segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Privatizar é preciso?

O governo defende com unhas e dentes o leilão do Campo de Libra, por reconhecer, segundo o ministro de Minas e Energia, que o seu resultado é de “fundamental importância para o Brasil, o povo, a saúde e a educação". Ele disse que o governo federal "não está privatizando o petróleo do pré-sal", e que a iniciativa vai permitir a "apropriação" do petróleo em águas profundas e, com isso, "apressar nossa capacidade para atender nossas necessidades internas". No momento, o governo enfrenta gigantesca desaprovação dos petroleiros e de boa parcela da sociedade, que não concordam com o certame. A situação atingiu alto nível de acirramento e de tensão entre o governo e os petroleiros. Diante disso, o governo decidiu convocar o Exército para proteger as imediações do local onde haverá o certame. Já os petroleiros demonstram total reprovação à privatização em causa e declararam greve da categoria, que já atinge de 90 a 100% das unidades operacionais da Petrobras. De acordo com o ministro, "O esquema de segurança corresponde ao interesse nacional envolvido na operação, que é crucial para o Brasil". Não há dúvida de que existe enorme dificuldade para se compreender as razões de Estado, quando ele é obrigado a decidir em nome do país. No caso da privatização em apreço, o que deve importar sobretudo é o interesse nacional, em se tratando que a exploração do petróleo que se objetiva não seria possível somente com recursos públicos, sendo necessária a transferência do patrimônio público para a iniciativa privada, que irá investir o suficiente para a obtenção do precioso produto que move o mundo. Diante disso, não deveria haver questionamento sobre o juízo de valor acerca das privatizações, que devem ser implementadas segundo as situações estratégicas estabelecidas pela administração do país. Entretanto, tem faltado transparência e informações para a sociedade, que não consegue avaliar se essas providências são realmente favoráveis ao interesse nacional e ao desenvolvimento do país, não importando, em qualquer caso, as ideologias programáticas de quem    quer que seja, uma vez que as causas da nação devem prevalecer sobre as ideias programáticas partidárias ou pessoais. No passado não muito distante, como juramento de campanha eleitoral, a então candidata à Presidente da República demonizava as privatizações feitas pelos tucanos, que se mostraram, à época, imprescindíveis para do país, tendo em conta as circunstâncias pelas quais elas aconteceram, absolutamente necessárias ao interesse nacional, diante das dificuldades financeiras que afetavam as empresas estatais, descapitalizadas, em estado quase falimentar e impossibilitadas de investirem nas respectivas áreas de atuação, a exemplo das telecomunicações, que tiveram salto de qualidade com os investimentos de recursos privados, após a sua desestatização. Agora, com a maior desfaçatez o governo vai privatizar parte do petróleo, justamente algo que representa a soberania nacional, conhecido como o ouro negro do país. Trata-se de mais um estelionato eleitoral, porque a candidata protestava com veemência contra as privatizações do governo da oposição, dando a entender que jamais cometeria tamanho pecado capital. Causa extrema estranheza se verificar que, embora autorizando privatizações do patrimônio público nos setores estratégicos de transportes, petróleos etc., o governo não tem a dignidade de assumir a realidade dos fatos, que são muito claros para a sociedade, mas ele prefere insistir em negá-la. É estranho que o governo nega as privatizações, apesar de admitir que elas sejam indispensáveis ao desenvolvimento do país, tanto que as faz, mesmo com denominações pomposas e diferentes de privatizações, talvez para não cair no ridículo de dar a mão à palmatória, à vista de não ter, na realidade, condições éticas de assumir que as áreas privatizáveis não seriam exploradas economicamente pelo Estado, exatamente por falta de recursos para os investimentos pertinentes. Urge que os governantes tenham a dignidade de administrar os negócios da nação com competência, transparência e eficiência, de modo que as decisões de Estado sejam adotadas em consonância com os interesses públicos, independentemente de ideologias partidárias ou pessoais. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 21 de outubro de 2013

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