamais as autoridades públicas poderiam permitir que as favelas fossem controladas pelos narcotraficantes, que expulsaram dali, de onde não deveria sair por hipótese alguma, o poder público, por ser o lídimo detentor do dever constitucional de amparar a sociedade na parte inerente à sua dignidade. Contudo, a degradação social e moral encontrada nas áreas ocupadas evidencia o total abandono das pessoas, que estão nesse estado deplorável há décadas, confirmando o quanto a desigualdade social e a corrupção são capazes de destruir comunidades inteiras, cujo povo tem prazer e se satisfaz em eleger governantes incompetentes e desqualificados para os cargos, que não têm condição de distinguir o real sofrimento daqueles que estão isolados e oprimidos, impotentes até para pedir socorro. Algumas favelas estão sendo ocupadas pelo Estado, não pelo reconhecimento da indignidade pelo domínio dos traficantes, mas, pasmem, em virtude de situação excepcional da proximidade da Copa do Mundo de Futebol, que obriga o oferecimento de maior grau de segurança nas imediações do centro da cidade e dos locais dos eventos, para que o turismo fique imune à violência, muito comum nas favelas dominadas pelos criminosos. Na verdade, trata-se de um processo de transformação denominado maquiagem de áreas específicas, enquanto as comunidades desassistidas, que continuam sendo invadidas pelos delinquentes e traficantes das drogas, recebem maior impacto com a recepção dos bandidos expulsos, ao serem acrescidos aos que lá já se encontravam, aumentando mais ainda o seu infinito sofrimento. Para os menos informados, o processo de ocupação funciona como verdadeira demonstração de competência do Estado, quando os salamaleques não passam da forma vergonhosa de empurrar o massacre social para locais mais distantes do grande centro da cidade, em atendimento às exigências externas, como demonstração de completa inversão de valores e de incompetência das autoridades públicas, que devem ser responsabilizados por seus crimes, principalmente na esfera penal, ante a sua conivência com o crime organizado e com a bandidagem. A sociedade tem o dever cívico e moral de condenar a inercia das autoridades públicas quanto ao domínio das favelas e demais áreas pelos narcotraficantes e exigir que os órgãos de controle sejam atuantes no que diz respeito à sua competência constitucional de cuidar pela integridade do cumprimento dos direitos humanos. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 25 de outubro de 2012

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