sábado, 6 de outubro de 2012

Vergonhosa coerência

Seguindo a sua habitual coerência no julgamento de réu filiado ao PT, o ministro revisor do mensalão votou pela absolvição do ex-ministro da Casa Civil da Presidência da República pelo crime de corrupção ativa - oferecer vantagem indevida –, por ter concluído com integral convicção sobre a inexistência de provas para condená-lo. Segundo o revisor, o Ministério Público foi incapaz de mostrar que o citado réu comandou o esquema de pagamento de propina a parlamentares, em troca de apoio ao governo do então presidente da República. Na sua avaliação, as acusações ao ex-ministro "são mais políticas do que só estritamente jurídicas". Com base nesse mesmo raciocínio de que os petistas são imaculados e imunes a erros, o ministro revisor também absolveu o então presidente do PT. Ele destacou que o Ministério Público restringiu-se a fazer meras suposições e não se deu ao trabalho de descrever ainda que minimamente as condutas delituosas que teriam sido praticadas pelo ex-chefe da Casa Civil. Para absolvê-lo, o revisor argumentou que as provas testemunhais são "torrenciais, avassaladoras" no sentido de desvinculá-lo de eventuais ilícitos praticadas pelo comando do partido, mas não descartou a possibilidade, em tese, de ele ter participado desses eventos, conforme mostram os dizeres e as ilações, porque as acusações do Ministério Público não têm "ressonância nos autos". O revisor também foi capaz de contrariar o entendimento do Supremo, com base em argumentos de vários ministros, de que as provas mostram que existiu esquema de compra de votos no Congresso, ao afirmar: “Essa tese de que houve compra de votos e coincidência de saques é tese. contraditada com outras provas que também se encontram nos autos. Não estou dizendo que não tenha havido compra de votos, estou dizendo que há provas para todos os gostos.”. As argumentações do revisor, em contestação às denúncias constantes dos autos são tão perfeitas que põem no chinelo a defesa dos advogados do réu, na tentativa de invalidar completamente os atos criminosos imputados ao ex-ministro. Na verdade, o relatório-voto do revisor é mais um libelo ao contrário, onde suas alegações soam como se o julgamento do ex-ministro se tratasse da maior afronta já praticada pelo Judiciário a um cidadão totalmente inimputável de sanção ou até mesmo de julgamento. O revisor apenas cometeu o pecado capital de não ter consignado no seu voto pedido de desculpas formais ao ex-ministro, pelo transtorno causado por sua indevida e injusta inclusão no rol dos quadrilheiros. Não obstante, o enorme esforço do revisor foi, de certa forma, arrefecido em seguida com os votos de dois ministros que, dignificando a sua atuação na Excelsa Corte de Justiça e tendo em conta a importância do julgamento das causas com base na farta comprovação das provas, acompanharam o relator, pela condenação dos aludidos réus. O magistrado que insiste em não querer enxergar a verdade real vai ficar em situação delicada diante da opinião pública, por contrariar o entendimento dos ministros sobre os mesmos fatos criminosos. Os nominados ministros disseram que estão com a consciência tranquila, por terem votado com decência e experiência de vida. Na verdade, eles estão dignificando a toga que vestem e a importância do cargo de ministro da Suprema Corte do país. No caso do revisor, houve demonstração de coerência com o seu pensamento quanto ao seu voto por gratidão, porém incompatível com o cargo que exerce. Com certeza, ele deve estar de alma lavada, por ter conseguido, juntamente com outro ministro, se convencer de que os líderes do PT são inocentes, que nada fizeram nem sabiam de nada errado. Pior para eles, que são obrigados a assistir, de corpo presente, à verdade sobre o maior escândalo protagonizado pelos membros do seu antético partido. Que vergonha!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 05 de outubro de 2012

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